‘Crianças são gênios do surrealismo’; leia entrevista com Liniers, que lança livro infantil no Brasil

Bruno Molinero

Na edição de sábado (9) da “Ilustrada”, escrevi sobre o livro “Os Sábados São como um Grande Balão Vermelho”, primeira publicação infantil do argentino Liniers, que chega nesta semana às livrarias do Brasil pela editora V&R (quem perdeu pode ler o texto na íntegra aqui).

Conhecido principalmente pela série de tiras “Macanudo”, o cartunista cria na obra uma história em que duas irmãs não se abatem com a chuvarada em pleno sábado e decidem brincar ao ar livre, devidamente munidas de guarda-chuvas, capas e um jeito próprio e infantil de ver as intempéries –as do clima e também as da vida.

Liniers, 43, vive nos Estados Unidos desde 2016, onde participa de uma residência em Vermont, no Center for Cartoon Studies. Ele conversou com o blog por e-mail. Confira abaixo.

 

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Por que decidiu publicar um livro para crianças agora?

Liniers – Eu gosto muito dos livros infantis. É um erro subestimar a importância dessas obras, que são a base da arquitetura literária que teremos para os restos das nossas vidas. Quando crio um livro, meu interesse é gerar alguma emoção no leitor. No caso de uma criança, quero que essa emoção faça com que ela busque outro livro, tenha essa experiência com outro autor. E fazer com que ela leia para o resto de sua vida.

 

A história também tem uma relação muito próxima com suas filhas. Quantos anos elas têm hoje?  

Estão com nove, sete e quatro anos. Morar com elas é extremamente estimulante. É como conviver com gênios do surrealismo e da comédia. Com Chaplin, Buñuel e Grouxo. Nunca se sabe o que pode acontecer. Faço até algum esforço para não desenhá-las todo o tempo, mas às vezes não consigo evitar.

A infância é uma época da minha vida onde sempre existiu muita curiosidade –e acho que nunca a deixei completamente. Essa é uma qualidade presente em todos os artistas que conheço. A de ser nós mesmos, antes que a educação, a religião e a ideologia nos transformem.

 

Qual a diferença entre fazer um livro e criar tirinhas para jornal?

É uma questão de estrutura. As tiras são pensamentos aleatórios, com uma imediatez que força ao autor entregar-se mais à intuição –e, de vez em quando, ao retumbante fracasso. Tenho a ideia em um dia e, no seguinte, está reproduzida centenas de milhares de vezes no jornal. Já nos livros posso ser mais cuidadoso e pensar um pouco mais em cada aspecto da obra.

 

Como acredita que os leitores de ‘Macanudo’ receberão o livro infantil?

Eles geralmente têm uma ponte bem construída até a infância. Acho que vão se surpreender com a visão lúdica da vida. Existem livros que têm diversos níveis de leitura e que, dependendo do período da vida em que você decide lê-los, apresentam significados diferentes. Gostaria de pensar que isso acontece com os meus.

 

Quais autores infantis usou de referência para o livro?

Para mim, é importante que o autor não subestime a criança. O fato de enxergarem o mundo de um ponto de vista mais baixo não significa que elas sejam idiotas. Alguns autores conseguem isso e surpreendem sempre. Entre os que mais gostam de ler com as minhas filhas são Maurice Sendak, Mo Willems, Roald Dahl, Tove Jansson, Tomi Ungerer, Isol, Shel Silverstein.

 

“Os Sábados São como um Grande Balão Vermelho”

Autor Liniers

Tradutor Fabrício Valério

Editora V&R

Quanto R$ 34,90 (2017; 48 págs.)

Leitor Iniciante + leitura compartilhada

 


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