A história da biblioteca infantil de Porto Alegre que funcionava dentro de um moinho

Bruno Molinero

O parque Moinhos de Vento (ou Parcão, como acabou conhecido) fica em uma zona nobre de Porto Alegre, próximo a restaurantes badalados, bares que servem cervejas artesanais e hotéis com diárias que podem valer mais que o salário mínimo, como as do Sheraton. Todos os dias, nessa região da capital gaúcha, centenas de pessoas acordam com o dia ainda escuro, vestem roupas de ginástica e aproveitam o chão de terra batida para patinar, correr, fazer exercícios nos aparelhos espalhados ou simplesmente passear com o cachorro nos 11,5 hectares de área verde do espaço.

Quem é de São Paulo logo associa o Parcão a uma mistura de parque do Povo com Horto Florestal, onde frequentadores esbarram com “moradores” –entre eles, tigres d’água que secam seus cascos ao sol, patos que caminham pela grama e lambaris que nadam no lago de águas escuras. Com uma diferença: o parque gaúcho tem um moinho.

A estrutura de três andares construída no local é a réplica de um moinho açoriano, como os que existiram de verdade naquela região –no século 18, por exemplo, havia mesmo uma dessas construções onde hoje está a avenida Independência. A estrutura do parque costumava ficar aberta para visitação e abrigava a sede da Biblioteca Infantil Ecológica Maria Dinorah, que oferecia livros para crianças levarem para casa ou lerem estiradas na grama, em clima de piquenique.

Até que em agosto de 2015 o prédio foi fechado.

Tudo começou com uma chuva, que interditou o segundo andar do moinho. Após uma vistoria, decidiu-se por retirar a biblioteca de lá e fechar o prédio todo, que precisaria passar por uma reforma e readequação da estrutura. Mais de um ano e meio depois, nada disso ainda saiu do papel –o que mostra mais uma das faces da crise econômica pela qual passa a prefeitura de Porto Alegre e o governo do Rio Grande do Sul como um todo. E o moinho está lá, fechado, atrás de grades de ferro e um cadeado.

Os cerca de 3.000 exemplares da biblioteca precisaram ser transferidos para uma casinha de madeira no próprio parque, no lado oposto ao lago. A choupana foi o lugar onde a biblioteca começou, em 1985, e onde funcionou até 2004, quando foi transferida para o moinho. Sensivelmente menor, com apenas cinco estantes e uma mesa na única sala disponível, a nova sede não comporta todo o atual acervo. Por isso, parte dos títulos foi enviado à Secretaria do Meio Ambiente, que gerencia a instituição.

Ou seja: quando alguma das 3.867 pessoas que visitaram o local em 2016 mostra interesse por um livro guardado na Secretaria, é preciso abrir uma solicitação para que a obra possa ser encaminhada para a biblioteca do parque –burocracia que leva dias (e afasta os leitores). Tanto que a instituição não é conhecida pelos recordes de visitação nem de empréstimos: em todo o ano passado, foram 635 retiradas (saiba abaixo como se associar e retirar livros). 

Principalmente de crianças e bebês que visitam o local com os pais. Muitos deles, porém, ainda têm dificuldade de encontrar a biblioteca. É relativamente comum ver famílias caminhando em direção ao moinho e, ao toparem com a grade de ferro fechada, irem embora. Inusitado e improvável, o prédio funcionava como um chamariz de curiosos, que entravam na construção para tirar selfies e conhecer o espaço –e acabavam tendo contato com o acervo infantojuvenil por tabela.

Assim como em “Dom Quixote”, o moinho era um gigante.

 

Biblioteca Ecológica Infantil Maria Dinorah

Onde parque Moinhos de Vento – rua Comendador Caminha, s/nº, Porto Alegre (RS); tel. (51) 3289-7519 e (51) 3289-7520

Horário de seg. a sex., das 9h às 15h

Como se associar levar documento, preencher a ficha de cadastro e doar um livro para o acervo

Quanto grátis

 


GOSTOU?

Clique aqui e receba todas as novidades por e-mail

Você pode entrar em contato com o blog pelo e-mail blogeraoutravez@gmail.com

Ou pelo instagram @blogeraoutravez

 

Conheça outros posts