Em ano de crise, editora brasileira investe em livros da África
A língua até pode ser a mesma. Mas histórias criadas em Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros países da África dificilmente conseguem atravessar o Atlântico e chegar vivas ao Brasil.
Desde o ano passado, a editora Kapulana quer mudar isso e propõe se tornar uma espécie de ponte entre os dois continentes. Até o fim do ano, ela terá em seu catálogo sete livros infantis africanos escritos em língua portuguesa –seis de Moçambique e um de Angola, todos de autores contemporâneos.
“Começou a me incomodar ver tanta produção literária para crianças na África e isso não chegar aqui. O pouco que é publicado é para adultos e feito por escritores já consagrados, como Mia Couto. Mas a quantidade de lançamentos é muito maior”, diz Rosana Morais Weg, editora da Kapulana, que morou em Moçambique na década de 1980, onde começou a ter contato com a literatura do lugar.
Após alguns anos publicando livros científicos sob demanda e infantojuvenis bilíngues, a editora lançou em 2015 a primeira história africana: “Kalimba”, da angolana Maria Celestina Fernandes. Foi só o pontapé inicial. Depois, adquiriu os direitos para comercializar no Brasil dez obras preparadas por escritores e ilustradores moçambicanos, em que recontam histórias tradicionais da cultura oral do país. Da série, saíram “As Armadilhas da Floresta” e “Rei Mocho” (leia entrevista com o autor).
Agora, acabam de publicar no Brasil “O Jovem Caçador e a Velha Dentuça”, do moçambicano Lucílio Manjate. O livro é inédito e foi feito exclusivamente para a Kapulana. A ilustração que abre este texto, de Brunna Mancuso, faz parte da obra.
Como o português desses países têm algumas diferenças em relação ao que é falado no Brasil, os textos são adaptados ortograficamente para não causar estranhamentos ao leitor daqui.
CRISE
A editora lança os seus livros no meio de uma das piores crises do mercado editoral brasileiro. As vendas do setor tiveram a pior queda desde 2002, encolhendo 12,6% em 2015 e com números neste ano nem um pouco mais animadores. Tanto que a Bienal do Livro de São Paulo apostará em promoções e em youtubers para tentar manter o volume de vendas.
As editoras maiores, que colocaram todas as fichas nos livros de colorir no ano passado, tentam agora equilibrar as contas com obras escritas justamente por esses youtubers mais badalados do país.
Mas, como em qualquer crise, são as empresas menores que têm as maiores chances de transformar o período ruim em oportunidade de inovar. É no que aposta a Kapulana. “A editora ainda não se sustenta economicamente, estamos na fase de investimento. Esperamos começar a ter retorno neste ano”, diz Weg.
Uma das apostas para que isso se concretize é a lei 10.639, sancionada em 2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas do país. “Por um lado, isso foi maravilhoso. Mas os professores ainda não sabem trabalhar o tema em sala de aula. O tom ainda é o do exótico.”
Leia aqui entrevista com a escritora Silvana Salerno, que lançou em 2015 livro sobre o continente africano e falou sobre o impacto da lei.
“O Jovem Caçador e a Velha Dentuça”
Autor Lucílio Manjate
Ilustradora Brunna Mancuso
Editora Kapulana
Preço R$ 29,90
Leitor Iniciante + leitura compartilhada
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