Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por que ‘Caçadas de Pedrinho’ é hoje um elefante em uma loja de cristais? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/#respond Wed, 23 Jan 2019 16:30:55 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/abre_corte-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2751 A entrada de toda a obra de Monteiro Lobato em domínio público, em janeiro deste ano, gerou um reboliço no mercado editorial brasileiro –sobretudo entre editoras com selos infantis, que estão prestes a produzir uma avalanche de Emílias, Pedrinhos e Narizinhos nas livrarias (falei sobre o fenômeno aqui, na Ilustrada, neste fim de semana).

Entre as histórias do pai do Sítio do Picapau Amarelo, há as mais queridinhas: caso de “Reinações de Narizinho”, “A Chave do Tamanho” e “O Picapau Amarelo”, por exemplo, que ganharão impressões de mais de uma editora, com diferentes ilustrações e tratamentos gráficos. Mas existe também um livro que hoje é encarado como um elefante em uma loja de cristais: “Caçadas de Pedrinho”.

Escrito em 1933, a história narra uma expedição formada por personagens do Sítio à caça de uma onça. Nela, Pedrinho leva uma espingarda, Narizinho escolhe uma faca, Visconde decide empunhar um sabre de madeira e Emília carrega um espeto de assar frangos. A jornada esbarra ainda com jaguatiricas, tatus, veados, gaviões e até com um rinoceronte fugido.

A aventura se tornou uma das mais conhecidas de Lobato, manteve-se viva por gerações e certamente seria um dos xodós de qualquer editora. Seria. Isso porque leituras contemporâneas enxergaram problemas em algumas passagens da narrativa, campanhas surgiram aqui e ali conta a obra, ativistas e leitores defenderam o boicote ao livro, que se tornou o título infantojuvenil mais tóxico do escritor.

Ilustração de Guazzelli para ‘Caçadas de Pedrinho’ da editora Globinho

A primeira questão apontada é o suposto racismo de Lobato expresso no livro –nele, Tia Nastácia é descrita como “uma macaca de carvão”. Em 2010, um parecer do Conselho Nacional de Educação recomendou a não distribuição da obra em escolas públicas ou a veiculação de uma nota explicativa. O caso chegou ao STF, na forma de um pedido para a inclusão do tal adendo, que foi negado.

“O que ninguém percebe é que, no final de ‘Caçadas de Pedrinho’, Tia Nastácia fala para a Dona Benta: ‘Negro também é gente, Sinhá’. Ela atesta a sua identidade, a sua igualdade. O próprio livro trabalha a questão. Com isso, não quero dizer que Lobato não seja preconceituoso. Ele era um típico homem dos anos 1930 que vivia em São Paulo, com todo aquele imaginário que vinha da escravidão”, afirmou Marisa Lajolo, uma das principais especialistas da obra de Lobato, em entrevista ao blog, em 2017.

A outra questão que paira sobre o livro se refere à própria caçada da onça, animal que corre risco de extinção, sobretudo na mata atlântica.

Frente a isso, as editoras se viram obrigadas a optar entre três possibilidades: colocar a mão no vespeiro, adaptar a história ou ignorar o livro –nem que seja, ao menos, neste início de domínio público.

A Companhia das Letrinhas está se preparando para relançar a obra de Lobato, com novas ilustrações, em uma coleção organizada por Marisa Lajolo. Embora possa sofrer alterações, o cronograma de lançamentos está montado até 2020–e não há sinal de “Caçadas de Pedrinho”.

“Na minha opinião, é preciso não mudar os textos. Um autor precisa ser lido em sua inteireza. O que a gente faz com o passado? Só condena? Só conhece? Em vez de esconder, é importante trazer essas ambivalências à tona e entender como elas se manifestam hoje em dia”, defende Lilia Schwarcz, que lançará uma biografia juvenil de Monteiro Lobato produzida em conjunto com Lajolo. O livro deve sair pela Companhia das Letrinhas em março.

A Autêntica também publicará os textos integrais, mas não irá se aventurar com “Caçadas de Pedrinho” neste primeiro momento. É o mesmo caso da FTD. “A editora está lançando 15 obras do Lobato nessa primeira etapa. Pouco a pouco, todos os outros livros que mantêm seu vigor e sua importância serão publicados. Ainda não há previsão de em qual etapa do projeto estará ‘Caçadas de Pedrinho’”, conta Isabel Lopes Coelho, gerente editorial de literatura da FTD.

Sobre o suposto racismo do autor, ela diz: “Por ora não tivemos esse problema, pois a seleção não incluiu obras em que, a nosso ver, essa questão se apresente de forma explícita.”

Ilustração de Paulo Borges para edição da Globinho

Mesmo entre os que preferiram adaptar as histórias, não há sinal de que o livro polêmico desponte no horizonte. Pedro Bandeira, autor de “A Droga da Obediência”, está preparando versões de Lobato para a Moderna –mas declarou ao blog que não deve se debruçar sobre “Caçadas de Pedrinho”.

Uma das poucas editoras que decidiram trabalhar com o título neste ano e que em breve levarão a aventura às livrarias é a Sesi-SP. Previsto para maio, “Caçadas de Pedrinho” terá ilustrações de Jean Galvão, chargista da Folha. Ao todo, 27 títulos infantojuvenis do escritor serão publicados entre fevereiro e julho deste ano, dos mais famosos a outros mais desconhecidos.

Com projeto gráfico desenvolvido por Raquel Matsushita, a coleção contará com novos ilustradores, entre eles 11 artistas portugueses.

Por enquanto, a única chance de ler a história ainda é com as edições da Globo, que detinha os direitos de publicação da obra de Lobato até o início do domínio público, em 1º de janeiro (ou, então, com as mais antigas, como as da Brasiliense). A Globinho teve duas versões, uma ilustrada por Paulo Borges e outra por Eloar Guazzelli, enquanto o selo Biblioteca Azul publicou uma edição vintage, com capa dura e ilustrações dos anos 1930 e 1940.

“Ninguém sai matando onça por causa do livro. Defender a liberdade poética do autor não é fazer apologia à matança nem endossar o racismo no país”, acredita Mauro Palermo, diretor editorial da Globo Livros.

Para as editoras, a obra de Lobato em domínio público é como uma coleção de cristais e pedras preciosas que podem ajudar um mercado editorial em mais um ano de crise –e “Caçadas de Pedrinho” é o brutamontes com potencial de quebrar tudo a sua volta.

 


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Os 10 livros infantojuvenis de 2018 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/28/os-10-livros-infantojuvenis-de-2018/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/28/os-10-livros-infantojuvenis-de-2018/#respond Fri, 28 Dec 2018 13:13:30 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/melhores_2018-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2725 O ano está chegando ao fim, as uvas passas do Natal já descansam deprimidas nas geladeiras, o espumante do Ano-Novo aguarda a hora da virada –e lá vem a lista de livros infantojuvenis deste longo ano de 2018.

Qualquer seleção de livros diz mais sobre as preferências e leituras de quem fez a escolha. Por isso, abaixo está uma lista com clima de retrospectiva, com os dez títulos mais interessante que passaram pelo blog nos últimos 12 meses.

Em tempo: o Era Outra Vez andou meio ausente no último mês, mas voltaremos com tudo em 2019.

Até lá!

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ARTE EXPLOSIVA

Obras de Basquiat utilizadas no livro “A Vida Não Me Assusta”

O título propõe o casamento entre a poesia da ativista Maya Angelou e a pintura de Jean-Michel Basquiat. E o efeito é explosivo. “A Vida Não Me Assusta” tem versos incisivos sobre o que pode nos amedrontar, ilustrados com as pinceladas de Basquiat. O artista traz à tona uma Nova York repleta de gangues, as paredes dos prédios de Manhattan e a brutalidade dos grafites. E, assim, abre as portas da arte contemporânea para as crianças, mostrando que a dureza pode ser, sim, ingrediente de uma obra infantil. Saiba mais aqui.

 

“A Vida Não Me Assusta”

Autores Maya Angelou e Jean-Michel Basquiat

Organização Sara Jane Boyers

Tradução Anabela Paiva

Editora Caveirinha

Preço R$ 49,90 (2018, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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SEM REDENÇÃO

Crus, ásperos e sem uma redenção no fim. Assim são grande parte dos livros do mineiro Wander Piroli (1931-2006), ainda pouco conhecidos, discutidos e disponíveis nas livrarias. Três deles foram lançados para o público infantil pela editora Sesi-SP, com ilustrações de Odilon Moraes. Destaque para “O Matador”, que já teve uma edição anterior da Cosac Naify, e apresenta um menino que sonha em assassinar um passarinho. A busca pela morte do bicho ocorre em uma sequência visual verde que vai desembocando em vermelho sangue. Conheça outros livros de Odilon Moraes.

 

“O Matador”

Autor Wander Piroli

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Sesi-SP

Preços R$ 36 ( 2018, 32 págs)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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UM PUXA O OUTRO

Os portugueses Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho são dessas duplas que quase sempre produzem coisa boa. Ambos transformam simplicidade em livros que divertem e fazem pensar. E não é diferente em “É Mesmo Você?”. Nele, um papo muito doido carrega o leitor pela mão até a surpresa final. Tudo começa quando uma menina pergunta pela Inês. A partir daí, a narrativa entra em uma espiral que apresenta diferentes personagens em um casamento perfeito entre texto e imagem.

 

“É Mesmo Você?”

Autores Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho

Editora 34

Preço R$ 37 (2017, 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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MAIS QUE UM PASSEIO

Pablo Lugones e Alexandre Rampazo partem de um passeio de bicicleta para criar uma narrativa tocante. O trajeto sobre duas rodas é, ao mesmo tempo, uma jornada de descobrimento e uma metáfora sobre a passagem do tempo e sobre como a vida e as pessoas pedalam por nossa história. Afinal, tanto na vida quanto na bicicleta, é sempre bom ter companhia, ir adiante e nunca perder o equilíbrio.

 

“O Passeio”

Autor Pablo Lugones

Ilustrador Alexandre Rampazo

Editora Gato Leitor

Preço R$ 41,30 (2017; 52 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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MATRIOSKA

Ilustração de “Uma História Pelo Meio” (ed. Positivo)

Mais lembrada por seus romances para adultos, Elvira Vigna tem uma importante obra infantojuvenil. Em “Uma História Pelo Meio”, ela narra o encontro de uma menina e um vendedor de pássaros. Mas, em vez de ser linear, o enredo é composto de uma história dentro da outra, como se fosse uma matrioska. Sem que o início do livro seja de fato o início da história, muda-se de ponto de vista como um pássaro troca de poleiro. Da menina ao irmão, da ave ao vendedor. Desdobramentos que instigam quem lê a criar as próprias aventuras. Saiba mais sobre a obra de Elvira Vigna.

 

“Uma História Pelo Meio”

Autora Elvira Vigna

Ilustradora Raquel Matsushita

Editora Positivo

Preço R$ 43,90 (2018, 56 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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POLÊMICA DO PRESIDENTE ELEITO

Quando era candidato à Presidência e foi entrevistado pelo Jornal Nacional, Jair Bolsonaro levou ao programa um livro infantil –e colocou o título no centro de um debate nacional. A obra era “Aparelho Sexual e Cia.”, que fala sobre educação sexual e estava esgotada no catálogo da Companhia das Letras (após isso foi reeditada). O presidente eleito informava incorretamente que o livro fazia parte do kit gay e que havia sido distribuído em escolas públicas –na verdade, exemplares haviam sido comprados pelo MinC. Saiba mais sobre o livro aqui. Conheça o conteúdo da obra aqui. 

 

“Aparelho Sexual e Cia.”

Autora Hélène Bruller

Ilustrador Zep

Tradutor Eduardo Brandão

Editora Seguinte

Preço R$ 39,90 (2007, 96 págs.)

Leitor avançado

 

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PARA TODAS AS IDADES

“De Novo” não foi pensado especificamente para o público infantil. Mas pode ser uma boa pedida para crianças. Uma breve explicação técnica diria que o título é composto por seis livretos e que cada um é formado por quatro folhas dobradas em locais diferentes e costuradas entre si. Destaque para os folhetos mais visuais –sobretudo o que traz duas pessoas que ficam frente a frente e interagem, ou o que tem fotografias antigas, com pinta de serem do início do século 20, invadidas por intrusos à medida que avançam. Conheça a obra de Gustavo Piqueira. 

 

“De Novo”

Autor Gustavo Piqueira

Editora Lote 42

Preço R$ 70 (2018, 96 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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POESIA NO REFÚGIO

Fotoilustração de ‘Dois Meninos de Kakuma’

No livro, a pesquisadora Marie Ange Bordas utiliza fotoilustrações para narrar a vida de dois garotos refugiados, Geedi e Deng, inventados a partir de histórias reais. Para isso, ela passou o verão entre 2003 e 2004 no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Embora as imagens retratem uma realidade áspera, elas transbordam poesia. A partir das fotos captadas, Marie Ange cria montagens, produz colagens e sobrepõe ilustrações. Alguns dos desenhos e das esculturas inseridas nas cenas foram feitos por crianças e adolescentes de Kakuma. Clique aqui e saiba mais sobre o livro. 

 

“Dois Meninos de Kakuma”

Autora Marie Ange Bordas

Editora Pulo do Gato

Preço R$ 54,60 (2018, 72 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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MEDO DO NOVO

É do medo do desconhecido, próprio da infância e tão presente na vida adulta, que o autor e ilustrador Alexandre Rampazo faz brotar o livro, “Se Eu Abrir Esta Porta Agora…”, lançado pela editora Sesi-SP. Feito em formato sanfonado, a estrutura é como um esconde-esconde. De um lado, o menino tem a expectativa de abrir a porta e encontrar um monstro. Do outro, são as próprias criaturas que vivem a ansiedade de topar com um garoto do outro lado. Conheça o livro aqui.

 

“Se Eu Abrir Esta Porta Agora…”

Autor e ilustrador Alexandre Rampazo

Editora Sesi-SP

Preço R$ 44 (2018, 56 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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SUCESSO DO ANO

No universo de livros para crianças, um dos maiores sucessos de vendas no Brasil em 2018 tem nome e sobrenome: “A Parte que Falta”. No início do ano, a youtuber Jout Jout fez um vídeo sobre obra, publicada pela Companhia das Letrinhas, o que logo transformou a história do americano Shel Silverstein em best-seller no país –tanto que outros de seus livros passaram a ser lançados em seguida.

“A Parte que Falta”

Autor e ilustrador Shel Silverstein

Tradutor Alípio Correa de Franca Neto

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 44,90 (2018, 112 págs.)

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Livros infantis mostram a literatura transgressora de Elvira Vigna https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/15/livros-infantis-mostram-a-literatura-transgressora-de-elvira-vigna/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/15/livros-infantis-mostram-a-literatura-transgressora-de-elvira-vigna/#respond Sat, 15 Dec 2018 13:23:12 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/abre_elvira-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2700 Uma das frases mais famosas de Elvira Vigna diz:

“Linhas retas só parecem retas quando vistas de mais perto do que deveriam. Qualquer um, de binóculos em outro universo, veria que são curvas. Que transgridem.”

Vigna morreu no ano passado, vítima de um câncer aos 69 anos, no momento em que sua literatura ganhava cada vez mais atenção. Sobretudo com o livro “Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas” (Companhia das Letras), último publicada em vida e vencedor do prêmio da APCA de melhor romance em 2016. É dele a frase acima.

A valorização de seus últimos romances, porém, fez com que uma parte fundamental de sua obra ficasse quase à sombra: Vigna deixou uma premiada produção infantojuvenil —ganhou o Jabuti, em 1980, com “Lã de Umbigo” e teve textos e ilustrações laureados pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).

Dois de seus infantis ganharam edições nos últimos meses. “Kafkianas” (Todavia) compila releituras inéditas feitas a partir de textos de Franz Kafka. Já “Uma História Pelo Meio” (Positivo), de 1982, recebeu um novo projeto gráfico.

Ilustração feita por Vigna para “Kafkianas” (ed. Todavia)

As duas obras até podem ser lidas de maneira independente, mas a frase que abre este texto pode servir de binóculos. Se olhados de uma forma mais ampla, “Kafkianas” e “Uma História Pelo Meio” não são retos. Fazem parte de uma mesma curva, de uma linha que vai do início da carreira de Vigna à sua última obra. Um arco que abre e fecha na produção infantil.

“Kafkianas” é formado por 20 pequenos contos de Vigna que funcionam como comentários sobre textos de Franz Kafka. O autor de “A Metamorfose” e “Carta ao Pai” tem seu universo destrinchado e recriado pela carioca, que não se limita a resumir os originais.

A partir de uma linguagem própria, ao mesmo tempo clara e tão direta que chega a ser áspera, Vigna interpreta as criações de Kafka a ponto de produzir algo novo.

“Era para ser o final de ‘Joseph K.’, parece. Kafka acabou descartando ele. Se isso for verdade, meio que concordo”, diz ela em um dos textos.

Em todos, a autora conversa com o leitor e faz com que a criança ou o adolescente se imagine no lugar das personagens. Por outro lado, não mostra qualquer preocupação introdutória e pressupõe que a obra de Kafka já seja conhecida por quem está lendo.

Algo que inevitavelmente gera ruído no universo infantil, ainda acostumado a tratar a criança como café com leite.

Algo parecido ocorre em “Uma História Pelo Meio”, que narra o encontro de uma menina e um vendedor de pássaros. Em vez de ser linear, o enredo é composto de uma história dentro da outra, como se fosse uma matrioska.

Ilustração de “Uma História Pelo Meio”

Sem que o início do livro seja de fato o início da história, muda-se de ponto de vista como um pássaro troca de poleiro. Da menina ao irmão, da ave ao vendedor. Desdobramentos que chegam a ponto de instigar quem lê a criar as próprias aventuras —algo parecido com o que a escritora fez, décadas depois, com Kafka.

Enquanto “Uma História Pelo Meio” exibe uma literatura mais infantil, mas sem ser óbvia, “Kafkianas” é mais radical e abre poucas concessões. Além de não apresentar Kafka, os capítulos falam de sexo sem cerimônias e chamam personagens de “gostosinhas” ou de “palermas”.

Mesmo as ilustrações, feitas pela própria autora, não se preocupam em passar um verniz de fofura.

Nesse sentido, “Uma História Pelo Meio” segue o mesmo caminho. As imagens e o projeto gráfico, assinado por Raquel Matsushita, subvertem o que está sendo narrado e ajudam a reinventar o texto —mais uma vez: como a própria Vigna fez com Kafka.

É como se os livros reforçassem a todo instante que a literatura não é reta. Ela é feita de curvas que transgridem.

Retrato da escritora Elvira Vigna (Renato Parada/Divulgação)

 

 

“Kafkianas”

Autora e ilustradora Elvira Vigna

Editora Todavia

Preço R$ 49,90 (2018, 128 págs.)

Leitor avançado

 

“Uma História Pelo Meio”

Autora Elvira Vigna

Ilustradora Raquel Matsushita

Editora Positivo

Preço R$ 43,90 (2018, 56 págs.)

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10 livros para já adiantar o presente de Dia da Criança https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/09/25/10-livros-para-ja-adiantar-o-presente-de-dia-da-crianca/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/09/25/10-livros-para-ja-adiantar-o-presente-de-dia-da-crianca/#respond Tue, 25 Sep 2018 18:51:05 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/abre-1-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2606 Como Deus ajuda quem cedo madruga e o dia 12 de outubro já bate à porta, o blog resolveu se adiantar e listar dez livros que podem ser bons presentes para o Dia da Criança.

Tudo para evitar aquela velha cena de pais, tios e padrinhos correndo entre lojas de brinquedos e de eletrônicos como se fugissem de um incêndio –afinal, como diz o ditado, onde há fumaça há fogo e pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Mas atenção.

Se o presenteado receber o embrulho com um sorriso amarelo e choramingar que queria um tablet ou uma nave espacial, cabe aos adultos mostrar que aquele livro é mais do que um presente –as páginas são um passaporte para conhecer novos mundos, participar de perigosas aventuras, conhecer personagens inimagináveis e viajar por estradas impossíveis. E isso não é qualquer game que consegue.

Quem avisa amigo é.

 

*

 

BURACO FUNDO

Sabe aquele vazio que chega de uma hora pra outra e nunca mais vai embora? Muita gente acredita que isso é coisa de adulto, mas crianças também sentem esse buraco no peito. É o caso da menina de “Vazio”, da espanhola Anna Llenas. O oco da personagem é tão grande que o frio é capaz de passar por dentro dela e é quase impossível achar uma tampa que o feche. Com projeto gráfico que mistura colagens e desenhos, a obra ajuda na reflexão sobre temas como ausência, tristeza e solidão –mesmo que às vezes perca a mão e dê à literatura um quê de auto-ajuda.

 

“Vazio”

Autora e ilustradora Anna Llenas

Tradutora Silvana Tavano

Editora Salamandra

Preço R$ 46 (2017, 84 págs.)

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SABE O…?

Os portugueses Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho são dessas duplas que, quando se reúnem, quase sempre produzem coisa boa. Ambos conseguem transformar simplicidade em livros para crianças que, ao mesmo tempo, divertem e fazem pensar, arrancam gargalhadas e coçam a caixola. E não é diferente em “É Mesmo Você?”, que chega ao Brasil pela editora 34. Nele, um papo muito doido carrega o leitor pela mão até a surpresa final. Tudo começa quando uma menina pergunta pela Inês. Mas qual Inês? A irmã do Zé, ué. Mas qual Zé? O Zé grandalhão, que subiu no telhado com o Tó. Mas qual Tó? A partir daí a narrativa entra em uma espiral que apresenta os personagens em um perfeito casamento entre texto e imagem.

 

“É Mesmo Você?”

Autores Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho

Editora 34

Preço R$ 37 (2017, 32 págs.)

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GERAÇÃO PARA GERAÇÃO

Sentado na soleira da tinturaria, o senhor Yamada primeiro lembra uns versos. Depois outro e outro e outro… E então vêm o ritmo da cantiga, o cheiro da infância, a presença dos irmãos, a velha cerejeira enfeitada pela avó, o lago das carpas e a cerca de bambu. A poesia e a delicadeza de “O Sol Se Põe na Tinturaria Yamada” não brotam apenas do texto sensível e profundo de Claudio Fragata. Mas também das ilustrações de Raquel Matsushita, que resgata a técnica das gravuras japonesas e utiliza uma espécie de carimbo parecido à xilogravura para criar a narrativa.

 

“O Sol Se Põe na Tinturaria Yamada”

Autores Claudio Fragata e Raquel Matsushita

Editora Pulo do Gato

Preço R$ 43,80 (2017, 40 págs.)

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PÁSSARO FORMOSO

Agora que a literatura de cordel se tornou patrimônio cultural brasileiro, “O Pavão Misterioso” pode ser um ótimo primeiro passo nesse universo. Originalmente lançado pela extinta Cosac Naify e publicado neste ano pela Companhia das Letrinhas, o livro faz um reconto do famoso folheto “O Romance do Pavão Misterioso” –mas em prosa, com poucos versos inseridos no meio da narrativa. A história traz um vendedor de cordel que não vive uma boa época de vendas, mas que recebe a visita de um menino, para quem conta a aventura do folheto, sobre dois irmãos que partem em uma viagem para resgatar uma linda mulher presa em uma torre. As ilustrações de Andrés Sandoval inundam a obra de cores, fugindo da estética típica da xilogravura. Uma delas abre este texto.  

 

“O Pavão Misterioso”

Autores Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima

Ilustrador Andrés Sandoval

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 44,90 (2018, 64 págs.)

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INTRODUÇÃO AO TERROR

A obra de H.P. Lovecraft não tem nada de infantil. Conhecido por livros de terror em que monstros e ficção científica brotam de cada linha, o autor americano, que viveu entre o fim do século 19 e o início do 20, ganhou uma espécie de introdução à sua obra para crianças. “O Fantástico Alfabeto Lovecraft” exibe de A a Z criaturas como Cthulhu, Dagon, Q’Yth-Az e zumbis, todas acompanhadas de desenhos que deixam os monstros até bonitinhos. Quem não conhece as histórias do escritor acaba perdendo um pouco o fio da meada –mas o livro serve como faísca para incendiar a imaginação do público infantil, que pode inventar o seu próprio universo povoado de bichos esquisitões.

 

“O Fantástico Alfabeto Lovecraft”

Autores Jason Ciaramella e Greg Murphy

Tradutores Bruno Dorigatti e Christiano Menezes

Editora Caveirinha

Preço R$ 39,90 (2017, 32 págs.)

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FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

Você já deve ter encontrado um Bóris por aí. O monstrinho do livro come uma bala e logo joga o papel no chão. Escova os dentes e deixa a torneira aberta. Vai ao shopping sempre de carro, mesmo que ele fique ao lado de sua casa. Até que a água começa a faltar, um apagão deixa a cidade no escuro e uma inundação bate à porta. Com ilustrações que criam um mundo de desenho animado, a história ajuda crianças (e adultos) a compreender como as atitudes do personagem contribuem para causar seus próprios problemas. Nesses casos, o feitiço sempre se volta contra o feiticeiro.

 

“Vamos Salvar o Planeta!”

Autora e ilustradora Fabiana Martins

Editora edição da autora

Preço R$ 20 (2018, 24 págs.)

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PONTA DOS DEDOS

O que nossas mãos podem fazer? No livro, criado a partir de um ensaio do membro da Academia Brasileira de Letras Alfredo Bosi, elas puxam e empurram, acenam e mandam parar, ensaboam, esfregam, torcem e lavram a terra. Enquanto o autor elenca tudo do que essa parte do corpo é capaz, o premiado ilustrador Nelson Cruz recheia as páginas com releituras de pinturas clássicas –de Caravaggio a Rembrandt, de Debret a Van Gogh, sempre com quadros que personificam o trabalho manual.

 

“Os Trabalhos da Mão”

Autor Alfredo Bosi

Ilustrador Nelson Cruz

Editora Positivo

Preço R$ 56,90 (2017, 68 págs.)

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EU VOLTEI

Uma menina volta ao seu país de origem e precisa encarar uma nova vida, uma nova escola e uma gama de novos amigos. Até que uma garota que luta contra o câncer vira sua grande companheira contra as adversidades pessoais e do país. O roteiro é parecido ao de centenas de livros e de filmes para adolescentes, mas o que torna “Esperança para Voar” especial é sobretudo o local onde se passa a história: o Zimbábue de 2008, ano em que o país viveu uma grande crise política. A autora, Rutendo Tavengerwei, constrói a narrativa com habilidade, sempre em capítulos curtos –tanto que parecem voar e deixar o leitor com aquela vontade de logo ler o próximo, num passeio pelo país africano e por toda a sua cultura.

 

“Esperança para Voar”

Autora Rutendo Tavengerwei

Tradutora Carolina Kuhn Facchin

Editora Kapulana

Preço R$ 37,90 (2018, 164 págs.)

Leitor avançado

 

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CORAÇÃO DO BRASIL

Um pedacinho do coração do Brasil é dissecado poeticamente por Roger Mello em “Cavalhadas de Pirenópolis”, livro que ganhou o Jabuti e o prêmio FNLIJ há quase 20 anos e que agora retorna às livrarias pela editora Global. Na obra, Roger cria em versos uma história que se passa durante a festa popular da cidade goiana, uma das mais ricas manifestações culturais do país. O cerrado, as comemorações, o jeito interiorano do povo, tudo está condensado na forma de igrejinhas coloniais, máscaras de touro, o impiedoso carcará e doceiras que vendem compotas de figo e mamão verde. O título não traz apenas o deleite de mergulhar na obra do vencedor do prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantojuvenil. É o contato com um Brasil por vezes esquecido, que parece uma mistura de realismo fantástico com o sertanejo de Leandro e Leonardo.

 

“Cavalhadas de Pirenópolis”

Autor e ilustrador Roger Mello

Editora Global

Preço R$ 49,90 (2018, 36 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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VIAGEM DO CÃO

Os músicos China e Tulipa Ruiz criam uma road trip cheia de latidos, xixis no muro e buracos na areia em seu primeiro livro infantil. Carlos é um cachorro que parte de São Paulo a Pernambuco, parando no caminho por Minas e pela Chapada Diamantina. O texto de China é todo rimado e conta a aventura com uma métrica que lembra a do cordel e as das cantigas populares. Já Tulipa desenvolve ilustrações cheias de brincadeiras. Que tal procurar a capa de um álbum do Milton Nascimento quando Carlos chega ao estado mineiro?

 

“Carlos Viaja”

Autor China

Ilustradora Tulipa Ruiz

Editora Jubarte

Preço R$ 36 (2018, 68 págs.)

Leitor iniciante + leitor iniciante

 


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Autores e editores criticam governo por fixar temas em edital de livros https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/05/11/autores-e-editores-criticam-governo-por-fixar-temas-em-edital-de-livros/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/05/11/autores-e-editores-criticam-governo-por-fixar-temas-em-edital-de-livros/#respond Fri, 11 May 2018 05:00:26 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/barbaro-formato-205x275-on-320x213.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2402 Tinha tudo para ser uma boa notícia. Após suspender as compras de livros infantojuvenis no fim do mandato de Dilma Rousseff e abandonar o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), o governo federal lançou neste ano edital para adquirir obras de literatura para os colégios.

Ao ler o regulamento do novo PNLD Literário (Programa Nacional do Livro Didático), porém, autores, ilustradores, editores e profissionais ligados ao livro para crianças suspenderam a comemoração.

“A mudança do nome do programa já indica, por si só, uma transformação na política relacionada à formação de leitores na escola”, afirma a pedagoga Sandra Medrano, coordenadora da Comunidade Educativa Cedac e da revista Emília, especializada em literatura infantojuvenil.

São três as principais reclamações do grupo.

1. As histórias devem ser direcionadas a faixas etárias específicas e seguir eixos temáticos predefinidos.

Com isso, livros precisam abordar temas como a descoberta de si, a relação com a família ou as inquietações da juventude, por exemplo. Outros assuntos podem ser tratados, desde que sejam devidamente nomeados e justificados.

Para Sandra, literatura não é produzida dessa maneira. “Isso fica a cargo dos didáticos e dos paradidáticos. A literatura de qualidade está aberta para reflexões e interpretações.”

2. Com exceção das obras para a educação infantil, os títulos precisam ter tamanhos e tipos de papel específicos. São três formatos: 205 mm x 275 mm; 270 mm x 270 mm; 135 mm x 205 mm. Os que fogem dessas especificações terão que ser adaptados.

“A forma é uma das principais bases de criação e tem conexão direta com a narrativa. Restringir a três formatos significa engessar o pensamento. Em relação ao papel, tenho mais um temor. A baixa gramatura pode ser um limitador de criação visual”, afirma a escritora e designer Raquel Matsushita.

A convite da Folha, os autores e ilustradores Fernando Vilela e Renato Moriconi adaptaram dois de seus livros premiados (“Lampião e Lancelote” e “Bárbaro”, respectivamente) aos tamanhos do edital e avaliaram se há perdas na narrativa. O resultado pode ser visto abaixo.

3. Editoras menores temem sair em desvantagem.

De acordo com Marcelo Del’Anhol, um dos principais problemas é o curto prazo. “Tivemos pouco mais de cinco semanas para a inscrição. Grandes editoras têm equipe maior e menos dificuldades para cumprir as exigências”, diz ele, que é editor da Olho de Vidro, criada em 2017 e com dois livros em catálogo.

Com pré-inscrição aberta até sexta (11) e inscrições até o dia 25 de maio, o edital define que as escolhas serão feitas por comissões técnicas e educadores. Mas não diz quanto será gasto nem quantos exemplares serão adquiridos, o que vai depender de negociações futuras de preço.

Os valores totais, contudo, não devem superar o previsto para o PNLD no ano passado: R$ 1,7 bilhão.

EXEMPLOS DE MUDANÇAS

Páginas originais do livro ‘Lampião e Lancelote’, de Fernando Vilela
Adaptação para 270 mm x 270 mm, formato previsto no edital do PNLD

“A obra foi pensada na forma horizontal, pois as ilustrações exploram o horizonte do sertão nordestino e da Idade Média. Na adaptação, a cena tem menos respiro, menos movimento e perdemos o cacto, empobrecendo a potência gráfica”

Fernando Vilela
autor de ‘Lampião e Lancelote’

 

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Formato original do livro ‘Bárbaro’, de Renato Moriconi
Adaptação de páginas do livro ‘Bárbaro’, de Renato Moriconi, para 205 mm x 275 mm, tamanho do edital do PNLD; nela, o personagem é espetado pelas lanças

“Com menos espaço vertical, o guerreiro foi espetado. As escolas receberão livros rasurados, violados. O edital é uma violência”

Renato Moriconi
autor de ‘Bárbaro’

OUTRO LADO

Questionado sobre as críticas de autores e editores feitas ao edital de compra de livros, o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão ligado ao Ministério da Educação e que responde pelo programa, afirma que não há confusão entre obra literária e didática no edital.

Diz ainda que a exigência de faixas etárias e temas específicos foi elaborada por avaliadores e pesquisadores do antigo PNBE.

Sobre tamanhos e tipos de papel predeterminados, o órgão afirma que os três formatos possíveis preservam as características básicas das obras originais.

Acerca da espessura das páginas, afirma que muitos produtos usam essa gramatura, preservando a qualidade de impressão.

 


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Cores e formas guiam livro infantil que é puro design https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/cores-e-formas-guiam-livro-infantil-que-e-puro-design/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/cores-e-formas-guiam-livro-infantil-que-e-puro-design/#respond Mon, 05 Feb 2018 12:37:37 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/abrecleusa-150x150.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2175 Cleusa é uma menina que é carne e unha com o garoto Clóvis. Os dois não se desgrudam na escola e adoram brincar juntos. Até que surge na história Catarina, a nova aluna do colégio.

Na verdade, não é bem assim. Cleusa é um triângulo que é papel e dobradura com o quadrado Clóvis. Os dois não se desgrudam na escola e adoram brincar juntos. Até que surge na história Catarina, o novo círculo do colégio.

Ou melhor dizendo. Cleusa é um amarelo que é composição e mistura com o azul Clóvis. Os dois não se desgrudam na escola e adoram brincar juntos. Até que surge na história Catarina, o novo rosa do colégio.

No livro “Claro, Cleusa. Claro, Clóvis”, da autora, ilustradora e designer Raquel Matsushita, a narrativa é uma –mas pode ser várias.

O roteiro simples já apareceu em diferentes livros e filmes para crianças: dois amigos são inseparáveis, até que surge uma nova personagem que desestabiliza essa relação. No caso da obra, os colegas são Cleusa e Clóvis, que veem Catarina pisar pela primeira vez na escola.

A diferença está na maneira como a trama é apresentada ao leitor –cada personagem é apresentado com uma forma geométrica e uma cor próprias. O livro é design puro. Cleusa é um triângulo, Clóvis tem os lados de um quadrado e Catarina surge como um círculo, o que gera um estranhamento no início, mas logo enche de ideias e possibilidades a cabeça de quem está lendo.

Como se fossem papeizinhos de dobradura, os amigos se unem e se transformam em suas brincadeiras. Às vezes, lembram uma casa. Depois, um barquinho e uma tartaruga. Ou então um cachorro, um sorvete e um soldado.

Ou não será nada disso?

Como as formas são abstratas, encontrar contornos nelas é quase como brincar de ver desenhos em nuvens. Não há respostas certas nem erradas.

A brincadeira só poderia ficar mais interessante se a edição trouxesse papéis de dobradura para que crianças e adultos pudessem dobrar, desdobrar e redobrar os personagens.

 

“Claro, Cleusa. Claro, Clóvis”

Autora e ilustradora Raquel Matsushita

Editora Editora do Brasil

Preço R$ 46,10 (2017; 40 págs.)

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