‘Amar, Verbo Intransitivo’, romance de Mário de Andrade, ganha adaptação em quadrinhos
Uma governanta é contratada por uma família tradicional para dar aulas de alemão a um de seus filhos –só que o verdadeiro objetivo dela é iniciar o adolescente na vida sexual e amorosa. Pode até parecer o roteiro de um desses novos “soft porns” ou um “50 Tons de Cinza” para o público teen. Mas a história foi escrita há exatos 90 anos. Por Mário de Andrade.
O escritor, um dos principais nomes do modernismo brasileiro e do movimento que explodiu em São Paulo a partir de 1922, lançou em 1927 “Amar, Verbo Intransitivo”. O livro é o primeiro de seus dois romances e conta como Fräulein Elza é contratada por uma família paulistana para evitar que o adolescente Carlos se torne um frequentador de prostíbulos da cidade.
Menos conhecido atualmente que o outro romance de Andrade (“Macunaíma”, de 1928) ou que seus contos e poesias, o livro chocou a sociedade na época e rendeu diversas críticas ao autor. Agora, 90 anos depois do lançamento e um ano após toda a obra do escritor entrar em domínio público, o livro ganha uma versão em quadrinhos que sai pela editora Ática.
“Todo mundo só pensa em ‘Macunaíma’. Por isso, propus para a editora adaptar o ‘Amar’, já que ele é mais desconhecido do adolescente de hoje”, diz o escritor Ivan Jaf, que adaptou a história. Além do livro, ele já transpôs para os quadrinhos obras como “Dom Casmurro”, “O Guarani” e “O Cortiço”, por exemplo. “Na HQ, você é obrigado a perder o estilo do autor original. Mas, por outro lado, acaba se concentrando mais na história.”
Para Jaf, a adaptação de um livro clássico para os quadrinhos serve mais como um cartão de visitas do que como um atalho. “Tem quem pense que ele afasta o jovem do livro original. Mas penso que pode acontecer o contrário. O quadrinho pode incentivar o adolescente a ler a história que originou aquela HQ”, defende.
Toda a parte visual de “Amar, Verbo Intransitivo” ficaram a cargo do ilustrador Eloar Guazzelli, que misturou elementos da São Paulo do fim dos anos 1920 com referências de outras épocas.
“Como a história trabalha mais com o emocional do que com as ações, busquei colocar algumas referências da história da arte ao longo do livro. O uso de diferentes cores e elementos compensa muitas vezes a falta de ações externas”, conta Guazzelli. “Mas gosto muito da São Paulo dessa época, se assumindo como metrópole, deixando de ser caipira.”
A aparente falta de ações acontece justamente por causa do jogo de sedução que serve como fio condutor do livro. A todo momento há uma tensão erótica, intercalada com a fina ironia de Mário de Andrade e sua crítica aos costumes da época. Mas como transformar isso em imagens sem deixar a HQ explícita demais para o público adolescente ou assustar as escolas tradicionais?
“O livro tem um lirismo, não é escrachado. É uma obra que vai para os colégios, claro que precisa de adequação. Por isso o erotismo está subentendido, atrás da porta, nos olhares”, diz Jaf. “É uma questão de dosar elementos. Deixamos a tensão no ar, mas sem cenas tórridas. Se você reparar, vai ver que não existem camas separadas nos desenhos, por exemplo”, completa Guazzelli, que levou seis meses para finalizar todas as ilustrações.
Autor Mário de Andrade
Roteirista Ivan Jaf
Ilustrador Guazzelli
Editora Ática
Preço R$ 45,50 (104 págs.)
Leitor avançado
Lançamento segunda quinzena de abril
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