Conheça a história original de ‘A Bela e a Fera’, que ganha novo filme da Disney

Bruno Molinero

Era 1991 quando a animação da Disney “A Bela e a Fera” estreou nos cinemas do mundo todo e marcou uma geração. O desenho sobre a menina que vai viver no palácio de um monstro e se apaixona pela criatura não apenas se tornou a primeira animação a concorrer ao Oscar de melhor filme, mas também se cristalizou com o passar dos anos como a principal referência quando o assunto é o conto de fada.

Só que não é bem assim. O clássico adaptado pela empresa do Mickey é apenas uma das versões de “A Bela e a Fera”, cuja história já foi tema de musical, peça de teatro e até peça para piano. Todas foram inspiradas em duas histórias diferentes, publicadas no século 18 por duas autoras francesas: Madame de Beaumont e Madame de Villeneuve. Ambas traduzidas para o português e lançadas no ano passado pela editora Zahar no Brasil (a ilustração acima é da obra).

Talvez a história que mais se aproxime das versões da Disney seja a de Beaumont, que veio a público em 1756 –ou seja, 33 anos antes da Revolução Francesa. A autora costumava se corresponder com Voltaire, tinha ideias próximas às de Rousseau e defendia um modelo pedagógico rigoroso para crianças que a colocou como uma das escritoras de ficção mais famosas na Europa do século 18, como aponta o escritor Rodrigo Lacerda em prefácio da edição da Zahar.

Curto, direto, com poucas tramas ou personagens secundários de peso e sem firulas que atrapalhem a narrativa, a versão de Beaumont é feita sob medida para leitores em formação e cai como uma luva para uma produção da Disney.

 

Do lado oposto está a versão de Villeneuve, de 1740, considerada “A Bela e a Fera” original. Com tamanho suficiente para ser chamado de romance, essa versão (a primeira publicada) é mais abrangente e chega a destrinchar todo o passado do monstro do título, por exemplo. Quem já se perguntou como a Fera foi ficar daquele jeito, onde passou a infância, quem eram os seus pais ou outras questões do gênero certamente vai se divertir com a história.

No texto, a autora conta que a Fera era um menino normal, filho de um rei que morreu e cuja mãe precisou tomar conta de todo o reino após a tragédia. Para ajudá-la na tarefa, a rainha pede a ajuda de uma fada –só que, anos depois, essa mesma fada decide casar-se com o garoto. Sai daí a faísca que levará ao incêndio cujo final é o garoto transformado em monstro.

Lacerda mostra ainda que críticos fazem outra distinção entre as duas histórias originais. Para eles, Villeneuve daria maior atenção ao processo de humanização da Fera, enquanto Beaumont estaria mais preocupada com o esforço de Bela em se abrir ao diferente –uma visão que ficaria próxima de um conformismo perante seu destino.

Seja como for, as duas aventuras ajudam o leitor a ver “A Bela e a Fera” com outros olhos –longe do bules que cantam ou da fofura dos números musicais, mas sempre perto dos descobrimentos que envolvem a história.

 

“A Bela e a Fera”

Autoras Madame de Beaumont e Madame de Villeneuve

Tradutor André Telles

Editora Zahar

Preço R$ 29,90 (2016; 240 págs)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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