Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Vivemos a ‘época do like’ na literatura, afirma Heloisa Prieto; leia entrevista https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/19/vivemos-a-epoca-do-like-na-literatura-afirma-heloisa-prieto-leia-entrevista/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/19/vivemos-a-epoca-do-like-na-literatura-afirma-heloisa-prieto-leia-entrevista/#respond Wed, 19 Oct 2016 14:16:53 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/Literatura-a-escritora-Heloisa-Prieto-posa-para-foto-com-sua-gata-Mixirica-na-biblioteca-de-sua-casa-em-São-Paulo-SP.-São-Paulo-SP-24.04.2008.-Foto-de-Bruno-MirandaFolhapress-180x101.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=629 As redes sociais não influenciam apenas os conteúdos dos livros feitos para adolescentes –basta lembrar que o topo das listas de mais vendidos está há meses dominado por youtubers, que foram a grande atração da Bienal do Livro de São Paulo deste ano. Pelo contrário: likes e compartilhamentos influenciam diretamente também a decisão de qual livro o leitor, principalmente o mais jovem, vai escolher –algo que antes ficava restrito ao boca a boca com os amigos e às críticas na imprensa.

“A gente vive a época do like, do efeito manada que indica sempre as mesmas coisas”, diz a escritora Heloisa Prieto, criadora de histórias tanto para crianças quanto para adolescentes –um de seus últimos livros, “A Una e o Leão”, acaba de ser lançado pela editora Sesi. O blogueiro, que na teoria serviria como um canal de opinião individual, ao diversificar ideias, encontrar histórias desconhecidas ou falar com grupos específicos, acaba não fazendo isso. E indica, na maioria das vezes, os mesmos best-sellers de sempre. “Por que raios você só deve gostar, adorar, recomendar um livro?”, pergunta Prieto.

Mas ressalta: as listas de livrarias (e os youtubers e blogueiros de plantão) podem enganar. Há muita gente lendo em bibliotecas, comprando livros em sebos e se interessando por histórias que não são captadas pelos radares mais tradicionais.

Leia abaixo entrevista com a autora.

 

*

 

Folha- As listas de livros mais vendidos para adolescentes estão com muita história de youtuber e pouca literatura. O que está acontecendo?

Heloisa Prieto – Essas listas são todas baseadas em vendas de livraria, né? Elas dão uma falsa impressão de que só isso está sendo lido. Só que existe muita gente que não chega ao livro pela livraria. Compra na banca, na internet, em outros lugares. Lê na biblioteca, nos eventos de periferia –o Sarau do Binho, por exemplo, é muito forte. Existe um mundo fora das livrarias e dos circuitos mais conhecidos.

Teve uma vez, por exemplo, que uma leitora veio me pedir um autógrafo. Mas, no lugar de um livro, ela trouxe um caderno onde tinha transcrito a história inteira. Quando perguntei por que tinha feito aquilo, ela me disse que estava em liberdade assistida e que não podia tirar o livro do lugar onde cumpria pena. Então copiou tudo no caderno para pegar o autógrafo. É forte, muito bonito. A leitura não chegou nela via livraria. Isso não consta na lista de mais vendidos. Tem muita coisa boa acontecendo, edições independentes que estão esgotadas, poetas originais que encontram o seu público.

 

Esses best-sellers influenciam de alguma maneira a produção de livros para adolescentes?

Está acontecendo uma contaminação crescente da linguagem do roteiro norte-americano na literatura. É sempre a mesma estrutura: arco narrativo um e dois, ponto de virada um e dois e toda essa trajetória que, em certa medida, sempre existiu. É igualzinha à usada em livros como “Sabrina” e outros que se preocupam mais em ser confortáveis do que em instigar. O Quixote só lia besteiras, por isso ele vira maluco. É essa a crítica que o Cervantes faz. A besteira que ele lia naquela época são hoje as histórias de youtubers, os “Game of Thrones”.

A literatura instigante, aquela que faz pensar, que faz sentir, é menos da moda. O que fica famoso é o livro que você pode controlar. Mas isso varia, claro. A mesma galera que lê “Crepúsculo”, costuma gostar de literatura gótica, por exemplo. E os livros góticos não têm fim aconchegante, não acabam como se imagina. As duas coisas acontecem em paralelo.

 

A gente vive a ditadura do blogueiro que só recomenda o best-seller?

A gente vive a época do like, do efeito manada que indica sempre as mesmas coisas. Isso é o oposto da sensação de encontrar um livro que seja seu. Eu adoro me sentir parte do todo, viver o clima de estádio de futebol, de show de rock. Mas o problema disso na literatura é quando você se preocupa muito com o best-seller, cria unanimidades, e esquece o long-seller. Nunca me interessei em ser best-seller. Quero ser alguém que permanece. O problema é que não se valoriza esse tipo de obra hoje.

O blogueiro, que era para ser um canal de opinião individual e ajudar a diversificar opiniões, acaba tornando tudo mais homogêneo. Sartre dizia que o crítico é o protetor do bolso do burguês [risos]. Ele recomenda gastar dinheiro com isso, não com aquilo. Só que assim você acaba com uma coisa muito legal: o ódio. Existem mil maneiras de se gostar de um livro –e uma delas é odiar. Os likes acabam com a possibilidade do conflito. Por que raios você só deve gostar, adorar, recomendar um livro? A literatura desloca, gera indagações, medos.

 

O adolescente é mais suscetível a esse efeito manada, ao like?

Com certeza. Mas também faz parte da adolescência, depois de se distinguir da família, buscar se diferenciar do próprio grupo. Encontrar o que é só seu. Mas claro que o livro que é recomendado pelo like, que fica badalado, também é importante. Tem hora que você está no trem e só quer saber se o detetive vai descobrir quem foi que cometeu o assassinato. Quer sangue. Quando sua mente está cansada, esse tipo de leitura é muito legal. Seu desejo é ter um livro que você domine –e não o contrário.

 

Não é possível juntar as duas coisas? Fazer um best-seller que faça pensar?

O Umberto Eco fez “O Nome da Rosa” assim, né? Apostou que faria um best-seller, foi lá e fez. É divertido brincar com esses códigos. Ele usou toda a estrutura clássica, o conflito de quem matou quem, o mistério de quem vai ficar com quem –algo que é usado exaustivamente em novelas. E, com isso, criou um livro maravilhoso.

Tudo é um jogo narrativo. Não existe uma história que não beba na fonte de “Dom Quixote” ou de “O Apanhador no Campo de Centeio”. São livros matriciais. As histórias da saga “Crepúsculo” tinham momentos de idílio ou conversa, o que é algo muito presente nas novelas de cavalaria, em Platão. Era algo que havia sido esquecido no romance moderno, mas que os vampiros recuperaram. As histórias hoje são feitas com muita ação. Como os roteiros de filme norte-americano.

 

‘Crepúsculo’ é uma saga muito feminina, assim como várias outras histórias que estão nas listas de mais vendidos. Best-sellers são feitos mais para meninas?

As meninas estão lendo muito. Mas não é algo novo. A gente teve a Biblioteca das Moças [coleção de livros publicados para o público feminino até a década de 1960]. Estou preparando um livro que me fez pesquisar essa coleção, que eu herdei da minha avó. Todas as histórias eram absolutamente iguais. Assim como acontece hoje, só que elas tinham outra pegada. Por exemplo: as “it girls” hoje são as meninas elegantes. Mas, naquela época, em que já existia esse termo, eram as meninas mais selvagens, que usavam saia curta, chocavam a sociedade. Mas, no fundo, é o mesmo.

O livro previsível é igual o fenômeno das novelas, o fascínio que “Chaves” exerce entre crianças e jovens. Quando eu era professora, lembro que os pais odiavam “Chaves”. Eles vinham me perguntar por que os filhos não desgrudavam do programa, que tinha sempre o mesmo começo, meio e fim. Justamente por isso. Porque é previsível. O livro previsível é um aconchego.

 

As meninas hoje estão discutindo mais questões de gênero e feminismo, mas isso não fez a busca por livros aconchegantes diminuir.

A gente vive em uma sociedade muito árida, sem momentos mágicos, sonhos. O urbano é muito desprovido de imaginação e criatividade. Então, o livro vira uma projeção.

 

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NOME Heloisa Prieto // IDADE 62 anos // LIVROS RECOMENDADOS “1001 Fantasmas”, “Andarilhas”, “As Três Faces da Moeda” // LIVRO FAVORITO NA INFÂNCIA Coletânea de contos do Hans Christian Andersen

O autor sabe que está escrevendo um livro previsível?

Sabe, claro. O que ele não sabe é a mensagem. As crianças e os jovens me perguntam qual é a mensagem da história que escrevi. Sei lá. Quando você escreve, existe uma tendência, uma afirmação mais ampla. Mas não tem uma mensagem óbvia. O escritor não tem controle. A linguagem conduz para outros lugares, coloca outros níveis de percepção. A tal mensagem depende da leitura. Da autoria da leitura.

 

Como assim?

Na autoria da leitura, não existe efeito manada nenhum. Você é o cocriador do livro. Tenho muitos leitores que mostraram partes das minhas histórias que eu não tinha percebido. Não via daquela maneira. Cada pessoa ressignifica a obra do seu jeito. Esse é o exercício legal, o barato da leitura. E é isso o que tornaria um blogueiro ou um youtuber que fala de literatura mais instigante. Não cairia naquele papel do Sartre, de ser o crítico que só diz o que o burguês deve ou não comprar. Iria contra a tendência do like.

 


 

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Aos 10 anos, Sophia lança livro e doa lucro para ajudar refugiados https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/08/aos-10-anos-sophia-lanca-livro-e-doa-lucro-para-ajudar-refugiados/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/08/aos-10-anos-sophia-lanca-livro-e-doa-lucro-para-ajudar-refugiados/#respond Thu, 08 Sep 2016 09:19:56 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/DSCN5100_va2-180x119.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=473 Tudo começou com a TV, no fim de 2015, quando a pernambucana Sophia Maia, 10, estava no sofá com a mãe. Na tela, as duas assistiam à cena de uma menina refugiada do Oriente Médio desembarcando na ilha de Lesbos, no litoral da Grécia. Ela tinha mais ou menos a idade de Sophia e um único dispositivo para não se afogar no mar: uma boia de plástico presa ao corpo, dessas que crianças costumam levar para a piscina ou para a praia.

Foi o pontapé inicial para um turbilhão de informações. Naquele exato instante, crianças e adultos estavam fugindo de seus países e chegando de barco à Europa. Na maior parte das vezes, viajavam escondidos por não terem permissão para a viagem. Vários acabaram se afogando pelo caminho, inclusive crianças –como o menino sírio Aylan Kurdi, de três anos (leia mais aqui).

Foi então que Sophia teve uma certeza: queria ajudar de algum jeito aquelas pessoas. “Primeiro, meus pais não me levaram muito a sério, porque eu queria ir para a Síria”, disse a menina ao blog. Ao se convencer de que era impossível ir ao Oriente Médio e oferecer ajuda pessoalmente, a garota encontrou uma saída: produzir desenhos, vendê-los e doar o lucro aos refugiados.

Surgia naquele momento o embrião do livro “Imaginário”, lançado na Bienal do Livro de São Paulo, que terminou no último domingo (4).

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Sophia (à dir.) com crianças refugiadas do Congo, na Bienal do Livro de São Paulo (foto: Gabriel de Moura)

“Desenho desde os três anos de idade. E nunca mais parei”, diz a menina, hoje aos dez. A primeira ilustração produzida para o projeto é a que abre este texto –a inspiração foi justamente a refugiada com a boia de brinquedo. Depois, vieram outros desenhos: uma família que viaja do Iraque à Alemanha, mulheres sírias, barcos de refugiados cruzando o mar, um barbeiro barbudo chamado Yousseff.

Antes de entrarem no livro, as 41 ilustrações originais fizeram parte de uma exposição em Recife (PE). No primeiro dia da mostra, que aconteceu em dezembro do ano passado, 38 trabalhos foram vendidos. No segundo, os restantes foram comercializados, o que fez com que Sophia arrecadasse R$ 8.000. O valor foi doado para a Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado), em São Paulo. Meses depois, a garota visitou a instituição, dançou frevo com crianças refugiadas e fez duas novas amigas: Jessy, do Congo, e Gawa, da Síria.

É para elas que o livro recém-lançado está dedicado. Além dos desenhos da exposição, ilustrações inéditas foram acrescentadas à obra, cujas páginas podem ser destacadas. Assim como no caso da mostra, o dinheiro arrecadado com a venda será direcionado à Adus –mas, dessa vez, para a sede de Curitiba, que foi inaugurada no primeiro semestre deste ano.

“Quando encontrei as meninas refugiadas em São Paulo, foi como se a gente já se conhecesse há muito tempo”, contou.

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Sophia com o livro ‘Imaginário’ (foto: Gabriel de Moura)

O livro pode ser adquirido diretamente na sede da Adus (av. São João, 313, 11º andar, São Paulo) ou pelo e-mail expoimaginario@gmail.comEmbora a obra tenha sido lançada há poucos dias, Sophia já mira o futuro e os novos planos. “Quero começar logo um projeto para ajudar crianças que nasceram com microcefalia. É um problema bem grande em Pernambuco.”

 

“Imaginário”

Autora Sophia Maia

Editora publicação independente

Preço R$ 50

Leitor iniciante

 


 

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Brasileiro não conhece a literatura do próprio país, diz Ziraldo https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/04/brasileiro-nao-conhece-a-literatura-do-proprio-pais-diz-ziraldo/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/04/brasileiro-nao-conhece-a-literatura-do-proprio-pais-diz-ziraldo/#respond Sun, 04 Sep 2016 16:38:40 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/16242506-180x127.jpeg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=459 Prestes a completar 84 anos e com mais de 150 livros e 8 milhões de exemplares vendidos, Ziraldo diz que ainda está longe de perder o pique.

“Tudo o que você faz com carinho não cansa”, diz o escritor, que participou das 24 edições da Bienal do Livro de São Paulo e autografa sua nova obra no evento deste ano, neste domingo (4), a partir das 15h, no estande da editora Melhoramentos.

Quando criança, Ziraldo era moleque. Subia em árvore, corria e jogava bola. Por isso, a maior parte do seus personagens são meninos –o mais famoso deles, um bem Maluquinho. Mas de um tempo para cá, ele vem explorando o universo das garotas. Seu novo livro, “Meninas”, é um elogio à fase que toda menina passa: o período entre largar a boneca e o o início da pré-adolescência.

Leia abaixo entrevista que o autor deu ao blog.

 

*

NOME
NOME Ziraldo // IDADE 83 // LIVROS RECOMENDADOS ‘O Menino Maluquinho’, ‘Flicts’, ‘Meninas’ // LIVRO FAVORITO NA INFÂNCIA gibis do Flash Gordon

Folha – A Bienal está mais vazia neste ano?

Ziraldo – A Bienal sempre é muito cheia. Mas já foi muito mais. Acho que o pessoal anda meio sem dinheiro.

O engraçado é que são as mesmas famílias que vêm falar comigo. Outro dia apareceu um avô para eu autografar o livro dele. Mas pai e mãe segurando os livros que leram na infância, muitas vezes acompanhados dos filhos, são metade da fila de autógrafos. Por isso demora tanto. O ruim é ficar quatro horas sem ir ao banheiro –sendo que velho vai de meia em meia hora, né?

 

Qual o segredo para aguentar firme nas filas tão grandes?

O negócio é o seguinte: tudo o que você faz com alegria, com diversão, não cansa. É isso o que sei fazer, é o que eu faço no capricho. E eu tenho uma característica física ou psicológica que me faz cansar só depois que acaba. Não registro cansaço enquanto estou dando autógrafo nem sensação de fome. Mas, quando acaba, eu caio morto.

 

E como está a saúde?

Ninguém entende a velhice. Eu cheguei na velhice e descobri que ninguém entende mesmo. A única coisa em comum que um velho tem com o outro são as dores. Qualquer organismo com mais de 80 anos está com os mesmos problemas. O que envelhece é o “cavalo”, a “entidade” está bem. Na umbanda, nosso corpo se chama cavalo. E nossa alma se chama entidade. Quando está na hora de a entidade se mandar, o que a pessoa faz? Canta para subir. Eu estou quase na hora de cantar para subir [risos].

 

Sua religião é a umbanda?

Imagina. Eu não sigo religião nenhuma. Nasci em uma família católica, ainda faço o sinal da cruz até hoje. Mas como proposta filosófica, a umbanda é a religião mais bonita do mundo.

 

As crianças que vêm pedir autógrafo mudaram muito nesses anos?

Mudaram nada. Criança não muda. A essência humana não muda. Freud usou esteriótipos gregos, ligados à cultura da Grécia antiga. Os gregos já eram neuróticos. Quer ver? Tente inventar um sentimento. Pode ficar anos pesquisando. Não tem como. O elenco de sentimentos é finito e são os mesmos desde que o homem é homem: inveja, saudade, carência, alegria, tristeza. É só isso o que a gente tem. O sentimento é imutável.

Então, a criança também não mudou nada. Veja aquele conto do flautista mágico, que tocava e fazia as crianças seguirem ele. Isso ainda está aí. Só que elas correm atrás da televisão, do MMA. Mas o sentimento ainda é o mesmo. Por isso, meus personagens não tem nome. É sempre o Menino. Porque eu falo de sentimentos.

 

E agora é a vez da Menina.

Na verdade, essa história é um ensaio disfarçado. Quis falar sobre essa instituição fantástica que é a menina, que só dura quatro verões: dos 7 aos 11 anos. Depois disso, ela é pré-adolescente, começa a ser tocada fisicamente pelas diferenças sexuais. Antes disso, ela ainda brinca de boneca. Mas esses quatro anos, quando a menina descobre a si mesma no mundo e vai se questionando em relação aos outros, é o momento mais bonito do ser humano.

 

Por que falar especificamente sobre essa fase?

Não tem esse negócio de inspiração. Você está envolvido com a literatura todos os dias. É aquela história do sambista. De repente cai uma folha da mangueira. Aí eu falo: “Pô, olha aí uma folha caindo da mangueira”. É o que o ser humano registra. Aí, vem o sambista. Ele vê a mesma cena e já pensa: “Nossa, isso dá um samba”.

O menino pra mim dá samba, porque eu fui menino. Agora comecei a pensar em menina também.

 

“Meninas” faz referências a todo instante a “Alice no País das Maravilhas”.

Eu tenho uma neta chamada Alice. Em toda viagem que faço, compro um “Alice no País das Maravilhas” para ela. É um dos livros mais traduzidos do mundo. Ela tem “Alice” em japonês, coreano, egípcio. São mais de cem versões na casa dela. Eu já li e reli a história trezentas vezes. Estudei muito sobre o Lewis Carroll. O que está contido nesse livro novo eu percebi nas minhas sucessivas leituras.

Em “Alice”, Carroll não descreve uma menina –mas a entidade feminina enquanto criança. Só que eu não ia escrever isso num livro, né? Agora, se você ler, é isso o que está sendo dito.

 

O livro surge em uma fase em que falar sobre feminismo está na moda.

Outro dia, veio uma menina falar que era muito simpático eu trabalhar pelo empoderamento da mulher. Aí, quando ela foi embora, pensei: o que é empoderamento? Eu nunca tinha ouvido essa palavra. Só depois vi que era uma palavra da moda, sobre “levar ao poder”, “dar poder”. Não sei se está dicionarizada, mas faz sentido.

Eu estava com um amigo outro dia: “Fulano de tal é muito inteligente, mas tem uma ‘pedância’ muito grande.” É um cara pedante, logo ele tem “pedância”. As palavras são assim, são inventadas, como “empoderamento”. Por que não existe “interessância”?

 

O empoderamento feminino pode impulsionar o livro?

Pode ser, mas não fiz com essa intenção. Eu não faço nada com segundas intenções. Faço quando me comovo com um tema.

O fato é que a menina lê mais do que toda a fila de meninos. Quem lê é menina. É sempre ela que pede para tirar foto comigo, quer um autógrafo. Menina sempre leu mais que menino e sempre teve mais preocupações de ordem filosófica. O ser humano feminino se questiona muito mais que o masculino.

 

O brasileiro conhece bem a literatura brasileira?

Não conhece nada! Quem lê com profundidade por aqui?

Mas pode ser que surja em breve uma geração de leitores, porque há um esforço profundo para que isso ocorra. Principalmente depois que foi aprovada a última lei de Diretrizes e Bases [em 1996] e que passou-se a adotar livros nas escolas. É isso o que permite ao escritor infantil minimamente sobreviver –e não a venda em livraria.

 

Também tinham as compras do governo

E esse governo parou de comprar. Já quebrou muita editora. Teve editora nesses últimos anos que não lançou nenhum livro novo.

 

Até quando pretende escrever para crianças?

Enquanto eu estiver vivo. Tenho uma série em que criei dez personagens. Cada um habita um planeta diferente do Sistema Solar. Faltam três. Eu fiz para garantir pelo menos dez anos de vida. Faço um por ano e não posso morrer enquanto não acabar a série. Se, assim que escrever o décimo, eu não apagar, conforme o compromisso que assumi, aí invento outra série. De 12 livros [risos].

 

Pode fazer dos signos. Está na moda também.

É uma boa ideia, hein? Criar uma história para o Escorpião.

 

Daqui a 50 anos, seu nome vai ser lembrado pela literatura infantojuvenil?

Se você consegue encantar uma geração, fica muito difícil de desaparecer. É o caso do Monteiro Lobato, do Lewis Carroll, irmãos Grimm.

 

Não pretende entrar para a Academia Brasileira de Letras?

Fui candidato, mas renunciei porque o José Mindlin [1914-2010] também se candidatou. Quando o Mindlin morreu, eu falei para eles que ia me candidatar de novo. Aí me disseram que talvez fosse melhor esperar, porque tinha outro nome forte na disputa. Mas não é eleição? Achei que seria natural ficar com a vaga que tinha dado para o Mindlin e continuei na disputa. Dei com os burros n’água. Aí não me candidatei mais. Mineiro é assim. Mas pode escrever aí: se eles quiserem me chamar, aceito sem problemas.

 

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“Meninas”

Autor Ziraldo

Editora Melhoramentos

Preço R$ 49 (2016; 48 págs.)

Leitor intemediário + leitura compartilhada

 


 

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Palestra de Kéfera na Bienal tem mais gritaria da plateia do que bate-papo https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/palestra-de-kefera-na-bienal-tem-mais-gritaria-da-plateia-do-que-bate-papo/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/palestra-de-kefera-na-bienal-tem-mais-gritaria-da-plateia-do-que-bate-papo/#respond Thu, 01 Sep 2016 23:14:11 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/BIENAL-DO-LIVRO-2783-1-180x120.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=448 Nos primeiros cinco minutos, não dava para ouvir nada. O volume do microfone era incapaz de superar a gritaria dos fãs que lotaram os 550 lugares da arena da Bienal do Livro de São Paulo e dos que se aglomeraram do lado de fora do espaço. Depois, com o som já restabelecido, a youtuber Kéfera Buchmann, 23, dona do canal 5incominutos, conseguia ser ouvida até pela turma do fundão. Mas pouco importa.

“Não consegui ouvir quase nada do que ela disse. Mas só de ver a Kéfera ali, pertinho, já valeu a pena. Ela é perfeita!”, gritava Lara Gonçalves, 14, que viajou os 313 km que separam Ribeirão Preto (SP) da capital paulista na tarde desta quinta-feira (1º), só para ver a palestra da youtuber e agora também escritora .

Kéfera lançou em 2015 o livro “Muito Mais que Cinco Minutos” (ed. Paralela; R$ 24,90), que já vendeu mais de 400 mil exemplares. E acaba de publicar o segundo volume, “Tá Gravando. E agora?” (R$ 29.90), pela mesma editora, um dos selos da Companhia das Letras. Mas para os fãs que visitaram a Bienal, e talvez para os mais de 9 milhões de inscritos em seu canal, o importante mesmo é vê-la fazer ao vivo o que costuma mostrar nos vídeos.

E a youtuber correspondeu. Entrou no palco gravando a plateia com o celular, parou para fazer uma selfie de cima do palco, rebolou ao som de “Na Boquinha da Garrafa” cantada a capela e fez sua “sarrada”, movimento em que pulou e jogou o quadril para frente. Tudo para delírio e gritaria dos fãs extasiados.

 

“O que ela falou do filme mesmo? Não consegui entender”, perguntou à reportagem Júlia Porto, 11, sobre o longa-metragem “É Fada”, que tem previsão para estrear no dia 6 de outubro. Na história, inspirada no livro “Uma Fada Veio me Visitar”, de Thalita Rebouças, Kéfera vive a desajeitada fada Geraldine que, ao perder suas asas, passa a ajudar a adolescente Júlia a ganhar popularidade na nova escola (veja o trailer aqui).

A youtuber estava falando que havia gostado da experiência de trabalhar no cinema e destacava a sua formação como atriz. “Já fiz peça de teatro e interpreto muitos personagens nos vídeos do meu canal. Quero mostrar cada vez mais o meu lado atriz. Principalmente no cinema”, disse.

A plateia parecia nem ouvir. Aos gritos de “Kéfera, eu te amo”, “Kéfera gostosa” e “Tira a roupa”, o público jogava dezenas de objetos no palco, de bolachas e hidratante a camiseta usada e um celular –que a youtuber pegou, devidamente tirou uma selfie com o aparelho e devolveu para o dono. “Estou até rouca”, disse Milena, 9, que assistia à fala em cima dos ombros do pai, o bancário Luis Bragança, 41. Ela só lamentava não ter conseguido uma das 300 senhas para a sessão de autógrafos com a autora, que aconteceu após a palestra.

Antes de ir embora, Kéfera ainda adiantou que está preparando mais dois longas. “Vai ser um filme mais adulto, mas não vai ser pornô”, brincou. De livros e literatura, pouco conseguiu dizer.

“Vocês querem mesmo saber sobre o livro?”, perguntou para o público, que empunhava cartazes e aumentava os decibéis do pavilhão da Bienal.

 

BIENAL DO LIVRO

Quando até 4/9

Onde Pavilhão do Anhembi – av. Olavo Fontoura, 1.209; tel. (11) 2226-0400

Quanto R$ 20 (segunda a quinta) e R$ 25 (sexta a domingo)

Programação horários e mais detalhes em bienaldolivrosp.com.br

 


 

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No topo da lista de livros mais vendidos, atriz de ‘Carrossel’ dá autógrafos na Bienal https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/31/no-topo-da-lista-de-livros-mais-vendidos-atriz-de-carrossel-da-autografos-na-bienal/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/31/no-topo-da-lista-de-livros-mais-vendidos-atriz-de-carrossel-da-autografos-na-bienal/#respond Wed, 31 Aug 2016 14:31:40 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/manoela-e1472652280256-180x95.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=417 Nem um novo escritor meteórico nem um desses youtubers que desandaram a publicar livros nos últimos meses. Quem está no topo da lista dos mais vendidos há quase dois meses é uma atriz de “Carrossel”.

Larissa Manoela, que ficou conhecida como a Maria Joaquina da novela do SBT, e o seu livro “O Diário de Larissa Manoela” estão desde o dia 2 de julho na liderança do ranking de obras infantojuvenis mais vendidas publicado semanalmente na Folha. A lista é feita com base no número de exemplares comercializados em livrarias de todo o país.

Com formato simples, o livro conta a história da atriz, do nascimento e vida na escola até a festa de 15 anos, com direito a uma cartinha do atual namorado –o também ator João Guilherme Ávila, que atuou com a menina em “Cúmplices de um Resgate”.

O diário, longe do trato e do rigor literário das auto-biografias, é o que o título propõe: uma versão estendida dos perfis e curiosidades sobre um determinado artista, gênero que costumava entupir as revistas para adolescentes nos anos 1990 e 2000. Assim como essas publicações tinham sucesso de venda no passado, o livro parece seguir a mesma tendência.

 

Logo no início do livro, a atriz conta que tinha poucos colegas na infância e que gostava mesmo é de brincar com seus quatro amigos imaginários. “Eu almoçava com eles, limpava a casa com eles, só não ia para a escola”, escreve. Depois, a história mostra como ela fez diversos testes para se tornar atriz e modelo na infância, as brincadeiras de agência de modelos com suas bonecas e como foi aprovada para atuar no filme “O Palhaço” (2011), de Selton Mello, e para entrar no elenco da novela “Carrossel”.

Como todo bom relato pessoal, claro que não faltam fotos inéditas da garota bebê e um capítulo inteiro sobre sua primeira menstruação e as cólicas que surgiram depois. Além disso, comentários do pai e da mãe aparecem intercalados à narrativa como se fossem conversas de WhatsApp ou qualquer outro aplicativo de mensagem.

No fim, relembrando as reportagens das revistas teen, há oito listas sobre os gostos de Larissa Manoela: 10 músicas brasileiras (a primeira é “Te Vivo”, de Luan Santana), 10 ídolos (o primeiro lugar ficou para Rihanna) e 10 gatos (Justin Bieber liderando), por exemplo. A última é 10 marcas: de bolsas, jóias, roupas, perfumes e outros acessórios. Assim como os youtubers mais famosos, ela também não deixa de falar sobre produtos.

A atriz autografará seu livro nesta quinta-feira (1º), às 14h, na Bienal do Livro de São Paulo.

 

“O Diário de Larissa Manoela”livro-larissa-manoela

Autora Larissa Manoela

Editora Harper Collins

Preço R$ 29, 90 (152 págs.)

Leitor avançado

 

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BIENAL DO LIVRO

Quando até 4/9

Onde Pavilhão do Anhembi – av. Olavo Fontoura, 1.209; tel. (11) 2226-0400

Quanto R$ 20 (segunda a quinta) e R$ 25 (sexta a domingo)

Autógrafos com Larissa Manoela quinta (1º), às 14h

Programação horários e mais detalhes em bienaldolivrosp.com.br


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Aos 80 anos, Mauricio de Sousa tenta ser o ‘rei da Bienal’ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/27/aos-80-anos-mauricio-de-sousa-quer-ser-o-rei-da-bienal/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/27/aos-80-anos-mauricio-de-sousa-quer-ser-o-rei-da-bienal/#respond Sat, 27 Aug 2016 23:06:12 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/BIENAL-180x120.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=400 Mauricio de Sousa está em todos os cantos da Bienal do Livro de São Paulo. Basta uma voltinha pelo evento, que acontece até o próximo dia 4 de setembro, para esbarrar em personagens da Turma da Mônica, livros do cartunista ou outros produtos que levam o traço arredondado e inconfundível do autor.

Neste ano, o pai do Cebolinha desembarcou na Bienal com artilharia pesada na tentativa de se aproximar ao máximo do público e se tornar onipresente –não apenas para crianças e suas famílias, mas também para jovens e adultos que guardam os gibis da Turma na memória afetiva. E foi nesse tom que o cartunista conversou com o público na manhã deste sábado (27), na Arena Cultural.

Aos 80 anos, Mauricio caminhou no palco visivelmente com dificuldade e falou ao microfone com voz mais baixa que o comum. Mesmo assim, controlou a plateia com habilidade. O espaço, que tem lugar para 550 pessoas, estava completamente lotado, com todos os assentos ocupados –o que fez visitantes buscarem espaço no chão para sentar ou se acotovelarem do lado de fora. Todos ávidos para ouvir o ilustrador, que falou durante apenas 15 minutos e logo abriu o microfone para a plateia fazer perguntas.

A partir daí, Mauricio deu o seu show. Dispensando atenção a todos e com a maior proximidade possível, respondeu por que o Cascão não toma banho (“Nunca vi, mas ele deve tomar uma vez por semana”, disse), por que a Mônica bate no Cebolinha (“Tapa de amor não dói”) e que suas primeiras personagens femininas foram inspiradas em suas filhas. Atualmente, todos os seus dez filhos têm a própria versão em desenho. Veja abaixo:

 

Num momento digno de apresentador de auditório, pediu aos que aprenderam a ler com os personagens da Turma da Mônica que levantassem a mão. Mais de 90% dos presentes, de diferentes idades, levou os braços ao ar, logo emendando uma sonora salva de palmas para aquele que tenta ser o “rei” desta edição da Bienal.

Como todo monarca precisa de um reino, uma área de 500 m² foi criada para abrigar a obra do ilustrador e ficará aberta até o fim do evento. O Espaço Mauricio de Sousa tem uma estátua da Mônica de três metros de altura para pessoas tirarem selfies, escorregador, parede de escalada e painéis para serem coloridos.

Um tóten interativo permite ainda que visitantes criem o seu próprio personagem, customizando roupa, cor da pele, cabelo e acessórios. Depois de pronta, a criação pode fazer parte de uma história com o restante da Turma da Mônica e ser impressa na forma de um gibi personalizado. A revistinha custa R$ 39,90. A impressão de um cartaz com o personagem criado é gratuita.

Além disso, para tentar aproximar ainda mais o seu estúdio dos leitores, desenhistas da Mauricio de Sousa Produções foram deslocados à Bienal, o que permite ao público ver as historinhas serem feitas ao vivo. A poucos metros de distância, uma exposição conta a trajetória dos 80 anos do artista.

LITERATURA E ESPIRITISMO

Como a Bienal ainda é do livro, uma espécie de livraria da Turma da Mônica, criada em parceria com a editora Girassol, comercializa suas obras e gibis, entre lançamentos e títulos mais antigos do catálogo.

Mas Mauricio extrapola os limites de seus domínios. Conhecido pelo licenciamento de seus personagens para os mais variados produtos, ele tem livros espalhados por diferentes editoras no evento –do estande da Panini ao da Boa Nova, que dá destaque ao lançamento “Magali em Outras Vidas”.

O livro aborda o tema da reencarnação e revela o que a personagem comilona fez em tempos passados. A obra causou algum burburinho, mas não é o primeiro livro com inspiração espírita da Turma da Mônica, que já emprestou seus personagens em 2014 ao “Meu Pequeno Evangelho”, também da editora Boa Nova, em que Cebolinha, Cascão, Anjinho e Penadinho aprendem sobre o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, escrito por Allan Kardec.

Como um bom negociante que sempre procura agradar todos os clientes, Mauricio de Sousa também tem obras nas prateleiras sobre passagens da Bíblia, que podem cair no gosto de católicos e evangélicos. Da igreja ao molho de tomate, da loja de brinquedos à Bienal, o pai da Mônica só deseja uma coisa: estar em todos os cantos.

 

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Bienal começa sem filas e com estandes tranquilos https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/bienal-comeca-sem-filas-e-com-estandes-tranquilos/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/bienal-comeca-sem-filas-e-com-estandes-tranquilos/#respond Fri, 26 Aug 2016 20:26:22 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/BIENAL.2-180x120.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=393 O público do primeiro dia da 24ª Bienal do Livro de São Paulo, que começou nesta sexta-feira (26) e vai até o dia 4 de setembro, não lotou o evento nem provocou filas ou tumultos nos estandes das editoras.

A CBL (Câmara Brasileira do Livro), que organiza a Bienal, ainda não divulgou a quantidade parcial de visitantes. Mas quem chega ao Anhembi não enfrenta filas para comprar ingressos na bilheteria ou problemas para conseguir um táxi ou embarcar no ônibus gratuito que liga o pavilhão à estação Tietê do metrô.

A tranquilidade já era esperada. Historicamente, o primeiro dia do evento é voltado para o mercado e os negócios, com poucas atrações culturais na programação. Justamente por isso, pode se tornar uma tática para o público.

“Sempre trago os meus filhos no primeiro dia, por ser mais vazio”, diz Martha Miranda, 47, que estava com os dois filhos, Bruno, 11, e Larissa, 9. Ambos aguardavam em uma das únicas filas nos corredores: a que reunia fãs para tirar fotos com os personagens da Turma da Mônica no estande da Panini. Mesmo assim, a concentração não era de mais que 20 pessoas.

ABERTURA

Mais cedo, a cantora Maria Bethânia foi a principal atração da cerimônia de abertura e levou ao palco canções como “Marinheiro Só” e “Oração ao Tempo”, além de declamar trechos de obras de Mia Couto e de Guimarães Rosa às cerca de 850 pessoas da plateia.

A cerimônia, que durou cerca de uma hora e meia, contou também com discursos do presidente da CBL, Luís Antônio Torelli, e do ministro da Edudação, José Mendonça Bezerra Filho.

A organização espera que o volume de visitantes aumente no fim de semana. Não há expectativa confirmada, mas, em 2014, cerca de 100 mil pessoas visitaram a Bienal no primeiro sábado da programação –quando filas de adolescentes se estenderam na porta do pavilhão e forçou a organização a distribuir senhas de algumas palestras do lado de fora do Anhembi.

No total, 700 mil visitantes devem passar pela Bienal neste ano.

 

BIENAL DO LIVRO

Quando de 26/8 a 4/9

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‘É a pior crise que já vi’, diz Eva Furnari, que lança livro inédito para crianças https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/25/e-a-pior-crise-que-ja-vi-diz-eva-furnari-que-lanca-novo-livro-para-criancas/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/25/e-a-pior-crise-que-ja-vi-diz-eva-furnari-que-lanca-novo-livro-para-criancas/#respond Thu, 25 Aug 2016 09:00:33 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/FotorCreated2-180x93.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=369 Para as editoras, livrarias e organizações ligadas ao mercado livreiro, vivemos hoje uma das piores crises para o setor. A instabilidade econômica somada ao congelamento das compras do governo fizeram com que as vendas despencassem, principalmente as de obras infantojuvenis.

Para a escritora e ilustradora Eva Furnari, na verdade, essa é a pior crise já vista. “Não me lembro de tempos tão complexos quanto estes. As vendas para o governo sempre balanceavam as contas quando a economia não ia bem”, diz.

A autora volta a lançar um livro para crianças após três anos de hiato –mas não de pausa. “Passei esse tempo revisitando mais de 40 livros meus para relançá-los.”

A nova história, chamada “Drufs” (ed. Moderna), fala sobre diferentes famílias. Diferentes mesmo. A mãe da família Balum adora festas. A Suflê tem dois pais. Já o pai da família Zum morreu, e o da Tabelo Blu mora bem longe, lá em Shampulândia. A obra vai ser lançada na Bienal do Livro, que começa nesta sexta-feira (26), em São Paulo.

A escritora falou com exclusividade para o blog.

 

*

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NOME Eva Furnari / IDADE 67 / LIVROS RECOMENDADOS ‘Bruxinha Zuzu’, ‘Cocô de Passarinho’, ‘Listas Fabulosas’ e ‘Felpo Filva’ (ed. Moderna)

 

Folha – Ainda dá um frio na barriga na hora de lançar um novo livro?

Eva Furnari – Só se tiver de fazer discurso ou dar muitos autógrafos. [risos]

 

Como foi esse período sem criar novas histórias?

Passei três anos reformulando a minha obra. São mais de 40 livros, todos agora com a editora Moderna. Por um lado, foi muito trabalhoso, mexi em vários textos, tirei histórias do catálogo –algumas achei que não valiam a pena, outras eu detestava. Mas foi também uma alegria. Percebi que hoje sou muito mais capaz de criar uma história consistente do que no passado.

 

Parte das histórias estavam datadas?

Algumas coisas que eram engraçadas antes não fazem mais sentido hoje. A busca do escritor é sempre pelo universal. Por algo que daqui a 20 anos ainda faça sentido e tenha graça.

 

A sua volta, com “Drufs”, teve um projeto completamente diferente. Em vez de ilustrações, são fotos.

A ideia surgiu há bastante tempo, quando ia almoçar com meus filhos. Eu brincava de pegar a tampa do saleiro, por exemplo, e colocar na ponta do dedo, como se fosse um chapéu. Desenhava rostinhos até minha mão virar um conjunto de personagens. Então resolvi levar essa diversão ao livro.

Passei um ano pesquisando materiais. No começo, a ideia era fazer algo bem simples, que a criança pudesse reproduzir em casa. Mas fui sofisticando.

 

Mesmo assim, muitos dos personagens podem ser feitos em casa. É só pegar uma bexiga ou tampa de cola.

Sim. E várias outras ideias não entraram no livro. Fiz três vezes mais personagens. Tinha uma família de legumes, por exemplo.

 

Não ficou com saudade da ilustração clássica, com papel e lápis de cor?

É muito mais fácil desenhar que montar personagens nos dedos: eles derretem, desmotam, borram. Às vezes a ideia é boa, mas não acontece aquela magia depois de pronto. O desenho é mais controlável.

 

Os dedos do livro são seus?

Sim! Todos fotografados na minha casa. O fotógrafo levou dois meses para terminar o trabalho.

 

A história mostra diferentes famílias. Algumas com pai e mãe, outras com pais separados, dois pais, mãe sozinha. É uma forma de mostrar a realidade? Ou de quebrar certos preconceitos na criança?

Um pouco de cada. Não são apenas diferentes composições familiares, mas famílias com problemas ou que não param de brigar. Procurei colocar todo o discurso na boca dos personagens, que são crianças. Foi uma forma de ficar menos acadêmico e de abordar questões complexas de um mundo cada vez mais complexo de forma mais simples.

As diferenças existem, e é natural estranhar. Só que é preciso aprender a respeitá-las e a não julgar. Na verdade, parece um livro simples, mas foi supercomplexo de fazer. Acho que escrevi 50 vezes mais material do que entrou.

 

Costuma acompanhar a produção atual de livros infantojuvenis?

Quando dá tempo. Muita coisa é lançada, e sempre estou produzindo algo novo.

 

Muita coisa é lançada, mas as vendas estão em queda. Houve outra crise como a que estamos vivendo?

É a pior que já vi. Não me lembro de tempos tão complexos quanto estes. As vendas para o governo sempre balanceavam as contas quando a economia não ia bem.

Mas acho que vai ser passageiro. O governo precisa primeiro olhar para a economia como um todo e, com os problemas resolvidos, se debruçar sobre a educação. É importante voltar a comprar livros. Não somente para o mercado, mas principalmente para as escolas. Sou uma pessoa otimista.

 

Qual o papel da escola e da educação na hora de criar uma nova história?

A literatura é fundamental na escola de hoje, que é menos autoritária, para falar das questões humanas. Mas, na hora de criar, não penso em nada. Nem mesmo na criança. Preciso me divertir, senão não funciona.

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“Drufs”

Autora Eva Furnari

Editora Moderna

Preço R$ 40 (2016; 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

Lançamento na Bienal do Livro, que começa na sexta (26). A autora autografará a obra no domingo (4/9), às 15h30

 


 

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Bienal aposta em saldão e em multidões para driblar a crise https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/26/bienal-aposta-em-saldao-e-em-multidoes-para-driblar-a-crise/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/26/bienal-aposta-em-saldao-e-em-multidoes-para-driblar-a-crise/#respond Tue, 26 Jul 2016 07:00:44 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/Garotinha-alcanca-livro-em-pratileira-na-22-Bienal-Internacional-do-Livro-em-Sao-Paulo-no-pavilhao-do-Anhembi-no-primeiro-final-de-semana-aberto-ao-publico-Foto-Eduardo-K-2-180x125.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=206 A crise e a queda na venda de livros no Brasil acenderam o sinal amarelo para a Bienal do Livro de São Paulo. O evento deve apostar neste ano em promoções e descontos, além de em táticas para tentar atrair um número ainda maior de visitantes –e assim buscar ao menos manter o número de vendas da última edição.

“As editoras estão preparadas. Muitas estão esperando que a Bienal seja um fôlego para o caixa da empresa”, diz Luís Antonio Torelli, presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro), entidade que organiza a Bienal. A 24ª edição ocorrerá em São Paulo de 26 de agosto a 4 de setembro.

Em 2015, as editoras viram as vendas de livros terem a pior queda desde 2002, segundo a pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”. O levantamento, encomendado pela CBL e pelo Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), apontou que o mercado livreiro encolheu 12,6% no ano passado.

O destaque negativo foi justamente o livro infantojuvenil. No total, foram produzidos 33,5 milhões de exemplares a menos nesse segmento, se comparado a 2014 –a principal justificativa é o governo federal não ter aberto o edital do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), ou seja, das compras governamentais de obras para crianças e adolescentes que são um dos principais pilares do modelo de negócio de editoras que apostavam nesse tipo de livro.

O ano de 2016 não dá sinais de melhora. A última pesquisa, divulgada há menos de dez dias, mostrou que nos primeiros seis meses deste ano, as vendas de livros caíram 16,3% em volume e 6,94% em faturamento, em comparação com o mesmo período de 2015.

 

É nesse turbilhão que a Bienal de São Paulo vai acontecer. Além dos descontos, que devem ser oferecidos pelas editoras a fim de aumentar o volume das vendas, a organização do evento está tomando iniciativas para conseguir reunir um número ainda maior de pessoas, na esperança de que isso se reflita no faturamento.

Para isso, a Bienal deste ano terá mais espaços para autógrafos de escritores-celebridades, corredores mais largos, mais banheiros e vendas de ingresso pela internet.

Na programação, há nomes de youtubers como Kéfera, Lucas Rangel, Maju Trindade e Pedro Rezende, do canal RezendeEvil, que devem atrair grande público. Todos lançaram livros e são os queridinhos atuais das editoras, que enxergam neles a possibilidade de um sucesso editorial que se assemelhe ao dos livros de colorir de 2015.

“Temos que dosar na programação a Kéfera e o autor que ganhou o Jabuti. A Bienal precisa atrair todos os públicos e gerar novos leitores”, diz Torelli.

Com mais gente, aumenta a preocupação para evitar casos de assaltos, como os da quadrilha suspeita de roubar 45 celulares na Bienal de 2014. Para coibir furtos, o evento contará com uma base móvel da Guarda Civil Metropolitana.

Mais informações serão divulgadas nesta terça (26) para a imprensa.


 

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