Editoras apostam em clubes de leitura e até em vaquinhas após o fim das compras do governo

Bruno Molinero

Era uma vez um grupo de empresas e uma galinha dos ovos de ouro que permitia a todas ganhar muito dinheiro. Mas um belo dia a ave mágica desaparece, e muitos dos que viviam à suas custas começam a passar fome e a ter de se virar para sobreviver.

Se a história das editoras brasileiras especializadas em obras para crianças fosse um conto de fadas, ele seria mais ou menos desse jeito. Só que, no lugar da galinha dourada, estariam o governo brasileiro e as suas generosas compras de livros. As aquisições podiam chegar a milhares de exemplares de cada título e render milhões de reais todos os anos às empresas.

Podiam. Isso porque, principalmente a partir de 2015, as compras governamentais para abastecer bibliotecas e escolas minguaram nas esferas federal, estadual e municipal —até quase desaparecerem com a crise econômica em que o país mergulhou.

“Foi um desmonte no nosso mercado”, diz Daniela Padilha, editora da Jujuba, que desde 2010 lançou 36 livros (na imagem acima, ela aparece em foto na sede da empresa, em São Paulo).

Para se ter uma ideia do tombo, de acordo com dados da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), 2014 produziu 37,3 milhões de exemplares de literatura infantil; em 2015, esse número caiu para 12,5 milhões.

“Mas há uma parte boa. As editoras agora precisam diversificar as suas atuações para fechar as contas e continuar publicando”, afirma Padilha. A Jujuba espera lançar cinco títulos em 2017.

As companhias que não fecharam as portas começaram a apostar ainda mais na adoção de seus livros por escolas e clubes de leitura, em cursos pagos com autores da casa e até em vaquinhas na internet.

Tudo para continuar vivo num mercado com faturamento de R$ 1,56 bilhão em 2016 —sendo que 23% correspondem a obras infantojuvenis ou educacionais, segundo a pesquisa “Painel das Vendas de Livros no Brasil”, do instituto Nielsen e do Snel, divulgada neste mês.

 

LUZ NO FIM DO TÚNEL

Para Bruno Mendes, diretor comercial da consultoria #coisadelivreiro, ainda é possível ganhar dinheiro com livros no Brasil. “Mas é preciso operar no modelo mais enxuto possível”, ressalta.

As recomendações passam por vender pela internet e criar e-books, “que têm mais apelo com as crianças”, diz Mendes (leia outras dicas abaixo).

Não à toa as editoras menores trabalham com um número mínimo de funcionários. A Jujuba tem três pessoas fixas e os setores de divulgação e o financeiro terceirizados. A Carochinha, aberta em 2013, tem apenas dois editores e dois estagiários.

A casa, que nasceu na época em que o mercado já começava a descer a ladeira, projeta um catálogo de 40 títulos até o fim de 2017. A estratégia é apostar em histórias de personagens famosos (como os do canal do YouTube Mundo Bita), livros para bebês (que têm demanda crescente) e feiras internacionais.

“Hoje conseguimos vender lá fora. Contratamos até uma distribuidora em Miami para atender imigrantes”, conta Naiara Raggiotti, 39, editora da Carochinha com Diego Salerno Rodrigues, 35.

No ano passado, os dois apostaram em um financiamento coletivo na internet para publicar “Resgate Animal” e arrecadaram pouco mais de R$ 10 mil. “Íamos lançar de qualquer jeito. Mas o ‘crowdfunding’ pagou uma parte dos custos”, diz Salerno.

Outras editoras também veem com bons olhos modelos alternativos, como os de coedição, em que empresas dividem os custos e os lucros. “É preciso se reinventar, como todos os setores em crise”, afirma Luís Antonio Torelli, presidente da CBL.

Mas a entidade tem esperança de que as compras do governo voltem. “O MEC está redefinindo as seleções. A situação é mais caótica nos municípios, que mal têm dinheiro para os uniformes, imagina para livros”, diz Torelli.

Segundo o ministério, alguns programas já foram retomados e R$ 102 milhões foram destinados para aquisições de obras literárias do Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa).

CAROCHINHA (1)
Diego Salerno e Naiara Raggiotti, da editora Carochinha (foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

 

*

 

LIVROS NO AZUL
Estratégias para ter uma editora saudável

Internet
Livrarias costumam pagar fornecedores só depois de venderem os livros. Então, priorize vendas pela internet, no próprio site ou em lojas “ponto com”, que compram os títulos. Aposte também em e-books, que economizam com impressão e distribuição

Curadoria
Pais geralmente dependem de uma curadoria para comprar livros. Crie um clube de leitura ou se associe a um já existente, se o catálogo for pequeno. As vendas podem chegar a milhares de exemplares

Escolas
Pense duas vezes antes de gastar dinheiro com divulgação escolar. Ela ajuda, mas gera compras pontuais que não se sustentam no longo prazo, já que no ano seguinte a escola pode não renovar a parceria e escolher histórias de outra editora

Caixa grande
A consignação das livrarias e os dilatados prazos de pagamento tornam difícil saber quanto se vai ganhar no fim do mês. Por isso, o ideal é ter um capital inicial de pelo menos R$ 150 mil (editoras pequenas) ou de R$ 500 mil (médias)

Fonte: Bruno Mendes, do #coisadelivreiro

 


GOSTOU?

Clique aqui e receba todas as novidades por e-mail

Você pode entrar em contato com o blog pelo e-mail blogeraoutravez@gmail.com

Ou pelo instagram @blogeraoutravez

 

Conheça outros posts