Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Até já! https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/08/28/ate-ja/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/08/28/ate-ja/#respond Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2888 Depois de três anos, centenas de livros e muitas conversas (com nomes que vão de Ziraldo a Eucanaã Ferraz, de Pedro Bandeira a Liniers), o blog vai fazer uma pausa mais prolongada e deixar de ser atualizado por enquanto.

Mas continuo falando sobre literatura na Ilustrada e todos os sábados no Painel das Letras.

Nos vemos lá!

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Livro de Rita Lee sobre a ursa mais triste do mundo ganha capa https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/livro-de-rita-lee-sobre-a-ursa-mais-triste-do-mundo-ganha-capa/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/28/livro-de-rita-lee-sobre-a-ursa-mais-triste-do-mundo-ganha-capa/#respond Tue, 28 May 2019 18:19:52 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/abre-1-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2867 A ursa mais triste do mundo, que vai ter sua história contada por Rita Lee, acaba de ganhar as suas primeiras ilustrações.

Marsha, a ursa siberiana que vivia no quente e abafado zoológico de Teresina, vai ser personagem de um livro infantil escrito pela cantora, que publicou em suas redes sociais a capa do novo título.

“Amiga Ursa – Uma História Triste, mas com Final Feliz” tem previsão de lançamento para julho, pela Globinho. Na capa, a ursa e Rita Lee se abraçam, em ilustração de Guilherme Francini.

A Ilustrada contou a história de Marsha no mês passado (leia aqui).

Após passar pelo circo, a ursa vivia no zoológico do Piauí e enfrentava o calor de 40 graus da região. Estressada, cega e infeliz, ela costumava andar em círculos e chegou a perder  grandes áreas de sua pelagem. Seu peso normal de 200 quilos acabou reduzido pela metade.

O caso logo chamou a atenção de organizações de proteção aos animais. A atriz Alexia Dechamps encampou o projeto e Gloria Pires gravou vídeo pedindo aos políticos locais que liberassem Marsha. A apresentadora Luisa Mell se prontificou a construir um recinto com tanque e queda d’água para a ursa, com ajuda de seu instituto, a um custo de cerca de R$ 100 mil. O destino foi o Rancho dos Gnomos, em Joanópolis, no interior paulista.

Em sua nova casa, Marsha recebeu um novo nome: Rowena, que significa “recomeço”.

Foi quando Rita Lee conheceu a ursa e resolveu escrever sobre ela para crianças. Enquanto Rowena espera o lançamento de sua história, ela passa os dias comendo carne, ovos e mel, além de frutas (manga, mamão, melancia, laranja, goiaba, melão, banana, uva, carambola e abacaxi) e legumes (cenoura, tomate, batata doce, pepino, couve, brócolis e acelga).

 


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Paula Fábrio lança infantil inédito e nova edição de seus dois romances https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/17/paula-fabrio-lanca-infantil-inedito-e-nova-edicao-de-seus-dois-romances/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/17/paula-fabrio-lanca-infantil-inedito-e-nova-edicao-de-seus-dois-romances/#respond Fri, 17 May 2019 17:44:00 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/abre-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2852 No início há o deslocamento. E uma sensação de quase aprisionamento, como se o mundo de verdade não fosse este, mas estivesse sempre do lado de lá –pra lá da rua, da fresta onde surge o mar, longe dos corredores com muros altos.

É desse sentimento de estranheza, como se os corpos dos personagens não coubessem nas roupas, que nasce o novo livro da escritora Paula Fábrio. “No Corredor dos Cobogós”, que será lançado neste sábado (18) pela editora SM, não é apenas a primeira obra inédita da autora desde “Um Dia Toparei Comigo” (2015). A história é a entrada dela na literatura infantojuvenil.

Escrito após uma oficina literária que a escritora fez com pré-adolescentes, o romance é indicado justamente para essa faixa etária –aquela em que meninos não são mais crianças, mas ainda estão longe de serem adultos, período para o qual as editoras costumam ter certa dificuldade de lançar obras e encontrar autores dispostos a escrever.

Na trama, Haidê vive em Santos, em um desses prédios que só ficam ocupados nas férias e que se alternam entre o vazio completo e a invasão de veranistas e famílias que descem a serra para passar uns dias à beira-mar. Presa em uma quitinete com a mãe, a garota se vê impossibilitada de explorar a cidade sozinha.

Contada em dois tempos, a narrativa é intercalada com Benjamin, um garoto que décadas depois vai morar com a avó no mesmo apartamento onde Haidê vivia e no qual ele acaba achando o diário escondido da menina.

Esses escritos têm início em um dos breves períodos de liberdade, quando Haidê dá um boné na mãe e consegue flanar desacompanhada pelas ruas santistas. Em uma cena que mistura perda de direção e o atropelamento de um cachorro, ela acaba conhecendo Michel, artista plástico mais velho que se torna seu amigo.

Personagem central na história, Michel foi inspirado em uma pessoa real: o crítico literário Alfredo Monte, que morreu no fim do ano passado após três anos com ELA (esclerose lateral amiotrófica), doença degenerativa que leva à paralisia. “A amizade da Haidê com ele foi um jeito que encontrei para eu mesma tentar ser amiga do Alfredo”, conta Paula.

É quando Michel começa a perder os movimentos que Haidê passa a escrever seu diário e a cambalear rumo à vida adulta e independente. E é esse caderno recheado de pensamentos e confissões que acaba servindo de guia anos depois para Benjamin decidir se vai morar com o pai ou com a mãe, que estão se separando.

Feito para ser lido em uma tacada só, “No Corredor dos Cobogós” parte de dois personagens deslocados e em busca de seu lugar para falar diretamente, sem intermediários, com um leitor que invariavelmente passa pelos mesmos dilemas e se sente da mesma forma.

 

“No Corredor dos Cobogós”

Autora Paula Fábrio

Editora SM

Preço R$ 41 (2019, 132 págs.)

Leitor fluente

Lançamento neste sábado (18), a partir das 15h, na livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509, São Paulo)

 

*

 

RELANÇAMENTOS

Além de “No Corredor dos Cobogós”, Paula relança também seus dois romances adultos: “Desnorteio”, que havia sido publicado pela editora Patuá e venceu o Prêmio São Paulo de Literatura em 2013, e “Um Dia Toparei Comigo”, lançado pela Foz.

Os títulos ganham nova edição e novas capas por um selo próprio da autora, o Oficina Paula Fábrio, e recolocam em circulação as duas histórias, difíceis de serem encontradas atualmente nas livrarias. Cada um será vendido por R$ 45.


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Como falar de preconceito e relações raciais com crianças? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/14/como-falar-de-preconceito-e-relacoes-raciais-com-criancas/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/05/14/como-falar-de-preconceito-e-relacoes-raciais-com-criancas/#respond Tue, 14 May 2019 14:33:33 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/f1ac9471769015.5bd084d10ea79-1-320x213.png https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2844 “Papai, que bom, porque eu sou pretinha também!”

A frase que fecha “Amoras”, livro infantil do músico Emicida, não serve de conclusão apenas para a sua história –mas também para uma série de títulos para crianças que vêm ganhando destaque ao abordar temas como racismo, relações raciais e aceitação.

Cada um traz uma estratégia e uma narrativa diferentes. Mas concordam em abordar a questão a partir da literatura, muitas vezes sem um tom professoral e didático e sem respostas fáceis. É o caso de “Amoras”.

Em sua primeira obra infantil, Emicida parte da fruta do título e de um narrador que conta para sua filha que as amoras mais pretinhas são as mais doces, as melhores que existem.

A partir daí, ele mistura figuras como Muhammed Ali, Martin Luther King e Zumbi para expandir o livro para fora do pomar e chegar à frase que abre este texto –tudo com delicadeza e um deslocamento de significados que fazem brotar nas entrelinhas uma mensagem de aceitação e, para usar uma palavra da moda, de empoderamento.

O recém-lançado “Chapeuzinho e o Leão Faminto” consegue os mesmos resultados, mas de maneira ainda mais sutil e com um diferencial que faz o livro esbarrar na genialidade: o texto não traz nenhuma palavra relacionada a cor de pele, tipo de cabelo ou qualquer outra característica física.

A narrativa é uma adaptação do conto clássico original, mas com algumas diferenças. A motivação do passeio da protagonista é levar remédios para a tia doente. No caminho, ela passa por girafas, macacos, gazelas e suricatos. Mesmo o vilão não é o lobo –quem está faminto para devorar a menina é um leão de barriga vazia.

São os elementos visuais escolhidos pelo autor e ilustrador, Alex T. Smith, que logo fazem com que o leitor situe a história na África e na savana. No lugar da menina branca, há uma protagonista negra, de cabelos crespos, cercada por uma estética e uma paleta de cores tipicamente africanas.

Como nos bons livros ilustrados, texto e imagens trazem informações próprias que, quando conectadas, transmitem uma mensagem poderosa e não subestimam a inteligência das crianças.

Cada qual a sua maneira, as duas narrativas põem meninos e adultos na roda não apenas para pensar sobre preconceitos, mas deixam diversas pontas prontas para serem puxadas e servirem de temas para debates. Na sociedade brasileira, as “pretinhas” são mesmo vistas como as melhores? Quem disse que a Chapeuzinho não pode ser negra?

Ilustração de “Nós de Axé”, da editora Aletria (Divulgação)

Outro livro que deixa pontas para conversas é “Nós de Axé”, da escritora Janaína de Figueiredo –ou melhor: são fitas que estimulam o bate-papo.

O livro parte de uma história sobre as fitinhas coloridas do Senhor do Bonfim para dar um banho de cheiro e de cultura popular da Bahia. Lá estão as mandingas, os orixás, a escadaria do Senhor do Bonfim, a cocada da avó, a capoeira e outros elementos inseridos de forma homeopática que despertam a curiosidade para um pedaço do Brasil que ainda não é visto na maior parte das escolas.

A partir daí, deixa a pergunta: por que muita gente não conhece bem a cultura que transborda das páginas? Será que existe hierarquia entre as culturas ditas erudita e popular? As perguntas vão se desamarrando como os nós das fitinhas, cada um contendo um desejo ou pedido secreto.

Mas nem todos os livros optam pela sutileza, é claro. “Meu Crespo É de Rainha”, da escritora americana Bell Hooks, por exemplo, manda as entrelinhas às favas e escancara o tema como um grito.

“Feliz com meu cabelo firme e forte,/ com cachos que giram/ e o fio feito mola se enrola,/ vira cambalhota!”, escreve a autora, em seu hino de aceitação e protagonismo condensado em 32 páginas densamente ilustradas.

É o caso também de “Que Cabelo É Esse, Bela?”, que conta a história de uma menina que adorava sair na chuva –mas tudo muda quando crianças da escola começam a falar que seu cabelo fica feio quando isso acontece. “O que é isso na sua cabeça?”, “Que cabelo é esse?”, perguntam os outros garotos para uma personagem cada vez mais amuada e reclusa.

O livro até tenta metaforizar o assunto, com uma história de que, quando os fios de Bela são molhados pelos pingos das nuvens, logo surgem cores vibrantes em suas madeixas. Mas é só um artifício para a mensagem de força e aceitação que permeia toda a narrativa, sem disfarces ou chances de o leitor interpretar outras coisas.

As duas obras preferem ir ao cerne da questão, sem papas na língua, para no fim concluírem: “Feliz com o meu crespo!” ou “Que cabelo lindo é esse, Bela?”.

Ou poderia ser ainda: “Papai, que bom, porque eu sou pretinha também!”

 

LIVROS CITADOS NESTE TEXTO

 

 

“Amoras”

Autor Emicida

Ilustrador Aldo Fabrini

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 29,90 (2018, 44 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

*

 

“Chapeuzinho e o Leão Faminto”

Autor e ilustrador Alex T. Smith

Tradutora Gilda de Aquino

Editora Brinque-Book

Preço R$ 41,30 (2019, 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

*

 

“Nós de Axé”

Autora Janaína de Figueiredo

Ilustradora Paulica Santos

Editora Aletria

Preço R$ 35 (2018, 40 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

*

 

“Meu Crespo É de Rainha”

Autora Bell Hooks

Ilustradora Chris Raschka

Tradutora Nina Rizzi

Editora Boitatá

Preço R$ 35 (2018, 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

*

 

“Que Cabelo É Esse, Bela?”

Autora Simone Mota

Ilustradora Roberta Nunes

Editora Editora do Brasil

Preço R$ 43,10 (2018, 32 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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Não se assuste se crianças traficarem ‘Chapeuzinho Vermelho’ no recreio https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/04/23/nao-se-assuste-se-criancas-traficarem-chapeuzinho-vermelho-no-recreio/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/04/23/nao-se-assuste-se-criancas-traficarem-chapeuzinho-vermelho-no-recreio/#respond Tue, 23 Apr 2019 19:35:42 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/ilustração-do-livro-Uma-Chapeuzinho-Vermelho-da-autora-e-ilustradora-Marjolaine-Leray.-1-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2827 O lobo de olhos grandes e boca maior ainda não vai mais comer a Chapeuzinho –pelo menos se depender de uma escola de Barcelona.

A imprensa espanhola repercutiu na última semana o caso do colégio Tàber, vinculado à prefeitura da cidade, que decidiu retirar de sua biblioteca 200 livros destinados a alunos de até seis anos. A justificativa é que foram considerados “tóxicos” por reproduzirem padrões sexistas.

Entre os títulos, que correspondem a 30% do acervo, estão contos clássicos como “Chapeuzinho Vermelho” e “A Bela Adormecida”. O critério é simples: se as histórias trazem apenas garotos em papéis valentes ou somente meninas com a carapuça da fragilidade, as narrativas não devem chegar aos alunos e merecem ficar na escuridão.

“A sociedade está mudando e está mais sensível a questões de gênero, mas isso não vem se refletindo nas histórias”, disse Anna Tutzó ao jornal espanhol El País. Ela foi uma das mães participantes da comissão que revisou o acervo da escola e retirou as obras de circulação.

Mais do que uma discussão pontual sobre livros e conteúdos de alguns contos de fadas, a decisão do colégio espanhol deixa duas lições maiores.

A primeira é que a sanha censória não distingue esquerda e direita. Muito se fala sobre governos mais próximos à direita que desejam proibir livros, sobretudo aqueles infantis que esbarram em temas ligados a igualdade de gênero, homossexualidade, transexualidade e educação sexual.

“Um pai não quer chegar em casa e ver o filho brincando com boneca por influência da escola”, declarou no ano passado o ainda candidato Jair Bolsonaro no Jornal Nacional. Na ocasião, ele se referia ao livro “Aparelho Sexual e Cia.”, sobre educação sexual para pré-adolescentes, publicado no Brasil pela editora Seguinte.

Ora, se parece pouco defensável retirar das escolas uma obra infantil que tenha personagem homossexual, também deveria parecer pouco defensável proibir “Chapeuzinho Vermelho” porque só as figuras masculinas (o lobo e o lenhador, no caso) detêm o monopólio da violência. Se soa mirabolante acreditar que uma criança possa se tornar transexual por ler um livro, também deveria soar mirabolante acreditar que uma leitora de “A Bela Adormecida” está fadada se tornar indefesa até a chegada de um príncipe salvador por causa do conto de fadas.

No fundo, a matéria-prima é a mesma: uma vontade incontrolável de decidir o que os outros devem ler.

“Chapeuzinho Vermelho” ilustrado por Mariana Massarani para a editora Manati (Divulgação)

“Uma das principais desculpas para a censura é a segurança. Você comete uma violência justificando que certos setores estão em perigo”, afirmou a este blog, em 2017, Maria Cristina Castilho Costa, do observatório sobre censura da USP. Na época, ela comentava o caso da escritora e ilustradora Silvana Rando, que optou por retirar o seu livro “Peppa” de circulação após pressão de grupos que enxergaram racismo na história (saiba mais aqui).

No caso da infância, há um ingrediente a mais –o que nos leva à segunda lição: tanto um lado quanto o outro do espectro ideológico enxergam a criança como um ser incapaz de ter uma compreensão mais sofisticada das narrativas, servindo como uma esponja sem filtros a tudo o que é exposta. A noção é, no mínimo, polêmica. Para muitos, equivocada.

Mas, mesmo que essa ideia fosse verdadeira, pais e professores censores tomam um caminho tortuoso: preferem a opção mais fácil para eles (a proibição), e não a mais indicada para o desenvolvimento das próprias crianças. Com isso, perdem a oportunidade de discutir assuntos importantes com seus filhos ou alunos, de expô-los a outras realidades, de mostrar o contraditório. E esquecem que redomas de vidro, inevitavelmente, se rompem mais cedo ou mais tarde.

Como costuma dizer o escritor Pedro Bandeira, esses adultos buscam uma suposta manutenção da inocência ou uma não contaminação por padrões sexistas, mas acabam perpetuando a ignorância. Um livro com personagem gay pode ser um bom início de preparação para um mundo sexualmente diverso. Uma história com heróis que repetem padrões sexistas pode ser um gancho para uma conversa sobre esse tipo de comportamento em casa ou na escola.

Nenhum bom livro de literatura infantil traz respostas prontas. Ao contrário: ele é um poderoso início de diálogos e de reflexões na mão de mediadores interessados e de leitores curiosos.

Até porque dificilmente todas as pessoas que sofrem proibições aceitam passivamente a censura –sejam os censurados crianças ou adultos. A ditadura de Stálin não conseguiu varrer Trótski da história. O regime militar brasileiro não pôde exterminar todos os livros e músicas considerados subversivos.

Não se assuste se, em breve, crianças forem flagradas traficando páginas xerocadas de “Chapeuzinho Vermelho” na hora do recreio.

 


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Antonio Prata lança livro infantil ao mesmo tempo surreal e pé no chão https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/02/22/antonio-prata-lanca-livro-infantil-ao-mesmo-tempo-surreal-e-pe-no-chao/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/02/22/antonio-prata-lanca-livro-infantil-ao-mesmo-tempo-surreal-e-pe-no-chao/#respond Fri, 22 Feb 2019 14:33:34 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/va2-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2789 Antonio Prata tinha acabado de terminar a primeira versão de “A Menina que Morava no Chuveiro”, o seu novo livro para crianças, quando sentou com seus filhos para contar a história em primeira mão. Os olhos de Olivia, 5, e Daniel, 4, ficaram arregalados.

“Até poderia ser de admiração, mas foi reprovação mesmo. Eles ficaram angustiados”, relembra o escritor e colunista da Folha.

No livro, a menina do título adora uma boa ducha, a água escorrendo do cocuruto ao dedão do pé, aquele reino de espuma que se forma dentro do boxe, o vapor que faz todo mundo pedir para ficar um tiquinho, um tiquinhozinho, um tiquinhozinhozico mais longe da toalha.

É como se ela fosse o rato da música do “Castelo Rá-Tim-Bum”, cantando sempre que banho é bom, banho é bom, mas nunca chegando ao “agora acabou”. Pois então: na primeira versão escrita por Prata, a menina morava mesmo para sempre no chuveiro.

“Eles odiaram. A Olivia perguntou se ela nunca mais ia ver a avó. Acho que a infância já tem um pouco de surrealismo, o que faz com que a criança queira andar em direção à razão. A ideia de ficar eternamente embaixo d’água gerou uma angústia”, diz.

Não vou contar o novo final, é claro, mas a personagem acaba desenrugando os dedos no livro, o terceiro do autor para o público infantojuvenil —e esperança de repetição do sucesso que foi o anterior, ”Jacaré, Não!”, lançado em 2016 também pela editora Ubu, a mesma de “A Menina que Morava no Chuveiro”.

O livro do Jacaré, inspirado em uma brincadeira que Prata fazia com a filha, vendeu cerca de 7.500 exemplares e foi aprovado em edital de compras do governo, que encomendou outros 45 mil livros.

Ilustração de Talita Hoffmann para ‘A Menina que Morava no Chuveiro’

“De repente, eu virei um escritor infantil. Recebia diariamente vídeos de pessoas lendo o livro para os filhos”, conta. Para ele, o segredo foi ter baseado a história em um jogo que fazia com Olivia quando ela era menor. “Foi testado pedagogicamente antes.”

De certa forma, o novo livro também, já que a história brotou de conversas com os filhos. “Falo que os dois inspiraram para não dar briga em casa depois”, brinca. Isso explica o certo envelhecimento do público que deve ler.

A aventura do Jacaré é indicada para leitores menores, quase bebês como a Olivia da época. Tanto que, no início da narrativa, há uma recomendação para que o narrador adapte o nome da personagem para o da garota ou do garoto que estiver ouvindo. A mediação é parte integrante.

Já a nova menina do banho protagoniza um conto para leitores mais velhos, em uma faixa etária que está beirando a alfabetização. A história tem todo o jeito de primeiro livro de uma criança que acaba de dominar a junção das sílabas.

E essa série deve continuar. As conversas e o dia a dia com os filhos já geraram ideias para mais três obras —nenhuma ainda com previsão de lançamento.

“As colunas da Folha e a segunda temporada da série minam meu tempo”. Prata se refere à continuação de “Pais de Primeira”, exibida pela Globo, também sobre o tema que mais vem aparecendo em sua obra: a paternidade.

 

“A Menina que Morava no Chuveiro”

Autor Antonio Prata

Ilustradora Talita Hoffmann

Editora Ubu

Preço R$ 44 (2019, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

Lançamento Com presença do autor, neste sábado (23), às 11h, na biblioteca Monteiro Lobato (r. General Jardim, 485, São Paulo)

 


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Crianças ganham livros em vez de brinquedos em McDonald’s de outros países https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/02/08/criancas-ganham-livros-em-vez-de-brinquedos-nos-mcdonalds-de-outros-paises/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/02/08/criancas-ganham-livros-em-vez-de-brinquedos-nos-mcdonalds-de-outros-paises/#respond Fri, 08 Feb 2019 19:39:49 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/abre2-1-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2772 Em vez de receber um cacareco da Barbie ou da Hot Wheels, crianças recebem livros quando compram o McLanche Feliz em diferentes países do mundo.

Na Nova Zelândia, elas recebem uma obra do britânico Roald Dahl. O autor não tem o nome muito conhecido no Brasil nem é um sucesso editorial por aqui, mas certamente quase todo mundo já teve contato com alguma de suas histórias –são de Dahl clássicos como “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Matilda”, por exemplo.

Os seis títulos que fazem parte da iniciativa são versões resumidas ou adaptadas, publicadas em edições criadas especialmente para o programa da empresa Happy Meal Readers, de incentivo à leitura. Como não podia ser diferente, as obras têm um quê de brinquedo e vêm acompanhadas de adesivos e atividades.

Serão distribuídos “Fantabulous BFG” e “Brave Little Sophie” (inspirados em “O Bom Gigante Amigo”), “Lucky Charlie Bucket” e “Wonderful Mr. Willy Wonka” (de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”), “Amazing Matilda” e “Marvellous Miss Honey” (ambos de “Matilda”).

De acordo com o jornal Atlanta Journal-Constitution, a empresa planeja distribuir 800 mil livretos ao longo de seis semanas no país.

A iniciativa é uma parceria com a editora Penguin Random House que existe desde 2015, quando a mesma distribuição ocorreu no Reino Unido. Na época, 15,5 milhões de livros com trechos de histórias de Dahl foram entregues pelo fast-food.

Ilustração de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’, de Roald Dahl, que terá livros distribuídos na Nova Zelândia

O programa Happy Meal Readers, porém, é global. Segundo números da empresa, já foram distribuídos cerca de 450 milhões de livros no mundo inteiro desde 2001 –a Suécia foi o primeiro lugar a implementar a iniciativa.

Atualmente, ela está em curso em outros países, entre eles Malásia e Portugal, onde crianças podem ganhar títulos da inglesa Cressida Cowell (a autora de “Como Treinar o seu Dragão”).

Mas, em vez de dragões, são dinossauros as estrelas da série “The Treetop Twins Adventures”, especialmente escrita para a campanha. São 12 livros, sobre crianças que encontram um dinossauro na vida real.

Cada título traz informações sobre os bichos pré-históricos, com sons, animações e um QR code com material extra. A expectativa é que as obras sejam traduzidas para 40 idiomas.

No Brasil, a iniciativa não ocorre há dois anos –livros foram distribuídos em 2013, 2014, 2015 e 2017. No primeiro ano, os títulos eram sobre dinossauros, oceanos e predadores. Em 2014, foi a vez de histórias de escritores brasileiros como Vinicius de Moraes e Ana Maria Machado. No ano seguinte, o combo infantil veio com histórias de Ziraldo, Irmãos Grimm e Júlio Verne.

Já em 2017, seis livros da Turma da Mônica foram entregues com o McLanche Feliz. Cada um continha duas histórias dos personagens de Mauricio de Sousa, além de atividades para serem feitas.

A companhia afirma que algo parecido está previsto para o fim de fevereiro, mas não confirmou o livro nem o autor que participará.

 


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Por que ‘Caçadas de Pedrinho’ é hoje um elefante em uma loja de cristais? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/#respond Wed, 23 Jan 2019 16:30:55 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/abre_corte-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2751 A entrada de toda a obra de Monteiro Lobato em domínio público, em janeiro deste ano, gerou um reboliço no mercado editorial brasileiro –sobretudo entre editoras com selos infantis, que estão prestes a produzir uma avalanche de Emílias, Pedrinhos e Narizinhos nas livrarias (falei sobre o fenômeno aqui, na Ilustrada, neste fim de semana).

Entre as histórias do pai do Sítio do Picapau Amarelo, há as mais queridinhas: caso de “Reinações de Narizinho”, “A Chave do Tamanho” e “O Picapau Amarelo”, por exemplo, que ganharão impressões de mais de uma editora, com diferentes ilustrações e tratamentos gráficos. Mas existe também um livro que hoje é encarado como um elefante em uma loja de cristais: “Caçadas de Pedrinho”.

Escrito em 1933, a história narra uma expedição formada por personagens do Sítio à caça de uma onça. Nela, Pedrinho leva uma espingarda, Narizinho escolhe uma faca, Visconde decide empunhar um sabre de madeira e Emília carrega um espeto de assar frangos. A jornada esbarra ainda com jaguatiricas, tatus, veados, gaviões e até com um rinoceronte fugido.

A aventura se tornou uma das mais conhecidas de Lobato, manteve-se viva por gerações e certamente seria um dos xodós de qualquer editora. Seria. Isso porque leituras contemporâneas enxergaram problemas em algumas passagens da narrativa, campanhas surgiram aqui e ali conta a obra, ativistas e leitores defenderam o boicote ao livro, que se tornou o título infantojuvenil mais tóxico do escritor.

Ilustração de Guazzelli para ‘Caçadas de Pedrinho’ da editora Globinho

A primeira questão apontada é o suposto racismo de Lobato expresso no livro –nele, Tia Nastácia é descrita como “uma macaca de carvão”. Em 2010, um parecer do Conselho Nacional de Educação recomendou a não distribuição da obra em escolas públicas ou a veiculação de uma nota explicativa. O caso chegou ao STF, na forma de um pedido para a inclusão do tal adendo, que foi negado.

“O que ninguém percebe é que, no final de ‘Caçadas de Pedrinho’, Tia Nastácia fala para a Dona Benta: ‘Negro também é gente, Sinhá’. Ela atesta a sua identidade, a sua igualdade. O próprio livro trabalha a questão. Com isso, não quero dizer que Lobato não seja preconceituoso. Ele era um típico homem dos anos 1930 que vivia em São Paulo, com todo aquele imaginário que vinha da escravidão”, afirmou Marisa Lajolo, uma das principais especialistas da obra de Lobato, em entrevista ao blog, em 2017.

A outra questão que paira sobre o livro se refere à própria caçada da onça, animal que corre risco de extinção, sobretudo na mata atlântica.

Frente a isso, as editoras se viram obrigadas a optar entre três possibilidades: colocar a mão no vespeiro, adaptar a história ou ignorar o livro –nem que seja, ao menos, neste início de domínio público.

A Companhia das Letrinhas está se preparando para relançar a obra de Lobato, com novas ilustrações, em uma coleção organizada por Marisa Lajolo. Embora possa sofrer alterações, o cronograma de lançamentos está montado até 2020–e não há sinal de “Caçadas de Pedrinho”.

“Na minha opinião, é preciso não mudar os textos. Um autor precisa ser lido em sua inteireza. O que a gente faz com o passado? Só condena? Só conhece? Em vez de esconder, é importante trazer essas ambivalências à tona e entender como elas se manifestam hoje em dia”, defende Lilia Schwarcz, que lançará uma biografia juvenil de Monteiro Lobato produzida em conjunto com Lajolo. O livro deve sair pela Companhia das Letrinhas em março.

A Autêntica também publicará os textos integrais, mas não irá se aventurar com “Caçadas de Pedrinho” neste primeiro momento. É o mesmo caso da FTD. “A editora está lançando 15 obras do Lobato nessa primeira etapa. Pouco a pouco, todos os outros livros que mantêm seu vigor e sua importância serão publicados. Ainda não há previsão de em qual etapa do projeto estará ‘Caçadas de Pedrinho’”, conta Isabel Lopes Coelho, gerente editorial de literatura da FTD.

Sobre o suposto racismo do autor, ela diz: “Por ora não tivemos esse problema, pois a seleção não incluiu obras em que, a nosso ver, essa questão se apresente de forma explícita.”

Ilustração de Paulo Borges para edição da Globinho

Mesmo entre os que preferiram adaptar as histórias, não há sinal de que o livro polêmico desponte no horizonte. Pedro Bandeira, autor de “A Droga da Obediência”, está preparando versões de Lobato para a Moderna –mas declarou ao blog que não deve se debruçar sobre “Caçadas de Pedrinho”.

Uma das poucas editoras que decidiram trabalhar com o título neste ano e que em breve levarão a aventura às livrarias é a Sesi-SP. Previsto para maio, “Caçadas de Pedrinho” terá ilustrações de Jean Galvão, chargista da Folha. Ao todo, 27 títulos infantojuvenis do escritor serão publicados entre fevereiro e julho deste ano, dos mais famosos a outros mais desconhecidos.

Com projeto gráfico desenvolvido por Raquel Matsushita, a coleção contará com novos ilustradores, entre eles 11 artistas portugueses.

Por enquanto, a única chance de ler a história ainda é com as edições da Globo, que detinha os direitos de publicação da obra de Lobato até o início do domínio público, em 1º de janeiro (ou, então, com as mais antigas, como as da Brasiliense). A Globinho teve duas versões, uma ilustrada por Paulo Borges e outra por Eloar Guazzelli, enquanto o selo Biblioteca Azul publicou uma edição vintage, com capa dura e ilustrações dos anos 1930 e 1940.

“Ninguém sai matando onça por causa do livro. Defender a liberdade poética do autor não é fazer apologia à matança nem endossar o racismo no país”, acredita Mauro Palermo, diretor editorial da Globo Livros.

Para as editoras, a obra de Lobato em domínio público é como uma coleção de cristais e pedras preciosas que podem ajudar um mercado editorial em mais um ano de crise –e “Caçadas de Pedrinho” é o brutamontes com potencial de quebrar tudo a sua volta.

 


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Editora arrecada mais de R$ 80 mil para lançar contos de fadas nórdicos no Brasil https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/01/editora-arrecada-mais-de-r-80-mil-para-lancar-contos-de-fadas-nordicos-no-brasil/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/01/editora-arrecada-mais-de-r-80-mil-para-lancar-contos-de-fadas-nordicos-no-brasil/#respond Mon, 01 Oct 2018 19:55:37 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/abre-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2614 Já foi a época em que o Patinho Feio era apenas um filhote gorducho e tristonho, com pinta de ter saído de um desenho animado dos anos 1980. Ou que a Branca de Neve dançava feliz na floresta, rodeada por anões com bochechas redondas feitas por Walt Disney.

Já foi o tempo também em que as versões originais desses contos de fadas e fábulas vieram à tona e serviram de inspiração para uma série de livros, muitos deles mais voltados para o público adulto, com histórias que nada têm de coloridas, bonitinhas e açucaradas.

São títulos que trazem, por exemplo, a Rapunzel dos irmãos Grimm, que fica grávida do príncipe enquanto está presa na torre. Ou a leitura de Charles Perrault para “Chapeuzinho Vermelho”, em que o Lobo acaba por devorar a menina no final.

Agora a hora é outra. E o interesse pelos contos de fadas originais saiu do universo das histórias conhecidas para alcançar as narrativas das quais nunca ouvimos falar. É o que mostra, por exemplo, um financiamento coletivo feito pela editora Wish para publicar no Brasil uma coletânea de 24 contos nórdicos e uma canção antiga da região.

Com campanha aberta até a próxima segunda (8), a vaquinha na plataforma Catarse já recebeu cerca de R$ 82 mil até o momento –mais de 300% da meta, que era de R$ 26.720.

“Lemos uma quantidade absurda de histórias para fazer a seleção final. Tivemos que tirar alguns contos que são ótimos, mas que não tinham tanto a ver com a cultura nórdica”, conta Marina Avila, fundadora da editora e à frente do projeto de “Os Melhores Contos de Fadas Nórdicos”.

As narrativas vieram de cerca de dez autores, todos nascidos na região que engloba Dinamarca, Suécia, Noruega, Islândia e Finlândia. Entre eles, o mais conhecido por aqui certamente é o dinamarquês Hans Christian Andersen, considerado o pai da literatura infantojuvenil e conhecido por clássicos como “O Patinho Feio” e “A Pequena Sereia” –nenhum dos dois estará no novo livro, que tem previsão de lançamento para janeiro de 2019 e publicará contos pouco falados por aqui, como “A Leste do Sol e a Oeste da Lua”, “A Noiva da Floresta”  e “O Monte Élfico”.

Como estão todos em domínio público, a maior parte foi traduzido do inglês, a partir de versões acessadas digitalmente em sites de diferentes bibliotecas. Mas cinco das histórias foram trazidas do sueco e do norueguês: “A Troca”, “Linda-Gold e o Velho Rei”,  “O Anel”, “Princesa Tuvstarr” e “Heiemo og Nykkjen” (Heiemo e o espírito da água, em tradução livre).

Com a meta superada em mais de três vezes, a edição terá preocupação maior com o acabamento e virá com capa dura, mais de 300 páginas, ilustrações internas e duas cores nas páginas.

Fundada em 2014, a Wish vem se especializando em publicações que resgatam obras em domínio público. “A nossa proposta é fazer o resgate literário de livros antigos, com novas traduções e adaptações”, diz Marina.

Em 2016, a editora fez um financiamento coletivo para lançar “Contos de Fadas em Suas Versões Originais”, que alcançou mais de 800% da meta original e arrecadou R$ 25.474 –um terço do que os nórdicos já conseguiram. No ano passado, foi a vez de levantar coletivamente R$ 29.550 para o segundo volume da coleção. Neste ano, foram arrecadados R$ 35.298 em uma vaquinha para publicar “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco”, que inspirou o filme de Tim Burton (2008).

Em todos os casos, os doadores recebem o livro lançado e outros mimos como recompensa, dependendo do valor gasto. Depois de lançadas, as obras ficam à venda no site da editora. “Não estamos nas livrarias por causa das condições de consignação, desconto no preço de cada exemplar e demora no pagamento. Para a Wish, seria perder dinheiro.”

A ideia é continuar lançando contos clássicos de diferentes regiões, entre eles de países africanos. Todos a partir de financiamentos coletivos. “Se tiver um projeto gráfico legal, se forem histórias que não estão disponíveis e se tiver claro quem é o seu público, a chance de sucesso é grande”, garante Marina.

Layout da capa do livro, que tem previsão de lançamento para janeiro de 2019

 


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O que diz, afinal, o livro infantil que Bolsonaro levou ao Jornal Nacional? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/08/29/o-que-diz-afinal-o-livro-infantil-que-bolsonaro-levou-ao-jornal-nacional/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/08/29/o-que-diz-afinal-o-livro-infantil-que-bolsonaro-levou-ao-jornal-nacional/#respond Wed, 29 Aug 2018 14:35:22 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/85252_3-1-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2570 Parece que virou mania entre candidatos à Presidência entrevistados pelo Jornal Nacional, da Globo, levar um livro embaixo do braço.

Na segunda (27), Ciro Gomes (PDT) apresentou a William Bonner um livreto em que detalha a proposta de abater dívidas pessoais e retirar brasileiros do SPC. Já nesta terça (28), Jair Bolsonaro (PSL) levou o livro infantil “Aparelho Sexual e Cia.”.

Após tentar mostrá-lo às câmeras e ser impedido pelos apresentadores, sob a justificativa de que isso contrariaria as regras estabelecidas na transmissão, o candidato declarou: “Um pai não quer chegar em casa e ver o filho brincando com boneca por influência da escola”.

Mas, afinal, o que diz esse livro infantil?

“Aparelho Sexual e Cia.”, foi escrito por Hélène Bruller e por Zep (pseudônimo do autor suíço Philippe Chappuis) e foi traduzido para mais de dez idiomas, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos. No Brasil, foi publicado pela Companhia das Letras em 2007 e atualmente está fora de catálogo.

 

Dividido em seis capítulos, é um guia que utiliza toques de humor e linguagem de histórias em quadrinhos para falar sobre sexualidade, amor e relacionamento para o público infantojuvenil.

Aqui vale um parêntese. Sempre que aborda a obra, o candidato a aproxima da faixa etária de seis anos. Uma criança dessa idade ainda está em fase inicial de alfabetização e não apresenta, no geral, capacidade de leitura para compreender sozinha a linguagem escrita e visual utilizada na narrativa. Para um menino ou uma menina de seis anos ter contato com o título, provavelmente será a partir da mediação dos pais ou de outro adulto. Uma leitura independente se torna mais factível a partir dos nove anos.

Voltando ao livro, o primeiro capítulo fala de relacionamentos. O que é estar apaixonado? O que é sair com alguém? Como é beijar? O seguinte discorre sobre a puberdade e as mudanças corporais sofridas por garotos e garotas: mudanças na voz, crescimento dos seios, surgimento de pelos, acentuação dos odores etc.

Em seguida, vem a parte do sexo. Com linguagem didática, perguntas diretas e respostas claras, a obra explica o que é transar, o que é uma ereção, como funciona o orgasmo e a anatomia dos órgãos sexuais. A informação quase sempre é precisa e sem tabu.

Sobre o que é transar, por exemplo, o livro diz: “Quando você sente atração por uma pessoa, fica a fim de se aproximar cada vez mais dela. Assim, os namorados vão unir seus corpos pelos órgãos genitais. O órgão masculino é que vai penetrar o feminino”.

O quarto capítulo aborda a maternidade e a corrida dos espermatozoides rumo ao óvulo, mesclando ciência com linguagem de tirinhas de jornal. Depois é a vez de falar sobre contracepção e higiene. Por fim, há um serviço completo sobre quem procurar em casos de abuso ou pedofilia.

Durante todo o livro, o personagem principal interage com o universo da sexualidade procurando gerar um efeito cômico. Ele se beija no espelho para treinar, não entende muito bem como funciona uma relação sexual e, muitas vezes, imagina as coisas da maneira mais literal possível.

A abordagem lembra a de outros livros infantojuvenis que fizeram algum sucesso no passado. Um dos casos mais recentes é o da série publicada pela Melhoramentos no início dos anos 2000 que traz títulos como “Coisas Que Todo Garoto Deve Saber Sobre Garotas”, “Coisas Que Toda Garota Deve Saber Sobre Garotos” e “Beijos – Coisas Que Todo Mundo Quer Saber”. Nesse sentido, “Aparelho Sexual e Cia.” não inventa a roda nem está sozinho.

Em vídeo publicado em suas redes sociais em 2016, Bolsonaro afirma que o título “é uma porta aberta para a pedofilia” e diz equivocadamente que ele foi comprado por programas federais como o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) –na verdade, a obra foi adquirida pelo MinC (Ministério da Cultura) para bibliotecas.

No mesmo vídeo, o capitão reformado afirma sobre o conteúdo que “todo ele é uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem por sexo”.

Nesta quarta (29), a Companhia das Letras negou que o conteúdo seja pornográfico. “O conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que formar e informar as crianças sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação manifestada pelo próprio Estado, por meio de sua Secretaria de Cultura do Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um específico à ‘Orientação Sexual’ para crianças, jovens e adolescentes.”

A Unesco, ligada às Nações Unidas, lançou em 2014 um guia para os professores brasileiros sobre como abordar a educação sexual com alunos. Além disso, já declarou no Brasil que a educação sexual e de gênero nas escolas pode ajudar a prevenir a violência contra as mulheres.

Na França, o livro inspirou uma exposição infantil sobre sexualidade, com informações e atividades interativas inspiradas nos capítulos. A mostra foi aberta ao público em 2007 e depois viajou por diferentes países da Europa.

Não é a primeira vez, porém, que a obra causa polêmica no Brasil. A Promotoria do Distrito Federal já havia pedido esclarecimentos sobre o livro à Companhia das Letras em 2015. Na época, pais questionaram o conteúdo de “Aparelho Sexual e Cia.”, adotado por um colégio.

Na última pesquisa Datafolha, Bolsonaro lidera a corrida presidencial no cenário sem o ex-presidente Lula, preso em Curitiba: tem 22% das intenções de voto.

 


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