Aos 10 anos, Sophia lança livro e doa lucro para ajudar refugiados

Bruno Molinero

Tudo começou com a TV, no fim de 2015, quando a pernambucana Sophia Maia, 10, estava no sofá com a mãe. Na tela, as duas assistiam à cena de uma menina refugiada do Oriente Médio desembarcando na ilha de Lesbos, no litoral da Grécia. Ela tinha mais ou menos a idade de Sophia e um único dispositivo para não se afogar no mar: uma boia de plástico presa ao corpo, dessas que crianças costumam levar para a piscina ou para a praia.

Foi o pontapé inicial para um turbilhão de informações. Naquele exato instante, crianças e adultos estavam fugindo de seus países e chegando de barco à Europa. Na maior parte das vezes, viajavam escondidos por não terem permissão para a viagem. Vários acabaram se afogando pelo caminho, inclusive crianças –como o menino sírio Aylan Kurdi, de três anos (leia mais aqui).

Foi então que Sophia teve uma certeza: queria ajudar de algum jeito aquelas pessoas. “Primeiro, meus pais não me levaram muito a sério, porque eu queria ir para a Síria”, disse a menina ao blog. Ao se convencer de que era impossível ir ao Oriente Médio e oferecer ajuda pessoalmente, a garota encontrou uma saída: produzir desenhos, vendê-los e doar o lucro aos refugiados.

Surgia naquele momento o embrião do livro “Imaginário”, lançado na Bienal do Livro de São Paulo, que terminou no último domingo (4).

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Sophia (à dir.) com crianças refugiadas do Congo, na Bienal do Livro de São Paulo (foto: Gabriel de Moura)

“Desenho desde os três anos de idade. E nunca mais parei”, diz a menina, hoje aos dez. A primeira ilustração produzida para o projeto é a que abre este texto –a inspiração foi justamente a refugiada com a boia de brinquedo. Depois, vieram outros desenhos: uma família que viaja do Iraque à Alemanha, mulheres sírias, barcos de refugiados cruzando o mar, um barbeiro barbudo chamado Yousseff.

Antes de entrarem no livro, as 41 ilustrações originais fizeram parte de uma exposição em Recife (PE). No primeiro dia da mostra, que aconteceu em dezembro do ano passado, 38 trabalhos foram vendidos. No segundo, os restantes foram comercializados, o que fez com que Sophia arrecadasse R$ 8.000. O valor foi doado para a Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado), em São Paulo. Meses depois, a garota visitou a instituição, dançou frevo com crianças refugiadas e fez duas novas amigas: Jessy, do Congo, e Gawa, da Síria.

É para elas que o livro recém-lançado está dedicado. Além dos desenhos da exposição, ilustrações inéditas foram acrescentadas à obra, cujas páginas podem ser destacadas. Assim como no caso da mostra, o dinheiro arrecadado com a venda será direcionado à Adus –mas, dessa vez, para a sede de Curitiba, que foi inaugurada no primeiro semestre deste ano.

“Quando encontrei as meninas refugiadas em São Paulo, foi como se a gente já se conhecesse há muito tempo”, contou.

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Sophia com o livro ‘Imaginário’ (foto: Gabriel de Moura)

O livro pode ser adquirido diretamente na sede da Adus (av. São João, 313, 11º andar, São Paulo) ou pelo e-mail expoimaginario@gmail.comEmbora a obra tenha sido lançada há poucos dias, Sophia já mira o futuro e os novos planos. “Quero começar logo um projeto para ajudar crianças que nasceram com microcefalia. É um problema bem grande em Pernambuco.”

 

“Imaginário”

Autora Sophia Maia

Editora publicação independente

Preço R$ 50

Leitor iniciante

 


 

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