Jabuti recebe críticas por reunir livros infantis e juvenis em uma só categoria
As mudanças no prêmio Jabuti anunciadas nesta semana geraram críticas no universo do livro infantojuvenil.
Em linhas gerais, o prêmio sofrerá uma diminuição no número de vencedores, que passam a ser apenas um por categoria, em vez dos três eleitos tradicionalmente. Além disso, somente um título será escolhido como obra do ano, recebendo R$ 100 mil, em vez dos antigos R$ 35 mil.
Mas o que afetou diretamente a produção literária para crianças e adolescentes foi a diminuição do número de categorias, que passam a ser 18 em vez de 29. Assim, livros infantis e juvenis serão julgados e premiados juntos, competindo entre si. Outra mudança foi a extinção da categoria específica para ilustrações de obras para crianças, assim como a Digital Infantil.
“Agrupar literatura infantil e juvenil seria como, grosso modo, premiar em uma só categoria gêneros tão distintos quanto romance e poesia. Um leitor criança não alcança o que se escreve para um adolescente. A forma e o conteúdo são distintos. É quase como tentar misturar água e óleo”, acredita o escritor Tino Freitas.
Diferentes autores, editores e ilustradores criticaram as decisões da CBL (Câmara Brasileira do Livro), que organiza o prêmio. Além de verem uma aparente impossibilidade de julgar com critérios objetivos obras para crianças e adolescentes juntas, o sumiço do troféu específico para a ilustração foi visto como uma desvalorização do trabalho dos ilustradores.
Segundo a premiada Marilda Castanha, trata-se de um retrocesso para o próprio prêmio. “Desconsiderar a categoria de ilustração infantil é, de uma só vez, anular a imagem como narrativa, o ilustrador como autor e o livro como um objeto de diferentes linguagens.”
Apesar das reprovações, tanto Marilda quanto Tino acreditam que o impacto das alterações não será grande na produção de livros em si. “Não se publica para ganhar o Jabuti ou outro prêmio. Mais prejudica a interrupção de programas públicos de aquisição de livros, que atinge mais obras”, diz Tino.
OUTRO LADO
Questionada, a CBL afirma que a junção dos gêneros infantil e juvenil não ocorreu por questões orçamentárias, mas por uma mudança no comportamento de leitura dessas faixas etárias.
“Sem dúvida é possível fazer a avaliação em uma mesma categoria. É importante esclarecer que ela é feita por jurados profissionais e experientes que têm conhecimento sobre o tema e saberão julgar e atribuir notas considerando as características de cada obra. Os critérios de avaliação no regulamento são idênticos aos da edição passada, tanto para o infantil quanto para o juvenil. Isso demonstra que não há qualquer prejuízo para a avaliação”, afirma Luiz Armando Bagolin, curador da 60ª edição do Jabuti.
Sobre o fim da categoria específica para ilustrações de obras infantis, a CBL afirma que não houve uma extinção e que esses trabalhos continuam concorrendo ao Jabuti na categoria Ilustração. “Na nossa visão, a ilustração infantil está sendo valorizada. O fato de não ter mais uma categoria específica para ilustradores infantis não é sinal de desprestígio –ao contrário, a excelência desses profissionais faz com que suas obras possam ser competitivas dentro da categoria maior”, diz Bagolin.
Com o prêmio dividido em quatro eixos –Literatura, Ensaios, Livro e Inovação–, a categoria Ilustração ficará sob o guarda-chuva do Livro, que tem caráter mais técnico.
“A inclusão não tem por finalidade tratar a ilustração como uma funcionalidade ornamental ou desvalorizá-la. A razão tem sentido mais prático: a ilustração, dentro do eixo Livro, será avaliada na sua versão impressa, e não apenas em PDF, o que permitirá ao jurado fazer a avaliação em um contexto real e de forma mais adequada”, completa Bagolin.
A cerimônia para anunciar os vencedores ocorrerá no dia 8 de novembro.
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