Exposição exibe livros infantis brasileiros anteriores a Monteiro Lobato
O que os bisavós e tataravós que moravam no Brasil liam quando eram crianças? Com quais livros o menino Monteiro Lobato se divertia, muito antes de inventar o Sítio do Picapau Amarelo, a Emília, a Narizinho e toda a turma?
Um pouco dessa produção está na exposição “Livros Infantis Velhos e Esquecidos”, que exibe mais de cem obras publicadas no país entre a segunda metade do século 19 e os anos 1930. A mostra está em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária, em São Paulo.
Entre os títulos exibidos, estão “Juca e Chico”, “João Felpudo”, “Robinson Crusoé” e “Viagens de Gulliver”. Alguns publicados por editoras como Garnier e Laemmert, do século 19, além de casas como Melhoramentos, Francisco Alves e também a primeira editora de Monteiro Lobato, que lançou as primeiras histórias do “pai da literatura infantil brasileira”, nos anos 1920.
A exposição é mais do que oportunidade de chegar perto de livros centenários, mas também chance de perceber como as obras infantis mudaram de lá para cá –na diversidade das ilustrações, na qualidade da impressão e também na mudança da linguagem.
Serve também para ver de perto os representantes brasileiros de uma explosão da literatura infantil no mundo todo. Até o século 19, histórias hoje tidas como infantis, como contos de fadas e fábulas, não eram propriamente pensadas para crianças. Isso porque o conceito de infância ainda não existia como conhecemos hoje. O quadro só muda a partir do fim do século 19, quando os pais desenvolvem um sentimento de proteção maior em relação aos filhos. Direitos específicos, surgem no século 20. A Declaração dos Direitos da Criança da ONU data de 1959.
É na virada do século 19 para o 20 que as histórias passam a ser sistematicamente adaptadas para o público infantil. E que começam a aparecer livros mais específicos para esse público, muitos com tons didáticos e educacionais, voltados para as escolas. As crianças entram então de vez no mercado de livros.
“A exposição traz as origens dos livros infantis publicados no Brasil. Hoje há um redescobrimento das publicações pré-Lobato”, diz Gabriela Pellegrino, professora da USP e uma das curadoras da mostra, que foi concebida a partir de pesquisas de Pellegrino e da outra curadora, Patrícia Tavares Raffaini, sobre o tema.
Algumas das edições foram adquiridas com recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e doadas para a Universidade de São Paulo. Outras estavam guardadas em unidades e bibliotecas da USP ou então foram cedidas por diferentes instituições.
“Muitos livros dessa época ainda eram histórias estrangeiras, traduzidas e adaptadas para o português. A produção brasileira ainda era pequena. E só começa a crescer mais tarde, com o Lobato. Mas é importante notar que existia, sim, um mercado editorial infantil muito antes disso”, conta Pellegrino.
Além de literatura, a exposição traz exemplares da revista “O Tico-Tico”, almanaques, álbuns e histórias ilustradas. A mostra fica em cartaz até 30 de outubro.
“Livros Infantis Velhos e Esquecidos”
Onde Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – r. da Biblioteca, s/nº, Cidade Universitária, São Paulo; tel. (11) 2648-0310
Quando Seg. a sex.: 8h30 às 18h30. Até 30/10
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