Neil Gaiman é o rei da esquisitice também para crianças
São poucos os escritores que conseguem fazer bons livros para adultos e também para crianças. Neil Gaiman é um deles.
O autor e roteirista de quadrinhos britânico tem o nome mais lembrado por suas histórias sombrias, que costumam deixar os olhos arregalados e o queixo caído –principalmente após o sucesso da HQ “Sandman”, mas também por romances como “Deuses Americanos” e “Stardust”, por exemplo. Só que Gaiman também consegue ser interessantíssimo (e, às vezes, divertidíssimo) para crianças.
Mas sempre meio malucão. Por exemplo, em um dos últimos títulos do autor lançados no Brasil, “Felizmente, o Leite”. A história traz um pai que vai ao mercado comprar uma garrafa de leite para seus filhos. No caminho, ele é abduzido por extraterrestres melequentos, encontra um dinossauro cientista dono de uma máquina do tempo, enfrenta piratas de séculos passados e tribos ancestrais (retratadas na ilustração de Skottie Young, que abre este texto).
Tudo numa narrativa cheia de idas e vindas para explicar por que o pai demorou “mil horas” para finalmente chegar com a garrafa que permitiria aos filhos comer o cereal no café da manhã. Aliás, a paternidade é tema constante nas obras infantojuvenis do autor.
Em “O Dia em que Troquei meu Pai por Dois Peixinhos Dourados”, uma das histórias mais interessantes e indicada para leitores mais novos, Gaiman conta como o personagem fez a transação do título: trocou o pai por dois peixinhos que ele queria muito, muito mesmo. Claro que a mãe não gosta nada do negócio e exige o marido de volta, o que vai ser bem complicado.
A relação familiar aparece também em “O Livro do Cemitério”, que, em 2009, recebeu um dos mais importante prêmios da literatura infantil no mundo: a Medalha Newbery. A obra faz referências a “Os Livros da Selva”, de Rudyard Kipling, protagonizado por Mogli, menino criado por lobos. Na história de Gaiman, um bebê foge do assassino de seus pais e engatinha até um cemitério, onde é adotado por fantasmas.
Outro dos livros que voltam ao tema é “Coraline”, com sua caótica relação familiar e pais com botões no lugar dos olhos –a história foi adaptada para o cinema em 2009, e, tanto livro quanto filme, ganharam diversos prêmios mundo afora.
Se “O Livro do Cemitério” traz um pouco de Mogli, “Coraline” é comparada a “Alice no País das Maravilhas”. Histórias clássicas e contos de fadas fazem sempre parte do imaginário do escritor, que gosta de brincar com essas referências. É o caso de “A Bela e a Adormecida”, em que mistura as aventuras de Bela Adormecida e Branca de Neve para criar uma trama sobre uma rainha que sai de seus domínios na companhia de três anões para investigar um fenômeno estranho: todo mundo do reino vizinho caiu no sono.
Toda essas histórias foram publicadas no Brasil pelos selos da editora Rocco, que lançou também em 2016 “Criaturas Fantásticas”. A coletânea não é para crianças, mas para adultos ou adolescentes interessados na obra de Gaiman, e traz 16 contos de diversos autores escolhidos pelo escritor. É uma boa maneira de entender o universo que ronda a sua mente –seja na hora de criar narrativas para crianças ou para adultos. Claro que um dos contos é do próprio Gaiman: o inédito “Pássaro do Sol”, escrito como presente de aniversário para sua filha Holly.
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Autor Neil Gaiman
Tradutor Edmo Suassuna
Ilustrador Skottie Young
Editora Rocco Jovens Leitores
Preço R$ 24, 50 (2016; 128 págs.)
Leitor intermediário
Autores vários (seleção de Neil Gaiman)
Tradutores Antônio Xerxenesky e Bruno Mattos
Editora Fantástica Rocco
Preço R$ 44,50 (2016; 400 págs.)
Leitor avançado
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