Único livro infantil de James Baldwin é relançado nos EUA
Depois de um mês de descanso, o blog volta das férias com uma notícia importante para o mundo da literatura infantojuvenil: o único livro para crianças do escritor e ativista americano James Baldwin acaba de ganhar uma nova edição nos Estados Unidos.
“Little Man, Little Man”, publicado originalmente em 1976, estava longe das livrarias há décadas –o que fez edições originais em bom estado serem vendidas na internet por até US$ 900 (cerca de R$ 3.650). Com forte traço experimental e tratando de temáticas duras com tom quase enigmático, a obra é daquelas que conseguem se equilibrar com habilidade entre a literatura infantil e a produção para adultos.
Na história, o garoto TJ passa os dias ouvindo música, jogando bola e brincando com os amigos em um bairro perigoso dos Estados Unidos. Violência policial, uso de drogas e alcoolismo aparecem nas linhas e entrelinhas. Tudo com uma criança negra como protagonista.
“Quando saiu [a primeira edição], as pessoas não estavam preparadas, mas agora estão”, disse Aisha Karefa-Smart, sobrinha de Baldwin, ao The New York Times –o jornal publicou na última semana uma resenha da obra. “A voz do meu tio, sua capacidade de falar sobre os desafios que muitos de nós enfrentamos nos Estados Unidos em relação à questão racial, voltou à consciência do país”, completou Aisha, que escreve um posfácio na nova edição, que sai pela Duke University Press.
O autor, porém, teria feito o livro para outro sobrinho, Tejan Karefa-Smart, utilizando a própria memória como fio condutor. Baldwin estava morando na França na época, onde foi viver depois de ter se desiludido com o racismo em seu país.
Para ilustrar a história, o escolhido foi o francês Yoran Cazac –que até então nunca tinha pisado nos Estados Unidos. O resultado da parceria são aquarelas que transformam a região do Harlem, em Nova York, quase num sonho colorido, mas permeado de elementos assustadores prontos para transformarem tudo em pesadelo.
“Devo dizer que fiquei muito assustado ao tentar escrever uma história infantil, porque, em primeiro lugar, acho que crianças se opõem a serem chamadas de crianças”, disse o autor, em 1979, em uma fala para estudantes. “O que tentei fazer foi me colocar dentro das mentes delas, tentando lembrar como eu era quando criança.”
O relançamento de “Little Man, Little Man” ocorre em um momento em que a obra de Baldwin está em evidência. Além de outras reedições, o documentário de Raoul Peck “Eu Não Sou Seu Negro”, inspirado em entrevistas e manuscritos inacabados do autor, foi indicado ao Oscar no ano passado. Já Barry Jenkins, que dirigiu o premiado “Moonlight” (vencedor do Oscar de melhor filme no mesmo ano), está adaptando para as telas o livro “If Beale Street Could Talk”, com previsão de lançamento para ainda neste ano.
Agora é torcer para que “Little Man, Little Man” chegue logo por aqui também.
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