HQ inspirada em livro de assombrações de Gilberto Freyre dá toque brasileiro para o Dia das Bruxas

Bruno Molinero

E se, em vez de múmias, monstros e esqueletos, as crianças se vestissem de Papa Figo ou de Boca de Ouro na hora de pedir gostosuras ou travessuras?

Essas e outras criaturas nascidas em lendas urbanas do Brasil foram catalogadas por Gilberto Freyre (1900-1987), que é mais conhecido pelo livro “Casa Grande e Senzala” –mas que também teve seus dias de “caçador de fantasmas”. Sete causos macabros e assombrações da cidade do Recife levantados pelo sociólogo são apresentados agora como histórias em quadrinhos em “Algumas Assombrações do Recife Velho”.

Papa Figo, Boca de Ouro, Lobisomem, Visconde Encantado e outras criaturas, que são ou eram lendas urbanas, funcionam como avôs da Loira do Banheiro e aterrorizavam a capital pernambucana no século 19 e no início do 20. O primeiro roubava crianças para extrair o fígado delas. Boca de Ouro  caminhava pela boemia recifense como se fosse uma versão antiga dos atuais zumbis. Dizem que o Visconde ainda sobrevoa o rio Capiberibe com seu avião fantasma.

Ilustração do Boca da Noite (Divulgação)

 

Sete histórias compiladas por Freyre foram roteirizada e ilustradas, mas há várias outras. Em 1955, ele publicou o livro “Assombrações do Recife Velho”, que inspirou a nova HQ e que reúne 39 contos sobre assombrações pernambucanas. O livro surgiu de uma pesquisa ainda mais antiga. Em 1929, quando era diretor do jornal “A Província”, o sociólogo já tinha pedido para um dos repórteres reunir histórias sobrenaturais da cidade, que resultaram em uma série de matérias publicadas.

A nova edição tem a vantagem de conseguir transportar visualmente o leitor para a atmosfera da época. As ilustrações de Téo Pinheiro transitam entre um realismo documental, sobretudo nas vestimentas e na caracterização das cidades de um Brasil que havia recentemente se tornado república, e o impacto grafico típico das histórias em quadrinhos norte-americanas. Boca de Ouro fica parecendo um vilão do Batman. O diabo que encontra o barão tem um quê de Hellboy.

Mas, por outro lado, a adaptação das histórias acabam por sacrificar o estilo literário de Gilberto Freyre e por suprimir detalhes que ajudariam a entender melhor as histórias. Não sabemos, por exemplo, como nem por que o barão é perseguido pelo diabo. Ou quais doenças os fígados roubados pelo Papa Figo podem curar. Ou mesmo como surgiu e o que faz exatamente o Boca da Noite.

As HQs são aperitivos. Ajudam a fisgar quem não teve contato com o livro original, que segue como o verdadeiro prato principal.

 

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“Algumas Assombrações do Recife Velho” 

Autor Gilberto Freyre

Adaptação André Balaio e Roberto Beltrão

Ilustrador Téo Pinheiro

Editora Global

Preço R$ 49 (2017; 72 págs.)

Leitor intermediário

 


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