Rogério Coelho, vencedor do Jabuti, ilustra livro com filho de 12 anos

Bruno Molinero

Diz um ditado meio brega que uma imagem vale mais do que mil palavras. É cafona, eu sei. Mas nesse caso pode ser verdade.

A tal da imagem é um desenho de um pai e de um filho sentados em um banco de praça, por exemplo. Ali, uma árvore de traços grossos e cor aquarelada divide espaço com flores angulares, com pinta de que foram finalizadas no computador. Passarinhos arredondados, saídos de algum caderno de criança, interagem com aves geométricas, saídas da técnica de alguém experiente.

Assim é o livro “O Dia de Ver meu Pai”, da editora Lê. Na história, algumas das ilustrações foram feitas por Pedro Coelho, 12, enquanto as demais saíram da ponta dos dedos de Rogério Coelho, 41, que venceu o prêmio Jabuti deste ano na categoria Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil. Os dois, pai e filho, viram no exercício silencioso do desenho suas relações familiares e profissionais se aproximarem pela ponta do lápis.

 

“O processo foi bem dinâmico. Eu pedia ilustrações para ele: árvores, pássaros, carros. E incorporava esses elementos aos meus desenhos. Outras vezes, criava toda uma cena a partir da ilustração do Pedro”, conta Rogério, que propôs para a editora dividir as imagens do livro com o filho. “Mas tive que negociar depois com ele, pagar direitinho. Não tem jeito, né?”, contou o ilustrador, bem humorado, em entrevista ao blog.

A história da obra ajuda essa interação. “O Dia de Ver meu Pai”, publicado pela primeira vez nos anos 1970, conta a vida de um menino cujos pais se separaram e não se veem mais –o que faz com que o garoto precise se dividir entre o dia a dia com a mãe e os finais de semana com o pai. Mas tudo sem pieguice ou caretice, mesmo tratando-se de um tema ainda pouco comentado há 40 anos no Brasil.

O resultado do trabalho de pai e filho para a história são cenas que misturam o traço duro do adulto com a imaginação e a leveza da criança, que potencializam o efeito da narrativa da autora Vivina de Assis Viana. “Esse livro foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, porque meu pai ia pedindo coisas e eu precisava dar um jeito de desenhar”, conta Pedro.

E o menino fala com propriedade. Em 2015, ele venceu o Salãozinho de Humor de Piracicaba. De 2014 a este ano, ilustrou a coluna Ideias…, da Folha, em que crianças eram convidadas a passar um mês como colunistas do jornal. “O Pedro é mais premiado e famoso do que eu”, brinca Rogério.

O ilustrador, que vive em Curitiba com a família, foi vencedor do prêmio Jabuti de 2016 com o livro “O Barco dos Sonhos”. Feito com uma narrativa visual de ilustrações marcantes e nenhuma palavra, o livro começa com um homem que coloca um desenho dentro de uma garrafa e a joga no mar. Misteriosamente, o papel é recebido pelo correio por um menino, que encontra o homem em uma cena que envolve um barco voador e o mistério da correspondência entre ambos.

“Levei sete anos para terminar a história. Teve vezes em que pensei em desistir, mudei a maneira de fazer a narrativa várias vezes. Demorei tanto para descobrir o que queria fazer que cheguei a perguntar para a editora se ela não queria deixar aquele projeto para lá”, diz. “Ele é um resumo do que aprendi nesse tempo todo.”

Além de vencer na categoria Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil, a obra foi finalista na categoria de melhor livro infantil do ano. Na categoria Ilustração, seu livro “Louco: Fuga” também foi finalista –a história adapta (e, de certa forma, recria) o simpático personagem maluco do cartunista Mauricio de Sousa.

Outro nome importante da literatura brasileira que colocou uma história nas mãos de Rogério foi o escritor Luis Fernando Verissimo. A Companhia das Letrinhas acaba de publicar “As Gêmeas de Moscou”, texto curtinho do gaúcho sobre duas irmãs bailarinas que acabam se separando por causa de uma tragédia no palco durante uma apresentação.

“Nunca imaginei que fosse ilustrar algo do Verissimo, porque ele também é cartunista. Sempre imaginei as histórias dele acompanhadas de cartuns, por causa do senso de humor. Minha praia é outra”, afirma Rogério. Mesmo assim, seus desenhos fazem o tom mais reflexivo da história saltar aos olhos e mostram um lado do escritor que muitas vezes pode passar batido –principalmente em um livro infantil.

Agora, ele se prepara para lançar “O Barco dos Sonhos” por uma editora dos Estados Unidos. Enquanto isso, Pedro aposta no mercado de ilustrações para canais do YouTube, para os quais cria banners e templates. “Chego a fazer três por dia”, diz o garoto, que já estuda como ganhar dinheiro com a nova empreitada. Trabalho em dupla, por enquanto, só se o pai criar um canal de vídeos e estiver precisando de uma forcinha na identidade visual.

 

“O Dia de Ver meu Pai”rogerio_coelho_714

Autora Vivina de Assis Viana

Ilustradores Rogério Coelho e Pedro Coelho

Editora

Preço R$ 35 (2016; 32 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

“O Barco dos Sonhos”capa_o barco dos sonhos-1

Autor Rogério Coelho

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2015; 84 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

“As Gêmeas de Moscou”download

Autor Luis Fernando Verissimo

Ilustrador Rogério Coelho

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 34,90 (2016; 32 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

“Louco: Fuga”louco-fuga-capa

Autor Rogério Coelho

Editora Panini Comics

Preço R$ 31, 90 (2015; 84 págs.)

Leitor intermediário

 


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