Lançamentos de Odilon Moraes são para crianças, adultos e vice-versa

Livro ilustrado é coisa de criança?

Não necessariamente, diz o autor e ilustrador Odilon Moraes. “O livro ilustrado propõe outro modo de ler, não necessariamente vinculado ao universo infantil. É uma escrita híbrida, muito ligada à poesia. Acho que são narrativas para crianças, sim, mas acho também que os bons livros ilustrados têm uma alta complexidade que pode tocar adultos sensíveis.”

Autor de obras que já se tornaram clássicas, como “Pedro e Lua” e “A Princesinha Medrosa”, Odilon é hoje um dos principais nomes do assunto. E lançou neste ano uma série de livros que apresentam e aprofundam essa sua maneira de criar narrativas (no ano passado, escrevi sobre o seu livro “Rosa”, leia aqui).

Para ele, o texto e a imagem nunca existem sozinhos. Estão constantemente interligados, como se conversassem e forçassem o leitor a observar essa interação para absorver a história –tornando impossível entendê-la completamente apenas com as as letras ou exclusivamente com os desenhos.

Abaixo, estão sete exemplos. Todos lançados para o público infantojuvenil. Ou não.

“O livro ilustrado pode ter uma profundidade temática e, ao mesmo tempo, ter um texto simples que pode pegar qualquer público. É como os quadrinhos. Hoje ninguém mais fala que HQ é coisa de criança ou adolescente”, diz.

Retrato de Odilon Moraes (Divulgação)

 

TRILOGIA CRUA

Crus, ásperos e sem uma redenção no fim. Assim são grande parte dos livros do mineiro Wander Piroli (1931-2006), ainda pouco conhecidos, discutidos e disponíveis nas livrarias. Mas três deles agora podem ser debatidos entre crianças –e adultos. Uma trilogia de contos, todos costurados pelos fios da morte, foram ilustrados por Odilon Moraes e lançados recentemente pela editora Sesi-SP.

“O Matador”, que já teve uma edição anterior da Cosac Naify, apresenta um menino que sonha em assassinar um passarinho. A busca pela morte do bicho ocorre em uma sequência visual verde que vai desembocando em vermelho sangue. Já “Os Dois Irmãos” traz ilustrações espelhadas, como se fossem os pontos de vista de cada um dos personagens, deixando a dúvida: são crianças ou duas aves? Por fim, “Nem Filho Educa Pai” condensa o conflito entre um garoto e a família que deseja matar um cabrito no Natal.

As três narrativas são áridas, distantes da ideia de que livro infantil deve ser confortável ou ter final feliz. Mas é justamente daí que nasce a poesia –tanto a dos textos quanto a das ilustrações.

 

“O Matador”, “Os Dois Irmãos” e “Nem Filho Educa Pai”

Autor Wander Piroli

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Sesi-SP

Preços R$ 36 (“O Matador” e “Os Dois Irmãos”; 2018, 32 págs. cada um); R$ 44 (“Nem Filho Educa Pai”; 2018, 64 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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TRISTEZA NÃO TEM FIM?

Mais ou menos como diz a música de Caetano Veloso, Olavo está triste tão triste, está muito triste. Na verdade, não está –o garoto é triste. Mas isso parece mudar quando surge um embrulho misterioso e inesperado à sua porta.

“Olavo”, livro autoral de Odilon Moraes lançado pela Jujuba (editora que relançou no ano passado “Pedro e Lua” e “A Princesinha Medrosa”), faz a lição de casa da literatura ao escancarar o que há de mais humano: tristeza, alegria, medo, generosidade, surpresa, esperança. Tudo com uma narrativa que une com perfeição o texto e a parte visual.

Tanto que a alegria de Olavo não está representada apenas pelo fato de ele ser presenteado por um desconhecido –felicidade que logo se transforma em agonia e dúvida: será que a caixa misteriosa é mesmo para ele? O sentimento de excitação tem também o seu lado visual, sobretudo em uma cor. Fugindo do tom sépia que inunda as páginas, o tom está a todo instante à espreita do personagem pelas cenas. Como se perguntasse: será que os bons sentimentos também estão nos vigiando constantemente?

 

“Olavo”

Autor Odilon Moraes

Editora Jujuba

Preço R$ 42 (2018, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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VAMOS BRINCAR

É comum diversos textos e músicas para crianças nascerem de repetições e acúmulos. É o caso de “o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar”, por exemplo. Mas também de tantos outros. Odilon Moraes e Carolina Moreyra fazem mais ou menos isso em “Lulu e o Urso”, da Pequena Zahar. A diferença é os autores, nesse caso, introduzem a imagem na brincadeira.

Na narrativa, a personagem enche a mãe de perguntas enquanto ela trabalha. Cavucando uma caixa repleta de coisas, a garotinha questiona como uma metralhadora: o que é isso? Um casaco? Um ursinho? Um botão? Enquanto os olhos ocupados da mãe mal saem da tela do computador.

Mas pouco importa. Ao virar a página, os objetos ganham vida e vão se acumulando. Primeiro, aparece um urso. Depois, ele veste um casaco. Até que, de repente, o bicho está de óculos, com uma flor no cabelo, sentado em uma gangorra. E a menina? Bom, ela sempre tem a imaginação ao seu lado.

 

“Lulu e o Urso”

Autores Carolina Moreyra e Odilon Moraes

Editora Pequena Zahar

Preço R$ 49,90 (2018, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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CASAMENTO FEITO

“Será que vai ter casamento?”, pergunta um dos personagens do livro “Casa de Passarinho”, parceria de Ana Rosa Costa e Odilon Moraes publicada pela editora Positivo. No caso da história, só lendo para descobrir. Mas, quando se trata da obra como um todo, ela nasce de um verdadeiro matrimônio entre texto e imagem.

A narrativa só fica completa quando palavras e ilustrações caminham lado a lado, ao mostrar dois garotos que observam passarinhos produzindo um ninho em uma árvore. Enquanto eles fazem perguntas e imaginam possibilidades, Odilon criaas cenas em dois tempos. Em uma, a visão é documental, com duas aves batendo asas em cima do galho. Em outra, porém, os animais ganham corpos humanos com cabeça e bico de bicho. E aproveitam a condição de pessoa para ver televisão, escovar os dentes, comer à mesa…

O mesmo casamento surge em “Bichos da Noite”. Dessa vez, o ilustrador dá formas a um poema de Mariana Ianelli e cria uma narrativa visual própria.

Enquanto os versos falam de cobras que desenrolam feito cordas ou de aranhas em trajes de festa, os desenhos fazem o leitor entrar vagarosamente em uma casa, topar com bichos gigantes que tomam os cômodos, subir por uma escada recheada de patas de polvo e, finalmente, chegar à porta do quarto de uma criança. Quem será que vai abri-la?

 

“Casa de Passarinho” e “Bichos da Noite”

Autoras Ana Rosa Costa (“Casa de Passarinho”) e Mariana Ianelli (“Bichos da Noite”)

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Positivo

Preço R$ 43,90 cada um (2018, 40 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 


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