5 lições sobre a escola que aprendemos com Luis Fernando Verissimo

Bruno Molinero

Dois grupos existem hoje no mundo. E aqui não falo de destros e canhotos, dos que usam marcadores de páginas e os que dobram a pontinha da folha do livro ou da polêmica sobre a maneira certa de começar a comer uma coxinha: se pela ponta ou pela “bunda”.

Nada separa mais as pessoas do que a lembrança dos tempos da escola. De um lado, estão aqueles que se recordam desse período como uma época de correrias no pátio, bilhetinhos passados na surdina e atividades que foram estragadas pela vida adulta. Do outro, os que não sentem a mínima saudade das professoras dinossáuricas, dos chicletes grudados embaixo da mesa e do cheiro que saía do banheiro do pátio.

Nesse flá-flu de canetas coloridas versus mãos sujas de giz, a regra é clara: o juiz deveria ser Luis Fernando Verissimo. O escritor gaúcho, conhecido dos adultos principalmente por suas crônicas bem humoradas, tem também obras publicadas para crianças –uma delas, relançada recentemente pela Companhia das Letrinhas: “O Santinho”, que fez sucesso nos anos 1990 e fala justamente sobre causos do tempo de escola.

Composto por breves textos, o título dificilmente vai colocar um ponto final na questão. Mas, a partir dele, conseguimos tirar cinco ótimas lições. Seja para sobreviver às intermináveis aulas de geografia ou para aproveitar melhor a hora do recreio.

 

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  1. Não adianta ser bonzinho

Você pode até ter chegar cedo, fazer toda a lição de casa e nunca participar das bagunças. Mas esse bom comportamento nunca será o suficiente para convencer os mais desconfiados dos professores. Principalmente no caso da Dona Ilka, do conto “Santinho”, que dá nome à obra. Ela tinha tanto pé atrás com o narrador que o encheu de dúvidas ao chamá-lo de santinho do pau oco. “Os santinhos do pau oco passam a vida se questionando”, escreve Verissimo.

 

  1. Então faça bagunça

Se comportar-se bem não é uma opção, o jeito é botar para quebrar. Ainda mais depois do que descobriu Buscapé –na verdade, Otávio–, personagem de “A Descoberta”. O garoto era tão da pá virada que deixava de cabelos em pé os pais e a professora. Até que um dia sossegou de repente. Passou a devorar diversos livros, ficar o dia todo trancado no quarto. “É a mãe dele que… Bom, ela sente falta”, diz o pai. Do que exatamente? Da bagunça, é claro!

 

  1. Escolher é difícil

Tomar uma decisão baseada na vontade da maioria nem sempre é fácil. Seja para decidir algo em sala de aula ou para escolher o próximo presidente. Sobretudo se você é amigo do André. No texto “O Pleito”, o garoto participa com toda a classe de uma eleição imaginária para escolher o próximo governante –com candidatos pinçados na própria turma. Esperto, o menino resolve fazer boca de urna. E mostra a necessidade de regras no jogo democrático.

 

  1. O porteiro é seu melhor amigo

Nada de primos, namorados, “crushs”, conhecidos, vizinhos… O melhor amigo de qualquer adolescente é (ou deveria ser) o porteiro das festas e baladas. Afinal, só ele tem o poder de liberar –na faixa– garotas e garotos com grana curta para a diversão do dia. Na ausência de colegas nessa função, o conto “Conversa” determina: é bom ir treinando a lábia para enrolar os seguranças deste Brasil. Mesmo que você já tenha o ingresso da festa no bolso.

 

  1. Sem palavras complicadas

Um acampamento no meio do mato, com perigo de aparecer uma cobra, um vizinho irritado e uma inundação capaz de levar o carro da família. E, é claro, boas risadas. Assim é a redação do conto “Minhas Férias”. Como diz Ana Maria Machado no prefácio do livro, o texto tem graça principalmente porque é escrito do jeito que as palavras vêm à cabeça, “meio como quem fala”. E mostra que, para ser boa, uma narrativa não precisa de palavras difíceis, rebuscadas nem vestidas para ir à missa. 

 

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“O Santinho”

Autor Luis Fernando Verissimo

Ilustradora Luisa Moritz Kon

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 39,90 (2017, 104 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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