Renato Moriconi e as mentiras que os livros contam
Dizem que a história do cinema é a história da mentira, de uma arte que cria guerras intergaláticas, heróis que salvam donzelas, gorilas que escalam prédios famosos e toda uma variedade de histórias que só existem para criar diferentes emoções nos espectadores. E que mesmo os documentários têm seu ar de ficção –afinal, é o diretor quem escolhe como contar a trama, posicionar a câmera, a seleção de perguntas das entrevistas.
Não por acaso é do cinema que nasce o último livro do autor e ilustrador Renato Moriconi, que adora brincar com verdades e mentiras na literatura. “Além da Montanha”, publicado pela editora Pulo do Gato, dá uma pista de suas brincadeiras logo no começo: com o verde do “chroma key”, técnica usada para sobrepor imagens e criar efeitos visuais na TV e na telona.
Dela, nasce a aventura, que fala sobre uma montanha escalada há tempos por uma noiva. Por causa disso, reza a lenda que a pessoa que conseguir subir até o cume será feliz no amor para o resto da vida. Ou será que, por ninguém conseguir escalá-la, a montanha é uma terra de maldições? Quem resolve descobrir é um destemido alfaiate, que encara o desafio e vê que o lugar não é santo nem amaldiçoado –aliás, ele nem descobre tantas coisas assim.
“A ideia era fazer o leitor ir acreditando numa história para depois mostrar que, na verdade, não era nada daquilo que ele estava pensando”, diz Moriconi, que alcança esse efeito nas palavras e nas imagens. A cada página, a ilustração da montanha se repete, como num filme de cinema. Mas os enquadramentos se modificam, o que ajuda a destruir e a construir o que o leitor vê.
Essa não é a primeira vez que Moriconi investiga a mentira. Outros títulos do autor, como o simpático “Bárbaro” (Companhia das Letrinhas; 2013), brincam de desfazer a história que estava sendo contada desde o início. “É como a vida. Você vê as coisas por um prisma, depois por outro. Parece que tudo muda, mas é a mesma narrativa.”
Para isso, nada melhor do que a ilustração. “As crianças têm uma leitura visual muito mais apurada que os adultos”, acredita. E, claro, o cinema. O livro polvilha referências de filmes famosos pelas páginas, de “King Kong” a “Táxi Driver”. Claro que muitas dessas insinuações as crianças acabam não pegando –assim como em “Bocejo” (Companhia das Letrinhas; 2012), outra obra do autor, em que muito provavelmente os leitores mais novos não percebam de cara algumas referências ao pintor espanhol Goya, por exemplo. “Gosto de complicar. A criança gosta desse jogo, de pesquisar.”
Autor Renato Moriconi
Editora Pulo do Gato
Preço R$ 44,70 (2016; 32 págs.)
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