Livros infantis de Chico Buarque ilustrados por Ziraldo são relançados

Bruno Molinero

Já faz 40 anos que uma gata, um jumento, um cachorro e uma galinha saíram cantando por aí e colocaram seus patrões para correr. Faz mais ou menos esse tempo também que uma menina amarelada de tão medrosa peitou o Lobo e teve uma ideia genial para deixar de sentir arrepios ao pensar na criatura malvada.

“Os Saltimbancos” e “Chapeuzinho Amarelo” foram escritos por Chico Buarque ainda na década de 1970, quando o Brasil passava por uma explosão na literatura infantojuvenil e nomes como Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Lygia Bojunga se consolidavam. As duas histórias logo se tornaram clássicos, desses que são passados de pais para filhos. E acabaram de ganhar novas edições, lançadas pela editora Autêntica.

O caso mais famoso é o de “Os Saltimbancos”, de 1977, cuja versão original é italiana e foi traduzida e adaptada por Chico Buarque –e misteriosamente fez mais sucesso aqui do que na Itália. Quem nunca ouviu a música “História de uma Gata” ou os inconfundíveis “Au, au, au. Hi-ho, hi-ho / Miau, miau, miau. Cocorocó” da canção “Bicharia” provavelmente estava dormindo nas últimas décadas. Abaixo, a interpretação de Vanessa da Mata.

 

A história da bicharada nasceu como peça de teatro, interpretada pela primeira vez no Canecão, no Rio de Janeiro. Na montagem, que fala de quatro animais que resolvem tentar a vida na cidade para não serem mais explorados por seus donos, a atriz Marieta Severo dava vida à Gata, Miúcha fazia a Galinha, Pedro Paulo Rangel era o Cachorro e Grande Othelo interpretava o Jumento. Do coro, participavam diversas crianças –entre elas Bebel Gilberto, então com 11 anos.

O espetáculo foi sucesso de crítica e de prêmios, dando origem a outras obras, como filmes dos Trapalhões. Mas, em livro mesmo, “Saltimbancos” só foi aparecer em 2007. Na comemoração de 30 anos da peça, a editora José Olympio, que hoje pertence ao grupo Record, publicou a dramaturgia de Chico Buarque, ilustrada pelo traço inconfundível de Ziraldo.

Vale a pena conhecer a gata preguiçosa, o jumento trabalhador e o cão sempre vigilante com os desenhos coloridos, mas sempre próximos ao cartum, feitos pelo pai do Menino Maluquinho. Só que não tem jeito: a experiência fica completa apenas com as músicas. Quem não tem o disco pode ouvi-lo na íntegra no YouTube.

É esse livro que sai agora pela Autêntica. A mudança se dá após a saída da editora Maria Amélia Mello da José Olympio, agora na Autêntica. Outra obra de Chico Buarque com ilustrações de Ziraldo fez o mesmo caminho: “Chapeuzinho Amarelo”.

Essa sim foi concebida e publicada como literatura para crianças –e com enorme sucesso, tanto que chega à 40ª edição. A narrativa fala de uma menina que tem medo de tudo. E não só das coisas, mas medo do medo. Por isso, “vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo”. Mas o grande receio dela era o Lobo.

A história recebeu o selo de Altamente Recomedável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) logo que foi lançada, em 1979. A primeira edição saiu pela editora Berlendis & Vertecchia, na inauguração da casa, com ilustrações e projeto gráfico de sua fundadora, Donatella Berlendis. Foi apenas na década de 1990 que a história passou para a José Olympio, que chamou Ziraldo para ilustrá-la. O cartunista ganhou o prêmio Jabuti de ilustração em 1998 pelo trabalho no livro.

A edição que saiu neste ano segue essa segunda versão e ajuda a manter a menina medrosa que enfrenta o Lobo viva por mais uma geração. Quem sabe por mais 40 anos.

 

“Chapeuzinho Amarelo” e “Os Saltimbancos”

Autor Chico Buarque

Ilustrador Ziraldo

Editora Autêntica

Preços R$ 37,90 (2017, 36 págs) cada um

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 


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