‘É a pior crise que já vi’, diz Eva Furnari, que lança livro inédito para crianças

Bruno Molinero

Para as editoras, livrarias e organizações ligadas ao mercado livreiro, vivemos hoje uma das piores crises para o setor. A instabilidade econômica somada ao congelamento das compras do governo fizeram com que as vendas despencassem, principalmente as de obras infantojuvenis.

Para a escritora e ilustradora Eva Furnari, na verdade, essa é a pior crise já vista. “Não me lembro de tempos tão complexos quanto estes. As vendas para o governo sempre balanceavam as contas quando a economia não ia bem”, diz.

A autora volta a lançar um livro para crianças após três anos de hiato –mas não de pausa. “Passei esse tempo revisitando mais de 40 livros meus para relançá-los.”

A nova história, chamada “Drufs” (ed. Moderna), fala sobre diferentes famílias. Diferentes mesmo. A mãe da família Balum adora festas. A Suflê tem dois pais. Já o pai da família Zum morreu, e o da Tabelo Blu mora bem longe, lá em Shampulândia. A obra vai ser lançada na Bienal do Livro, que começa nesta sexta-feira (26), em São Paulo.

A escritora falou com exclusividade para o blog.

 

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NOME Eva Furnari / IDADE 67 / LIVROS RECOMENDADOS ‘Bruxinha Zuzu’, ‘Cocô de Passarinho’, ‘Listas Fabulosas’ e ‘Felpo Filva’ (ed. Moderna)

 

Folha – Ainda dá um frio na barriga na hora de lançar um novo livro?

Eva Furnari – Só se tiver de fazer discurso ou dar muitos autógrafos. [risos]

 

Como foi esse período sem criar novas histórias?

Passei três anos reformulando a minha obra. São mais de 40 livros, todos agora com a editora Moderna. Por um lado, foi muito trabalhoso, mexi em vários textos, tirei histórias do catálogo –algumas achei que não valiam a pena, outras eu detestava. Mas foi também uma alegria. Percebi que hoje sou muito mais capaz de criar uma história consistente do que no passado.

 

Parte das histórias estavam datadas?

Algumas coisas que eram engraçadas antes não fazem mais sentido hoje. A busca do escritor é sempre pelo universal. Por algo que daqui a 20 anos ainda faça sentido e tenha graça.

 

A sua volta, com “Drufs”, teve um projeto completamente diferente. Em vez de ilustrações, são fotos.

A ideia surgiu há bastante tempo, quando ia almoçar com meus filhos. Eu brincava de pegar a tampa do saleiro, por exemplo, e colocar na ponta do dedo, como se fosse um chapéu. Desenhava rostinhos até minha mão virar um conjunto de personagens. Então resolvi levar essa diversão ao livro.

Passei um ano pesquisando materiais. No começo, a ideia era fazer algo bem simples, que a criança pudesse reproduzir em casa. Mas fui sofisticando.

 

Mesmo assim, muitos dos personagens podem ser feitos em casa. É só pegar uma bexiga ou tampa de cola.

Sim. E várias outras ideias não entraram no livro. Fiz três vezes mais personagens. Tinha uma família de legumes, por exemplo.

 

Não ficou com saudade da ilustração clássica, com papel e lápis de cor?

É muito mais fácil desenhar que montar personagens nos dedos: eles derretem, desmotam, borram. Às vezes a ideia é boa, mas não acontece aquela magia depois de pronto. O desenho é mais controlável.

 

Os dedos do livro são seus?

Sim! Todos fotografados na minha casa. O fotógrafo levou dois meses para terminar o trabalho.

 

A história mostra diferentes famílias. Algumas com pai e mãe, outras com pais separados, dois pais, mãe sozinha. É uma forma de mostrar a realidade? Ou de quebrar certos preconceitos na criança?

Um pouco de cada. Não são apenas diferentes composições familiares, mas famílias com problemas ou que não param de brigar. Procurei colocar todo o discurso na boca dos personagens, que são crianças. Foi uma forma de ficar menos acadêmico e de abordar questões complexas de um mundo cada vez mais complexo de forma mais simples.

As diferenças existem, e é natural estranhar. Só que é preciso aprender a respeitá-las e a não julgar. Na verdade, parece um livro simples, mas foi supercomplexo de fazer. Acho que escrevi 50 vezes mais material do que entrou.

 

Costuma acompanhar a produção atual de livros infantojuvenis?

Quando dá tempo. Muita coisa é lançada, e sempre estou produzindo algo novo.

 

Muita coisa é lançada, mas as vendas estão em queda. Houve outra crise como a que estamos vivendo?

É a pior que já vi. Não me lembro de tempos tão complexos quanto estes. As vendas para o governo sempre balanceavam as contas quando a economia não ia bem.

Mas acho que vai ser passageiro. O governo precisa primeiro olhar para a economia como um todo e, com os problemas resolvidos, se debruçar sobre a educação. É importante voltar a comprar livros. Não somente para o mercado, mas principalmente para as escolas. Sou uma pessoa otimista.

 

Qual o papel da escola e da educação na hora de criar uma nova história?

A literatura é fundamental na escola de hoje, que é menos autoritária, para falar das questões humanas. Mas, na hora de criar, não penso em nada. Nem mesmo na criança. Preciso me divertir, senão não funciona.

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“Drufs”

Autora Eva Furnari

Editora Moderna

Preço R$ 40 (2016; 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

Lançamento na Bienal do Livro, que começa na sexta (26). A autora autografará a obra no domingo (4/9), às 15h30

 


 

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