Livros exploram a natureza com poesia, ciência e belas ilustrações

Não se falou em outra coisa nesta semana. A crise de abastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros em todo o Brasil causou filas em postos de gasolina, ruas e prateleiras de supermercados vazias e um caos que foi subdimensionado pelo governo. De acordo com associações do setor, até 90% das reservas de hotéis e pousadas para este feriado de Corpus Christi (31) chegaram a ser canceladas no litoral de São Paulo –sobretudo por causa de motoristas com medo de ficar sem gasolina.

Seja para alegrar um pouco a vida das crianças que tiveram o fim de semana na praia frustrado, seja para dar uma trégua no noticiário, o blog separou dois livros que travam um diálogo interessante e que podem ser alternativa de leitura para os próximos dias em casa.

O primeiro é “Chão de Peixes”, da autora e ilustradora Lúcia Hiratsuka. Composta por breves textos que trazem à mente o espírito e a beleza dos haicais, a edição é costurada por ilustrações que conversam com outra técnica oriental: o sumiê –pintura tradicional que equilibra traços precisos e suaves.

A escolha não é aleatória. No branco das páginas, pinceladas aquareladas de uma delicadeza que impressiona criam com poucos movimentos grilos que descansam sobre a folhagem, um cardume viajante, gatos misteriosos ou um exército de formigas. A leveza dos desenhos acaba extrapolando as imagens para invadir o texto.

Nele, a natureza recebe ares contemplativos, como se fosse fotografada por palavras. Um caracol vira o símbolo do sossego, enquanto uma paisagem bucólica com vacas é construída com apenas três linhas. Tudo é indicado, sem molduras precisas, lembrando uma aquarela.

Ilustração de ‘Pequeno Manual de Peixes Marinhos’ (Divulgação)

Proposta que é oposta à do recém-lançado “Pequeno Manual de Peixes Marinhos e Outras Maravilhas Aquáticas”, de Beatriz Chachamovits. Após uma breve explicação sobre os oceanos e a diversidade de vida neles, o livro se dedica a destrinchar espécies de peixes que vivem espalhadas pelo mundo.

De um lado, há a objetividade e a precisão da ciência. Nos textos, ficamos sabendo da morfologia desses animais, de suas preferências alimentares e das estratégias de sobrevivência –tudo em parágrafos curtos, informativos e acessíveis a leitores curiosos e ainda em formação.

Mas o título também esconde sua dose de poesia. Os nomes dos bichos, por exemplo, fazem cócegas na imaginação: peixe-borboleta, peixe-sapo, agulhão-bandeira, peixe-diabo-negro, peixe-porco… As espécies são ilustradas pela autora apenas em azul e branco, ora parecendo azulejos portugueses, ora lembrando a série “Onde Está Wally?”.

Isso porque em cada desenho esconde-se uma infinidade de outros seres vivos. Tartarugas, corais, lulas, invertebrados em geral e outros habitantes do mar se camuflam nos traços e ajudam a dar forma aos peixes. A brincadeira é encontrá-los e interagir com o livro –que ainda convida o leitor a pintar as ilustrações, desenhar seus próprios animais e descobrir qual dos peixes descritos não existe de verdade no fundo do mar.

Quando as linhas monocromáticas ou o excesso de ciência cansam, pode ser hora de voltar às cores e às metáforas de “Chão de Peixes”. E, como numa gangorra, depois voltar a mergulhar no “Pequeno Manual”, num jogo de encantamento com a natureza que passa longe da crise nos postos sem gasolina.

 

“Chão de Peixes”

Autora e ilustradora Lúcia Hiratsuka

Editora Pequena Zahar

Preço R$ 49,90 (2018, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

“Pequeno Manual de Peixes Marinhos e Outras Maravilhas Aquáticas”

Autora e ilustradora Beatriz Chachamovits

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 54,90 (2018, 40 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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