Livros fazem casamento entre Murilo Rubião e literatura para crianças

Bruno Molinero

Um coelhinho mágico capaz de se transformar em qualquer tipo de animal. Um prédio de andares infinitos, cuja construção jamais terá fim. Uma mulher que tem fome de coisas e que fica gorda até não poder mais. Todos eles fazem parte de um capítulo muito particular, e por vezes pouco lembrado, da literatura brasileira: os contos fantásticos de Murilo Rubião. Agora, três textos do autor ganharam edições para crianças, de encher os olhos e a cabeça.

Murilo Rubião (1916-1991) foi um escritor e jornalista mineiro que deixou uma obra curta, mas poderosa: 33 contos, muito próximos da linguagem e das alegorias do movimento conhecido mundialmente como realismo fantástico –que ecoou sobretudo na América Latina no meio do século 20 e impulsionou nomes como Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, por exemplo.

Nos textos de Rubião, mágicos que tiram qualquer objeto do bolso, dragões que caminham por Minas Gerais e outras coisas consideradas absurdas são tratadas como absolutamente do dia a dia. E aí vem a pergunta: embora não pensados originalmente para crianças, por que não lançar esses contos em edições infantojuvenis? Afinal, livros para esse público trazem sempre, em certa medida, histórias absurdas contadas com aparente normalidade.

Foi o que a editora Positivo fez no ano passado, com três contos de Rubião, em edições infantis para serem lidas e guardadas por gerações. (Em tempo: transformar textos de autores clássicos não é inédito, vale lembrar; recentemente, o blog falou de textos de Drummond e Rubem Braga que se tornaram obras infantojuvenis).

Guardadas porque as ilustrações são feitas por nomes que estão no primeiro escalão da literatura feita no Brasil atualmente –precisos, os desenhos têm a capacidade de dar novas interpretações às histórias. Odilon Moraes dá vida e formas aquareladas a “Teleco, o Coelhinho” (um dos desenhos abre este texto). Marilda Castanha cria uma criatura gorda que parece saída de pinturas rupestres em “Bárbara”. E Nelson Cruz dá tons poéticos ao progresso e à burocracia de “O Edifício”.

Mas também porque cada edição é acompanhada de um prefácio, que explica um pouco da obra do autor e o próprio conto. Destaque para o texto do escritor Nelson de Oliveira, que fala especificamente sobre o tipo de texto sobre o qual Rubião se debruçou –mas que poderia servir muito bem para a literatura infantojuvenil:

“Preste atenção, todas as ficções fantásticas podem ser lidas de duas maneiras: figurada e literal. A leitura figurada verá na história do arranha-céu uma alegoria da condição humana, uma representação cheia de símbolos desejando ser desvendados. A literal, por sua vez, verá a história real de pessoas reais, porém de uma realidade muito mais fascinante que a nossa. […] Não existe a leitura certa e a errada, ambas são certas, você pode escolher sem medo.”

Conheça mais sobre os livros abaixo.

 

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CHEIO DE PERSONALIDADES

Teleco parece um coelhinho fofo, quase da Páscoa. Mas na verdade é temperamental e cheio de personalidades. Tantas que tem o poder de se transformar no bicho que bem entender: leão, porco-do-mato, girafa, pulga… Certo dia, quando vai viver na companhia de um ser humano, ele decide virar um canguru. E começa a dizer que é um homem de verdade, usar roupas humanas, lavar os dentes com a escova de seu companheiro de apartamento –até que leva uma mulher para morar com eles e despeja a gota d’água para melar a relação dos dois.

 

“Teleco, o Coelhinho” 

Autor Murilo Rubião

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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HISTÓRIA SEM FIM

Para que servem os prédio? Talvez para sede de escritórios, para pessoas morarem ou para abrigar um hotel. E para que serviria o maior edifício do mundo, com andares incontáveis e tempo de construção que pode ultrapassar gerações? Esse é o desafio que Murilo Rubião impõe ao engenheiro João Gaspar no conto “O Edifício” –uma espécie de mistura de torre de Babel com uma investigação sobre o sentido das coisas e das sociedades.

 

“O Edifício”

Autor Murilo Rubião

Ilustrador Nelson Cruz

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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COMER SEM PARAR

Na novela “Saramandaia” (de 1976, com remake em 2013), a personagem Dona Redonda comia tanto, mas tanto, que perigava explodir. O mesmo acontece com a mulher do conto “Bárbara”. Só que, em vez de doces e outras guloseimas, ela devora coisas: uma garrafa com água do mar, um baobá e até um navio de cruzeiro. Insaciável, ela não para de fazer pedidos ao marido –apaixonado, ele também não para de satisfazê-la. Será que Bárbara também vai explodir?

 

“Bárbara”

Autor Murilo Rubião

Ilustradora Marilda Castanha

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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