Autora recria fábula do Patinho Feio com monstro cor-de-rosa; leia entrevista

Bruno Molinero

“Livros clássicos para crianças geralmente são machistas ou cheios de preconceitos e esteriótipos de gênero. Faltam histórias infantis que reflitam melhor a diversidade que existe hoje.”

Dois livros da autora e ilustradora espanhola Olga de Dios, 37, procuram resolver essa questão, que foi levantada por ela em entrevista para o blog. “Monstro Rosa” e “Pássaro Amarelo” acabam de ser lançados no Brasil pela Boitatá, o selo infantojuvenil da editora Boitempo.

O primeiro livro, lançado originalmente em 2013, ganhou prêmios na Espanha e na China ao contar a história de um monstro cor-de-rosa peludo que nasceu diferente de todos os demais membros de sua família. “É autobiográfico, reflete meu ativismo no respeito às diferenças”, diz a escritora.

Leia entrevista abaixo.

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FOLHA – Como falar de diversidade para crianças sem parecer didático ou ativista?

NOME Olga de Dios / IDADE 37 / LIVROS RECOMENDADOS ‘Monstro Rosa’, ‘Pássaro Amarelo’ (ed. Boitatá) / LIVRO FAVORITO NA INFÂNCIA série da Píppi Meialonga, da escritora sueca Astrid Lindgren

 

Olga de Dios – “Monstro Rosa” foi meu primeiro livro e meu trampolim para o mundo da literatura. É uma história autobiográfica, na medida em que reflete meu ativismo no respeito pelas diferenças. Queria explicar aos leitores a importância de uma sociedade mais rica e diversa. Mas, ao mesmo tempo, não quis fazer algo muito concreto, com o tema muito explícito. A ideia era atingir a temática universal.

Acho que, de alguma maneira, consegui. O ponto de partida do livro foi o da diversidade sexual. Sou lésbica e ativista. Mas a história começou a ser usada nas escolas para qualquer tipo de diversidade e em aulas para alunos especiais, por exemplo. Muita gente me disse que se sentiu um pouco o Monstro Rosa. E não só na Espanha, mas em países como China e Coreia.

 

O “Pássaro Amarelo” surgiu também com essa proposta?

Sim. No fim de “Monstro Rosa”, há vários personagens diferentes. Meus editores então perguntaram por que eu não preparava uma coleção, contando a história desses amigos. O segundo foi o Pássaro Amarelo, que não sabe voar e criou uma máquina para isso. Foi uma maneira que encontrei de falar sobre compartilhamento de informações, cultura livre e até Creative Commons, que considero muito importante.

 

A ideia é fazer cada livro com um tema diferente?

Ainda estou pensando nas histórias dos outros. Mas quero falar de temas como consumo responsável e ecologia, por exemplo.

 

Os dois livros, mas principalmente “Monstro Rosa”, se parecem muito com a história do Patinho Feio: um personagem que nasce diferente dos outros da sua família e sai em busca de seu lugar no mundo. O uso da mesma estrutura foi consciente?

Sim, até desenhei o Patinho Feio em uma das páginas de “Monstro Rosa” [risos]. Mas o livro tem uma diferença importante: o final. Não gosto nem um pouco do fim da fábula original, quando o Patinho Feio se transforma em um cisne maravilhoso e então vira as costas para os seus irmãos feios. O Monstro Rosa faz exatamente o contrário. Minha narrativa parte sempre do otimismo, nunca do ponto de vista do sofrimento, como geralmente acontece com os clássicos.

 

Esse otimismo se estende ao mundo em que vivemos?

Vivemos em uma crise de valores, cheios de problemas políticos. Mas temos que ter esperança e enfrentá-los. Sou uma pessoa otimista –os finais das minhas histórias são meu desejo de como gostaria de ver o futuro.

 

Outra referência sua parece ser o Maurice Sendak, de “Onde Vivem os Monstros”.

Acho que sim. Seus livros estão na minha estante, sempre ao alcance. Gostaria de ter um pouco da genialidade dele.

 

Em outra entrevista, disse que sua preocupação é de sempre produzir materiais de qualidade para crianças. Como avalia o mercado atual de livros infantojuvenis?

É muito amplo –tem coisas de baixíssima qualidade, mas também obras fantásticas. O que acontece muitas vezes é o destaques das livrarias e consequentemente do público ser a produção que tem mais poder de marketing, e não necessariamente a melhor do ponto de vista literário ou da ilustração. Mas há editoras pequenas e independentes fazendo coisas ótimas. E há histórias muito boas nas editoras grandes também.

Na Espanha, sinto que há de medo de arriscar. Por isso, compra-se muitos direitos e há um grande esforço de tradução de obras estrangeiras. Há poucos livros espanhóis contemporâneos para crianças sendo vendidos e conhecidos. A priori, ninguém sabia se minhas obras iriam vender ou dar certo.

 

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‘Monstro Rosa’ e ‘Pássaro Amarelo’

Autora e ilustradora Olga de Dios

Tradução Thaisa Burani

Editora Boitatá

Preço R$ 39 cada um (2016; 40 págs. cada um)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 


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