‘Não se fala sobre tristeza para crianças’, diz Odilon Moraes, que relança livros publicados na Cosac

Bruno Molinero

“A crise fez com que as editoras, principalmente as que publicam livros para crianças, repensassem a venda dos seus produtos. Antes, eles eram muito direcionados à escola –inclusive alguns temas de compras do governo estavam direcionando alguns catálogos, o que é péssimo. Agora as editoras precisarão pensar mais no livro que produzem para convencer não o governo a comprar, mas o leitor.”

Tentando fugir do clichê de que toda crise é também uma oportunidade, o autor e ilustrador Odilon Moraes diz que tenta ver algum lado positivo no momento que o mercado editorial está passando. Com o fechamento da Cosac Naify, em 2015, alguns de seus livros ficaram de uma hora para outra sem editora (a casa divulgou há poucas semanas que obras em estoque podem ser picotadas até o fim do ano, o que gerou revolta entre leitores). As três obras ilustradas autorais de Odilon que estavam na editora agora já têm novo lugar: serão publicados pela Jujuba.

“Pedro e Lua”, “A Princesinha Medrosa” e “O Presente” voltarão às livrarias nos próximos anos, mas não sozinhos –cada um será lançado na companhia de uma obra inédita, chegando às prateleiras de par em par. “Acho que não vai existir tão cedo uma editora como a Cosac. Cada livro surgia a partir de uma conversa muito íntima, eu sugeria o design, conversava com o produtor gráfico para decidir o tipo de papel, visitava a gráfica. Isso é algo muito difícil de acontecer em uma editora grande”, diz.

Previsto para março de 2017, o primeiro a ser relançado será “Pedro e Lua”, sobre a amizade entre um garoto fascinado pelo céu à noite e um jabuti que ele batiza de Lua. A história sairá junto ao inédito “Olavo” (ilustração acima), que também aborda um lado mais melancólico da infância.

“O livro ilustrado tem várias fontes de inspiração: uma imagem, uma frase. Vou colocando tudo em uma gaveta. Às vezes, eles se juntam e formam núcleos, que podem virar livros. Foi assim que surgiu a história do Olavo”, explica Odilon sobre o seu processo criativo.

Olavo é um menino triste que apareceu de dois fragmentos. “O primeiro foi um aforismo de Nietzsche que fala que o homem triste, quando recebe uma dose de felicidade, não está acostumado àquela sensação, que vira seu maior temor, por ter medo de perder aquilo que não lhe pertence. Anos depois, li um poema que dizia que muitas flores lutam para crescer, mas não conseguem. Mas aquela vontade de desabrochar pode povoar desertos.”

A partir daí, o autor criou a trama do menino que recebe um presente misterioso na porta de casa. Primeiro, ele sente alegria por não saber de onde aquilo veio. Mas depois tudo se inverte, ao achar aquele pacote não é para ele –tanto que não consegue nem abrir a surpresa.

“Existe uma dificuldade de falar sobre tristeza para crianças. No universo adulto, se você quer profundidade, precisa ser triste. Não existe espaço para a alegria, porque ela parece frivolidade. No mundo infantil, é o contrário. A tristeza deturpa a infância”, afirma.

A previsão é que sejam lançados dois livros por ano, um relançamento e um inédito. “Mas vai depender de como está o mercado, claro.”

 


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