Livro que teria inspirado ‘O Pequeno Príncipe’ tem vaquinha para ser publicado no Brasil

Bruno Molinero

Pense na história de um menino cheio de poesia. Em que raposas, desertos, flores e vulcões ganham dimensões quase filosóficas. Imagine agora que esse livro é narrado por um adulto que conhece o garoto-personagem. Tudo lembra muito o Pequeno Príncipe. Mas trata-se de outro menino: Patachou.

As semelhanças com o clássico escrito por Antoine de Saint-Exupéry, que já foi traduzido para mais de 200 idiomas em todo o mundo e chega a vender uma média de 300 mil exemplares por ano só no Brasil, podem não ser apenas coincidência. Enquanto “O Pequeno Príncipe” alçou voo e se tornou até “livro de miss”, as obras “Patachou, Petit Garçon” e “Les Histoires de Patachou” fizeram sucesso na França a partir do final dos anos 1920 –mas acabaram pouco conhecidas fora do país, sobretudo do lado de cá do Atlântico, sem traduções para o português.

 

Pelo menos até agora. A editora Piu iniciou uma vaquinha na internet pelo Catarse para publicar os dois volumes no Brasil. Ambos foram escritos pelo poeta francês Tristan Derème e teriam sido realmente o ponto de partida de Exupéry para o seu famoso principezinho. Pelo menos é o que diz um artigo publicado na “Revue d’Histoire Littéraire de la France”, que listou semelhanças entre as duas histórias. Como “O Pequeno Príncipe” foi lançado em 1943, enquanto a primeira edição de Derème saiu em 1929, é praticamente certo que Exupéry tenha entrado em contato em algum momento com a obra.

As histórias falam de Patachou, um garoto que ganhou esse apelido porque, um belo dia, foi surpreendido com o dedo em uma pâte à choux (uma massa francesa que é base para várias receitas de confeitaria). Os livros são divididos em pequenos contos que misturam prosa e poesia, trazem brincadeiras e revelam a descoberta do mundo pelos olhos da infância.

“O texto é de 1929, mas, assim como outros tantos livros clássicos, ele aborda questões universais que são comuns a crianças de todas as épocas, culturas e lugares. O autor enfatiza a imaginação, o ritmo, a musicalidade, o humor e, ao mesmo tempo, uma pitada de melancolia. Dizem que Saint-Exupéry se inspirou justamente nesse estilo”, diz a escritora Paula Taitelbaum, que está à frente da editora Piu e do financiamento coletivo para trazer a obra ao Brasil.

A vaquinha busca arrecadar R$ 34 mil para custear o tratamento das ilustrações originais, a diagramação e a impressão. A tradução será feita com um prêmio concedido pela Embaixada da França. Para facilitar a pronúncia do francês, o nome do personagem na edição brasileira vai ficar Patachu nos dois títulos: “O Pequeno Patachu” e “As Histórias de Patachu”.

“A editora não tem um investidor. Como temos outros planos para 2017, a opção mais viável foi fazer um financiamento coletivo, que é uma espécie de venda antecipada do livro”, afirma. As recompensas para quem doar R$ 30 ou mais incluem exemplares da obra, mas é possível investir a partir de R$ 15. A previsão é que os exemplares sejam impressos e entregues até julho deste ano.

A arrecadação pela internet, modelo que está se tornando cada vez mais comum no Brasil entre editoras de pequeno porte e autores que desejam publicar um novo título, acaba no dia 12 de fevereiro. Em pouco mais de um mês, quase 50% da meta foi batida.

Mas e se o valor não for atingido? “Vai chegar! Estamos conversando com empresas e vamos atingir a meta nem que a gente tenha que passar o chapéu na esquina, vender os móveis, fazer empréstimo com o pai. O ideal seria não fazer isso, mas de um jeito ou de outro vai sair”, diz Paula.

 


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