Antonio Prata lança livro infantil ao mesmo tempo surreal e pé no chão

Bruno Molinero

Antonio Prata tinha acabado de terminar a primeira versão de “A Menina que Morava no Chuveiro”, o seu novo livro para crianças, quando sentou com seus filhos para contar a história em primeira mão. Os olhos de Olivia, 5, e Daniel, 4, ficaram arregalados.

“Até poderia ser de admiração, mas foi reprovação mesmo. Eles ficaram angustiados”, relembra o escritor e colunista da Folha.

No livro, a menina do título adora uma boa ducha, a água escorrendo do cocuruto ao dedão do pé, aquele reino de espuma que se forma dentro do boxe, o vapor que faz todo mundo pedir para ficar um tiquinho, um tiquinhozinho, um tiquinhozinhozico mais longe da toalha.

É como se ela fosse o rato da música do “Castelo Rá-Tim-Bum”, cantando sempre que banho é bom, banho é bom, mas nunca chegando ao “agora acabou”. Pois então: na primeira versão escrita por Prata, a menina morava mesmo para sempre no chuveiro.

“Eles odiaram. A Olivia perguntou se ela nunca mais ia ver a avó. Acho que a infância já tem um pouco de surrealismo, o que faz com que a criança queira andar em direção à razão. A ideia de ficar eternamente embaixo d’água gerou uma angústia”, diz.

Não vou contar o novo final, é claro, mas a personagem acaba desenrugando os dedos no livro, o terceiro do autor para o público infantojuvenil —e esperança de repetição do sucesso que foi o anterior, ”Jacaré, Não!”, lançado em 2016 também pela editora Ubu, a mesma de “A Menina que Morava no Chuveiro”.

O livro do Jacaré, inspirado em uma brincadeira que Prata fazia com a filha, vendeu cerca de 7.500 exemplares e foi aprovado em edital de compras do governo, que encomendou outros 45 mil livros.

Ilustração de Talita Hoffmann para ‘A Menina que Morava no Chuveiro’

“De repente, eu virei um escritor infantil. Recebia diariamente vídeos de pessoas lendo o livro para os filhos”, conta. Para ele, o segredo foi ter baseado a história em um jogo que fazia com Olivia quando ela era menor. “Foi testado pedagogicamente antes.”

De certa forma, o novo livro também, já que a história brotou de conversas com os filhos. “Falo que os dois inspiraram para não dar briga em casa depois”, brinca. Isso explica o certo envelhecimento do público que deve ler.

A aventura do Jacaré é indicada para leitores menores, quase bebês como a Olivia da época. Tanto que, no início da narrativa, há uma recomendação para que o narrador adapte o nome da personagem para o da garota ou do garoto que estiver ouvindo. A mediação é parte integrante.

Já a nova menina do banho protagoniza um conto para leitores mais velhos, em uma faixa etária que está beirando a alfabetização. A história tem todo o jeito de primeiro livro de uma criança que acaba de dominar a junção das sílabas.

E essa série deve continuar. As conversas e o dia a dia com os filhos já geraram ideias para mais três obras —nenhuma ainda com previsão de lançamento.

“As colunas da Folha e a segunda temporada da série minam meu tempo”. Prata se refere à continuação de “Pais de Primeira”, exibida pela Globo, também sobre o tema que mais vem aparecendo em sua obra: a paternidade.

 

“A Menina que Morava no Chuveiro”

Autor Antonio Prata

Ilustradora Talita Hoffmann

Editora Ubu

Preço R$ 44 (2019, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

Lançamento Com presença do autor, neste sábado (23), às 11h, na biblioteca Monteiro Lobato (r. General Jardim, 485, São Paulo)

 


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