Em meio a Tribalistas, novo disco e filme, Arnaldo Antunes relança livro infantil
Arnaldo Antunes é um polvo que, desde o início da carreira, transita por áreas como música, literatura, artes plásticas, performance, vídeo.
Nas últimas semanas, sua agenda anotou o lançamento de um novo álbum –o rock meio samba de “RSTUVXZ”–, apresentações em São Paulo até o último domingo (8), a turnê que marca o retorno dos Tribalistas e a finalização de um documentário sobre a sua obra. Mesmo assim, há um braço livre. E ele acaba de relançar o livro infantil “Frases do Tomé aos Três Anos”.
Publicado originalmente em 2006 pela editora Alegoria, a obra ganha uma nova edição pela Iluminuras. Nela, o artista compila frases e pensamentos pinçados de seu filho mais novo, todas ilustradas pelo próprio Arnaldo.
“Quando o Tomé era pequeno, comecei a anotar algumas frases muito reveladoras que ele falava. Era um projeto pessoal, que mostrava a intimidade familiar e, ao mesmo tempo, esse princípio da poesia da infância”, diz o antigo integrante dos Titãs, que recebeu o blog em sua casa, na Vila Madalena, em São Paulo.
De fato, as frases coletadas são recheadas de insights poéticos e de olhares sem vícios sobre o mundo, como vemos abaixo:
os carros só morrem quando
eles param de andar
–
o tempo nunca acaba,
nem quando a gente morre
–
a cabeça é a parte
mais dura do corpo
“É um livro revelador. Lembro um poema do Oswald de Andrade que diz: ‘Aprendi com meu filho de dez anos / Que a poesia é a descoberta / Das coisas que eu nunca vi’. A criança repara em coisas que nós vemos sempre, mas, como temos um olhar mais acostumado, acabamos não notando. A poesia tem muito disso”, acredita.
Além de um formato mais horizontalizado em relação à primeira edição e um reposicionamento dos desenhos, o novo livro vem com um texto introdutório escrito por Arnaldo sobre a produção do livro a quatro mãos com Tomé, que tem hoje 16 anos.
Parceria que não é novidade. Nas paredes de sua casa, por exemplo, estão expostos diferentes desenhos feitos com os quatro filhos. “As Coisas”, obra lançada em 1992, foi ilustrada pela filha mais velha, Rosa, quando ela era criança.
“Sempre gostei de desenhar, mas nunca achei que devesse fazer um trabalho nessa área. Dentro das artes visuais, procurei a poesia visual e explorar na literatura suportes que vão além do livro, como colagem, vídeo, caligrafia, instalação, enfim. Tenho o desejo de a palavra me levar a outros lugares. Seja para a canção, seja para o poema visual.”
Mas também para figurinos e cenários, cujas confecções foram acompanhadas de perto por Arnaldo na turnê do novo disco. “Juntou tudo nesse mesmo tempo agora”, diz.
O que não é um problema. Afinal, como nos lembra Tomé:
se o tempo ia parar de passar
o mundo ia parar de rodar, né?
“Frases de Tomé aos Três Anos”
Autor e ilustrador Arnaldo Antunes
Editora Iluminuras
Preço R$ 44 (2018, 80 págs.)
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