Andrés Sandoval e o livro sem começo, meio e fim

Bruno Molinero

Para o autor e ilustrador Andrés Sandoval, “o livro é como uma música. Principalmente o infantil. Se o escritor cria a letra, é o ilustrador quem faz a melodia”. Se é assim, os seus últimos livros são uma sinfonia.

A começar por “Desenho Livre” (2016), quase um caderno de atividades, em que o personagem participa de pequenas aventuras gráficas, ora no branco do papel, ora na tinta impressa. Já “Dobras”, que tem lançamento previsto para o dia 8 de julho, elimina completamente palavras e personagens. Composto apenas por manchas coloridas, o livro ganha novas formas abstratas à medida que as páginas são dobradas ao gosto do leitor. As duas obras são publicadas pela Companhia das Letrinhas.

“Geralmente livros são fruto de uma parceria entre escritor e ilustrador. Mas nada impede, claro, que o arranjador crie uma música inteira sozinho. Só é mais difícil. Porque você é obrigado a desenvolver os seus próprios repertórios e referências”, completa Sandoval.

Se “Desenho Livre” já começava a quebrar com a ideia de começo, meio e fim de um livro, “Dobras” manda isso tudo para o espaço. Veja abaixo:

 

 

As páginas já vêm com dobras predeterminadas, mas nada impede que a criança ou adulto vá encontrado diferentes possibilidades de combinações, desenhos inusitados, novos jogos de cores. “Tem uma coisa quase hipnótica. Você vira para lá, para cá, e vai formando uma boca, um rosto. Encontra algumas transparências. É um livro tão aberto que parece meio banal no começo”, diz Sandoval.

Mas a sensação desaparece logo de cara, ao ver que o poeta Augusto de Campos é o autor do texto de apresentação. “Dialoga muito com a obra dele. Fiquei feliz que o Augusto tenha topado fazer.”

O plano é lançar “Dobras” na Casa Plana. O espaço surgiu da Feira Plana, evento de produções independentes, zines e autopublicações. “Resolvi começar a fazer livro infantil como uma forma de estar ligado às artes visuais e garantir o meu sustento. Isso lá em 2003. Hoje, se eu estivesse começando minha carreira, acho que estaria fazendo zines e produções mais artesanais”, afirma Sandoval, formado em arquitetura na USP.

“O livro sai pela Companhia das Letras, claro. Mas a ideia de lançar na Casa Plana e não em uma Livraria Cultura é fazer o ‘Dobras’ achar o seu público, ter contato com pessoas que se interessem por esse tipo de livro, que muitas vezes fica perdido nas livrarias.”

A crise que atinge o mercado editorial atualmente, que assiste a uma queda no faturamento por dois anos seguidos, impulsionou de certa forma o mercado independente –e fez Sandoval radicalizar um pouco mais a sua estética para crianças.

“Está muito difícil para todo mundo. No meu caso, ainda tenho outros trabalhos. Um pouco de publicidade, alguns murais, a imprensa. E a retomada da arquitetura. É algo que já vinha acontecendo. Tanto que naturalmente os últimos livros foram se aproximando ainda mais do espaço e da reflexão do próprio desenho”, diz.

É o caso de “Dobras” e “Desenho Livre”, mas também de “Os Pontos Cardeais Acrobatas” (2013), por exemplo. O livro, lançado pela extinta Cosac Naify, ainda está em negociação com editoras para voltar às prateleiras. Ou, já que os livros são também músicas, tocar de novo em listas de reprodução por aí.

 

“Dobras”

Autor e ilustrador Andrés Sandoval

Editora Companhias das Letrinhas

Preço R$ 54,90 (2017; 64 págs.)

Leitor iniciante

Lançamento 8 de julho, na Casa Plana (av. Ipiranga, 200 – São Paulo)

 


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