O que acontece se você misturar Saramago com xilogravura de cordel?
O escritor português José Saramago (1922-2010), vencedor do prêmio Nobel de Literatura, costumava falar da dificuldade de escrever para crianças. Em um dos seus poucos livros infantis, “A Maior Flor do Mundo”, ele comenta essa complexidade.
“As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas nunca fui capaz de aprender, e tenho pena”, escreveu.
Mas claro que era uma modéstia do autor. As obras infantis de Saramago são estimulantes, tiram as crianças do lugar comum, do vocabulário pobre, das imagens já desgastadas –afinal, para isso deveria servir a literatura, certo? Grande exemplo disso é “O Lagarto”, lançado no fim do ano passado pela Companhia das Letrinhas.
O enredo é simples, mas inventivo. Em um belo dia, um lagarto gigante aparece no meio da rua da cidade. O susto foi geral, o trânsito parou, uma velha foi aos gritos, uma moradora derrubou as flores que carregava. Como lidar com um monstro (e com o pânico que ele causa) atrapalhando a metrópole?
As metáforas de Saramago, que por um instante lembram a flor que brota do asfalto do poema de Carlos Drummond de Andrade, ganham potência nas xilogravuras coloridas que ilustram a história. Todas feitas por J. Borges, um dos maiores nomes vivos da cultura popular nordestina e da literatura de cordel.
Com um traço inconfundível, Borges cria um lagarto com jeito de dragão, que passeia pelas páginas ao redor de homens e mulheres que bem poderiam estar num folheto de cordel. Mistura que leva a trama a outro lugar, próximo ao conto de fadas. Aliás, já no começo do livro, Saramago diz que “O Lagarto” é, justamente, uma história de fadas.
O casamento de literatura infantojuvenil com a xilogravuras de J. Borges não é inédita. Em 2012, ele já havia ilustrado uma edição de “Contos Maravilhosos Infantis e domésticos”, coletânea de contos de fadas dos irmãos Grimm, publicada pela finada Cosac Naify. As ilustrações inspiraram até uma exposição, chamada de “Grimm Agreste” (veja abaixo).
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Autor José Saramago
Ilustrações J. Borges
Editora Companhia das Letrinhas
Preço R$ 39,90 (2016; 32 págs.)
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