Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com 5.000 livros, centro de referência em literatura infantil será aberto no RS https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/com-5-000-livros-centro-de-referencia-em-literatura-infantil-sera-aberto-no-rs/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/com-5-000-livros-centro-de-referencia-em-literatura-infantil-sera-aberto-no-rs/#respond Fri, 19 Oct 2018 21:52:43 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/4-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2658 Uma biblioteca com cerca de 5.000 títulos infantojuvenis do mundo inteiro vai abrir as portas em Caxias do Sul (RS).

A partir de novembro, a cidade da Serra Gaúcha com 435 mil habitantes e distante 120 km da capital, Porto Alegre, será sede de um dos principais centros de referência em livros para crianças e adolescentes do país.

Batizado de Instituto de Leitura Quindim, a iniciativa é do casal Volnei Canônica e Roger Mello –único ilustrador brasileiro a vencer o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura para esse público.

“Caxias é minha cidade natal, mas a intenção foi sair do eixo Rio-São Paulo, que já está lotado de programação. Queremos que interessados em livros infantis e juvenis de todo o Brasil e até estrangeiros vejam no Instituto um lugar de pesquisa e de convivência”, conta Canônica.

Segundo eles, a ideia é fazer com que a cidade gaúcha represente para a literatura mais ou menos o que Brumadinho (MG), sede do Inhotim, simboliza para as artes.

Para isso, a biblioteca contará com títulos nacionais e internacionais premiados, publicados em diferentes línguas, entre elas português, inglês, chinês, árabe e coreano. Todos fazem parte do acervo pessoal da dupla, garimpado em livrarias e feiras ao redor do mundo. Muitas das edições internacionais ainda não têm versões brasileiras.

“Trazer novas culturas para a criança e o adolescente é um jeito de fazer com que eles percebam, a partir da leitura, que o mundo é diverso. É algo muito importante, ainda mais nesses tempos que estamos vivendo.”

Também estará disponível material teórico para pesquisadores do livro ilustrado, como catálogos de ilustradores de todos os continentes.

Cada visitante poderá fazer as consultas no local, que ficará aberto de quarta a domingo, das 10h às 20h. A inauguração está marcada para o dia 30 de novembro. A partir dessa data, usuários cadastrados poderão retirar 10 títulos pelo período de até 15 dias.

“As crianças vão poder levar uma minibiblioteca para casa”, completa Canônica.

Para quem quiser ter as obras em definitivo, uma livraria comercializará alguns dos títulos.

PRÊMIO E CENTRO DE ESTUDOS

Além dos livros, o espaço abrigará um centro de pesquisa sobre a infância, a literatura para esse público e a cadeia do livro. Na inauguração, entre os dias 30/11 e 2/12, um seminário de três dias irá discutir o panorama atual da cadeia do livro no Brasil, com mesas e debates sobre políticas públicas, promoção de leitura e mercado editorial.

Entre os convidados, estarão presentes representantes do governo federal e do terceiro setor. Autores e ilustradores, entre eles Ricardo Azevedo e Mariana Massarani, confirmaram presença nos eventos de abertura, que contarão ainda com contação de histórias, exposição do ilustrador Daniel Kondo e projeções de cinema.

Para dar visibilidade aos estudos desenvolvidos no instituto e publicar artigos, uma revista será impressa bimestralmente. A versão online da publicação terá o material traduzido para inglês, espanhol e italiano –este último, porque a principal feira internacional de livros infantojuvenis ocorre anualmente em Bolonha, na Itália.

No ano que vem, o espaço organizará também um prêmio literário anual. Só que, em vez de as categorias serem definidas por gêneros literários, elas estarão ligadas a perfis de bibliotecas.

Assim, a premiação nomeará quais obras lançadas no último ano devem constar no acervo de bibliotecas para a primeira infância, em espaços para adolescentes, em bibliotecas escolares e assim por diante.

“Não vamos ter um número máximo ou mínimo de premiados por ano. Mais do que entregar uma medalha para um autor ou ilustrador, queremos dar subsídio para que o governo e os bibliotecários saibam quais obras lançadas valem a pena para os seus acervos”, explica.

A primeira premiação deve ocorrer em data próxima a 18 de abril, quando é comemorado o nascimento de Monteiro Lobato e o Dia Nacional do Livro Infantil.

Inspirada no instituto colombiano Espantapájaros, escola para crianças que usa a literatura como linha de frente e que tem Yolanda Reyes como uma de suas fundadoras, o Instituto Quindim funcionará num local conhecido como Moinho da Cascata.

O prédio de 1905, feito sob influência da arquitetura industrial do século 19 e tombado pelo município, está sendo reformado para abrigar o espaço. Hoje, o grupo de teatro Ueba já ensaia e se apresenta por ali.

 


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O que leem as adolescentes da Fundação Casa que já são mães? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/08/04/o-que-leem-as-adolescentes-da-fundacao-casa-que-sao-maes/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/08/04/o-que-leem-as-adolescentes-da-fundacao-casa-que-sao-maes/#respond Fri, 04 Aug 2017 13:44:33 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/08/INAUG_BIBLIOT_CHIQ-GONZ_041116_EL-2816829_DIV-180x68.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1652 Por fora, é um prédio comum. A porta metálica divide o muro branco que tem mais de seis metros de altura com janelas de vidros escuros. Ninguém olha, porque o que acontece dentro desse prédio na Mooca é um mistério para os que passam pela rua ou estacionam o carro em frente aos sobradinhos de classe média do outro lado da calçada –típico dos muitos galpões que ainda se espalham pelo bairro da zona leste de São Paulo. Até que, ao interfone, uma voz metálica, como a unha de uma professora riscando o quadro negro, interroga: “Pois não?”

As boas-vindas vêm na forma de um detector de metais, ficha assinada com dados pessoais, apresentação do documento de identidade e o celular devidamente guardado em uma gaveta –ele deve ficar preso durante todo o tempo em que o seu dono estiver no interior da fortaleza. Mais adiante, ao atravessar corredores cheios de portinhas, onde não é possível saber se é dia ou noite, chega-se a uma antiga sala de aula, dessas de escola. É lá, atrás de portas, grades, chaves, ferrolhos, no fim de corredores tortuosos, protegidos por um muro de seis metros e por toda a burocracia que mora algo frágil: uma biblioteca.

“Eu viajo com o livro. Mas viajo mesmo, como se pudesse sair daqui. A mente parada pensa muita besteira”, diz Mariana, 18.

Já faz dois anos que a jovem de olhos castanhos sempre fixos no interlocutor e cabelos tingidos de loiro não sai à rua. Vestida com um conjunto composto por moletom e calça de mesmas cores –um tom de lilás que dá às roupas um ar de pijama–, Mariana é uma das responsáveis por organizar o acervo e registrar os empréstimos feitos na biblioteca, inaugurada em novembro do ano passado.

“Você tinha que ver o primeiro dia de empréstimos. Ficou um silêncio na quadra. Todo mundo lendo”, lembra.

Tanto a biblioteca quanto a quadra ficam dentro de uma unidade da Fundação Casa, a antiga Febem, onde vivem apenas garotas. Com capacidade para 102 adolescentes, o local conta hoje com 128 meninas, todas entre 12 e 21 anos e com algo em comum: cometeram atos infracionais graves e perderam a liberdade (pela legislação, menores de idade não cometem crimes, mas atos infracionais, e a internação pode chegar a no máximo três anos). As causas mais comuns são roubo, tráfico de drogas e homicídio. Como as infrações aconteceram quando ainda eram menores, os nomes verdadeiros delas e outros detalhes sobre as jovens foram preservados neste texto.

Mas essa unidade tem ainda uma subdivisão interna, inacessível para a maior parte dessas garotas. O prédio é como uma matrioska, aquelas bonecas russas cheias de camadas, com uma grade dentro das grades, um muro dentro dos muros. O local separado é uma casinha nos fundos, com muros pintados com personagens de desenhos animados e um tatame colorido sobre o chão da sala que sustenta brinquedos de bebês, pufes e um pequeno sofá. O restante dos 283 m² acolhem banheiros, uma sala de recreação e quartos mobiliados com camas e berços. Pelos cantos, livros infantis saídos do acervo da biblioteca à disposição.

 

A chamada “Casa das Mães”, ou tecnicamente Pami (Programa de Acompanhamento Materno-Infantil), é um espaço específico dentro da Fundação que recebe apenas adolescentes que foram internadas grávidas ou que são mães de bebês e recém-nascidos. Atualmente dez garotas vivem ali, separadas das demais a partir da 32ª semana de gestação ou na companhia de seus filhos –crianças que crescem e passam os primeiros anos de suas vidas dentro da Fundação Casa, onde brincam, são amamentadas, têm as fraldas trocadas e choram de madrugada.

O Pami surgiu em 2003 como alternativa contra a separação de filhos pequenos e mães que perderam a liberdade. Tudo no espaço parece ser exceção à regra do que se imagina de uma unidade da ex-Febem e da questão complexa que passa por discussões sobre a revisão da maioridade penal e a falta de informações e números concretos que mapeiem estatisticamente a criminalidade de adolescentes no país.

A começar pela rotina dessas adolescentes. As mães acordam às 6h para dar banho nos bebês. Depois do café da manhã, elas limpam a casa e organizam a bagunça das crianças. A programação matinal conta ainda com cursos profissionalizantes –de aulas para se tornarem cabeleireiras a fotógrafas–, idas à biblioteca e tempo livre para ficarem próximas dos filhos. Não é raro ver alguma delas sentadas sobre o tatame, lendo ou mostrando ilustrações de um livro para um bebê deitado no colo. À tarde, vão à escola, que fica dentro da própria Fundação. Na ausência das mães, funcionárias cuidam das crianças.

O dia a dia aparentemente tranquilo pode maquiar a informação de que as internas são, de fato, internas. “Tenho curiosidade de levar minha filha pela primeira vez num parque. Não sei como vai ser”, diz Luisa, 18, mãe de uma menina de dois anos. “Cheguei aqui num piscar de olhos, cinco dias depois do nascimento da minha filha. Me trouxeram sozinha, sem ela. Foi a pior fase da minha vida.” Dois meses depois, a menina foi encaminhada para a Fundação. E Luisa, para a “Casa das Mães”.

LIVROS E COPOS DE VIDRO

Mas não é só a rotina que as diferencia. A própria unidade feminina foge à regra do que é a realidade da Fundação Casa no Estado de São Paulo. A população de jovens infratores é essencialmente masculina. Dos 9.676 adolescentes atendidos hoje, nada menos do que 9.288 são garotos (96% do total). E apenas seis das 145 unidades ativas no Estado são femininas –quatro na capital e apenas uma com Pami.

As infrações também são diferentes. Na estatística geral, os casos mais frequentes são roubo qualificado (43,3%) e tráfico de drogas (38,9%) –homicídio, por exemplo, representa apenas 1% dos casos. Na “Casa da Mães”, os atos mais comuns são tráfico de drogas (36,4%) e homicídio (36,4%). Segundo os números, as mães matam mais. Mas é preciso levar em conta que elas são um grupo pequeno, o que torna complicado fazer uma comparação entre as estatísticas.

“Tive o privilégio de ver de perto o nascimento e o crescimento do meu filho. Vi quando ele começou a engatinhar, deu os primeiros passos, falou as primeiras palavras. Não sei como seria fora, não sei se teria essa oportunidade. Aqui não existe celular, internet, WhatsApp. Você dá mais valor para o contato”, diz Julia, 17, mãe de um menino de dois anos. Fã de animes e mangás quando estava fora, quando “andava com companhias erradas”, a adolescente se tornou fã da escritora Marian Keyes no Pami. “Peguei um livro dela na biblioteca e me apaixonei. Meu favorito é ‘Tem Alguém Aí?’”, conta.

A biblioteca inaugurada no ano passado foi criada em parceria com o Instituto Brasil Leitor, que doou o acervo. O grafite e os desenhos que decoram as paredes da sala reformada e adaptada, bem como os recados na lousa e o restante da decoração, também foram feitos pelas internas. São cerca de mil livros, que ficam à disposição de segunda a sexta, sempre no período da manhã. Na sexta-feira, as adolescentes podem fazer empréstimos e passar o fim de semana com um dos exemplares –foi nesse dia que Mariana viu a quadra da Fundação quieta por causa da leitura.

O espaço substituiu a antiga biblioteca da unidade, cujo acervo tinha livros técnicos e enciclopédias, mas nenhum de literatura. E, afinal, o que leem as mães e as demais internas da Fundação? Os títulos mais procurados hoje são os das sagas Crepúsculos e Harry Potter, além de best-sellers da escritora Zibia Gasparetto, gibis da Turma da Mônica e obras com temática LGBT. Tanto as garotas do Pami quanto as demais adolescentes têm acesso às prateleiras e podem “trabalhar” como bibliotecárias para ajudar na organização do espaço. As mães também têm livros para bebês, levados para a casa do Pami, onde ficam as crianças.

“Ajuda a passar o tempo mais rápido e a não sentir falta de pequenas coisas lá de fora: como ver a lua, pegar ônibus lotado”, conta Luisa. “Ou tomar água em copo de vidro”, diz Julia, rindo. Por motivos de segurança, objetos de vidro são proibidos no local.

Mas os livros não. Quem quiser doar obras para a biblioteca pode enviá-las por correio ou entregá-las pessoalmente no endereço da unidade: rua Japuruchita, 300, Mooca, São Paulo (SP).

 


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Sala infantil da Biblioteca Mário de Andrade será paga por Charles Cosac https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/sala-infantil-da-biblioteca-mario-de-andrade-sera-paga-por-charles-cosac/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/sala-infantil-da-biblioteca-mario-de-andrade-sera-paga-por-charles-cosac/#respond Tue, 21 Feb 2017 05:00:38 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/48e7c49e2413a415adac106f45158df7-180x92.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1157 A Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo (SP), irá inaugurar uma sala dedicada à literatura infantojuvenil ainda em 2017. O local será pago quase que integralmente pelo novo diretor da instituição, o ex-editor Charles Cosac.

O espaço, que foi batizado de A Flor Amarela em homenagem a um poema infantil homônimo de Cecília Meireles, tem como objetivo tentar atrair um público pouco presente no dia a dia do local: pais acompanhados de seus filhos, sejam eles crianças ou bebês.

Convidado pela gestão de João Doria (PSDB) em janeiro deste ano para assumir o cargo à frente da biblioteca, o fundador da editora Cosac Naify doará cerca de R$ 350 mil para reformar uma sala no térreo do prédio e transformá-la no novo ambiente. 

O projeto foi desenvolvido pelo premiado escritório de design Ovo e prevê mobiliário adaptado para crianças de dois a dez anos de idade e espaço para a realização de atividades como exibição de filmes, oficinas infantis e contações de histórias, além de contar com um fraldário –estrutura inexistente hoje nos banheiros da biblioteca.

Para não competir com a Biblioteca Monteiro Lobato, localizada a cerca de 1 km de distância e com acervo exclusivo de obras infantojuvenis, a Mário de Andrade apostará em um modelo de convivência, em que crianças poderão consultar um título para sua faixa etária enquanto adultos leem alguma obra do acervo principal. Tudo no mesmo espaço e sem o perigo de algum frequentador achar ruim a presença de um bebê chorando ou de uma meninada conversando alto.

Charles Cosac, em sua sala na Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo (foto: Marcus Leoni/Folhapress)

Antes do aporte de Cosac, a intenção era financiar o espaço com a ajuda de uma vaquinha na internet, que pedia um total de R$ 150 mil —enquanto cerca de R$ 225 mil sairiam dos cofres da própria instituição e da colaboração de parceiros.

O financiamento acaba nesta quarta-feira (22) após ficar três meses no ar e ter reunido pouco mais de R$ 25 mil, de mais de 300 apoiadores. Esse valor será utilizado na reforma. O dinheiro e a doação de Cosac não estão previstos no orçamento da prefeitura, mas poderão ser utilizados por causa de uma associação sem fins lucrativos vinculada à biblioteca, cujo um dos objetivos é a captação de recursos.

“A gente deve gratidão a quem fez doações. Não posso explicar por que a meta não foi atingida. Não sei se por uma reflexão sobre a real necessidade desse pedido da biblioteca ou por esse modelo não ser parte da nossa cultura”, diz Cosac, que assumiu a instituição com o pedido de crowdfunding já em curso, criado pela gestão do antigo diretor, o professor Luiz Armando Bagolin.

Embora a Mário de Andrade seja sustentada com verba da prefeitura via secretaria de Cultura, Cosac acredita que doar para a campanha não significa pagar impostos duas vezes. Nem enxerga um exagero no valor pedido. “A pessoa não era compelida a doar. E, se pensar na envergadura da Mário de Andrade, essa quantia é módica.”

Em 2011, a instituição foi reaberta após uma reforma que custou R$ 16,3 milhões e teve financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Cosac diz que sua intenção com a doação é incentivar empresários a fazerem o mesmo em futuros projetos. Entre suas prioridades, está a instalação de aparelhos de ar-condicionado, painéis solares e sistemas de captação de água da chuva.

O procedimento é parecido com o que João Doria vem adotando na prefeitura desde o início de seu mandato, em janeiro deste ano. Com o orçamento apertado, ele incentiva cada vez mais empresas a fazerem doações para ajudar programas municipais em troca de publicidade gratuita. Em reportagem publicada no início de fevereiro, a Folha mostrou que ao menos 22 empresas já doaram itens para a cidade–de banheiros públicos a veículos, passando por serviços de limpeza.

Sobre a possibilidade de abrir uma editora no futuro e ver-se beneficiado pelo espaço infantil, que poderia comprar exemplares de seus livros, Cosac nega. “Não penso em uma nova editora, ainda mais uma infantojuvenil.”

Mas afirma que vai usar seus contatos para formar o acervo da sala, já que a biblioteca tem poucos livros para crianças e atualmente não possui verba para adquirir novos títulos. “Quero conversar com donos de editoras para que eles doem exemplares.”

Principalmente de literatura contemporânea, diz. “Antes de sair [da Cosac Naify], comecei a ler livros infantojuvenis por curiosidade e percebi que as coisas mudaram. Li histórias com temas como suicídio, com dois pais, duas mães. Por uma motivação pessoal, busquei livros sobre Alzheimer. Embora esse material ainda seja escasso no Brasil, ele existe. Em certo sentido, gostaria de encaminhar a sala infantil nesse sentido, mais contemporâneo”, afirma.

 

PRIMEIRO MÊS DE GESTÃO

Após um mês e meio à frente da biblioteca, Cosac começa pouco a pouco a colocar sua identidade na instituição. Em sua sala, por exemplo, uma estátua de Jesus Cristo feita no fim do século 18, em tamanho natural, enfeita a parede. O atual diretor da Mário de Andrade é colecionador de obras de arte e tem uma quantidade considerável de produções sacras. O próprio escritório da Cosac Naify costumava ser decorado com obras saídas da coleção de seu fundador.

“Minha gestão é de continuidade e de ruptura ao mesmo tempo. Estou em contato com o professor Luiz Armando Bagolin. Tenho total intenção de dar continuidade aos trabalhos dele, mas há projetos que não vão acontecer mais –como as baladas no terraço até tarde da noite, por exemplo. Temos que lembrar que estamos em uma área residencial e que aqui é um local de leitura”, diz.

A programação do ano está sendo fechada ainda, mas contará com apresentações de música erudita (outra das paixões de Cosac), além de peças de teatro e oficinas. Fora isso, há planos para abrir um restaurante em uma das áreas de convivência.

Segundo o atual diretor, a biblioteca continuará funcionando durante 24 horas, uma das marcas do período que Bagolin dirigiu a instituição. Mas o acesso ao prédio no período noturno e durante a madrugada deverá ser mais restrito. A intenção é que em breve os frequentadores desses horários precisem fazer um cadastro e tirar uma carteirinha. Para não afastar totalmente moradores de rua que visitam o espaço, não será exigido comprovante de endereço para fazer o documento.

“A gente precisa saber quem são as pessoas que estão na biblioteca durante a noite e instaurar um pouco de ordem.”

 


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A história da biblioteca infantil de Porto Alegre que funcionava dentro de um moinho https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/02/14/a-historia-da-biblioteca-infantil-de-porto-alegre-que-funcionava-dentro-de-um-moinho/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/02/14/a-historia-da-biblioteca-infantil-de-porto-alegre-que-funcionava-dentro-de-um-moinho/#respond Tue, 14 Feb 2017 18:22:03 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/DSCN5431va-180x100.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1132 O parque Moinhos de Vento (ou Parcão, como acabou conhecido) fica em uma zona nobre de Porto Alegre, próximo a restaurantes badalados, bares que servem cervejas artesanais e hotéis com diárias que podem valer mais que o salário mínimo, como as do Sheraton. Todos os dias, nessa região da capital gaúcha, centenas de pessoas acordam com o dia ainda escuro, vestem roupas de ginástica e aproveitam o chão de terra batida para patinar, correr, fazer exercícios nos aparelhos espalhados ou simplesmente passear com o cachorro nos 11,5 hectares de área verde do espaço.

Quem é de São Paulo logo associa o Parcão a uma mistura de parque do Povo com Horto Florestal, onde frequentadores esbarram com “moradores” –entre eles, tigres d’água que secam seus cascos ao sol, patos que caminham pela grama e lambaris que nadam no lago de águas escuras. Com uma diferença: o parque gaúcho tem um moinho.

A estrutura de três andares construída no local é a réplica de um moinho açoriano, como os que existiram de verdade naquela região –no século 18, por exemplo, havia mesmo uma dessas construções onde hoje está a avenida Independência. A estrutura do parque costumava ficar aberta para visitação e abrigava a sede da Biblioteca Infantil Ecológica Maria Dinorah, que oferecia livros para crianças levarem para casa ou lerem estiradas na grama, em clima de piquenique.

Até que em agosto de 2015 o prédio foi fechado.

Tudo começou com uma chuva, que interditou o segundo andar do moinho. Após uma vistoria, decidiu-se por retirar a biblioteca de lá e fechar o prédio todo, que precisaria passar por uma reforma e readequação da estrutura. Mais de um ano e meio depois, nada disso ainda saiu do papel –o que mostra mais uma das faces da crise econômica pela qual passa a prefeitura de Porto Alegre e o governo do Rio Grande do Sul como um todo. E o moinho está lá, fechado, atrás de grades de ferro e um cadeado.

Os cerca de 3.000 exemplares da biblioteca precisaram ser transferidos para uma casinha de madeira no próprio parque, no lado oposto ao lago. A choupana foi o lugar onde a biblioteca começou, em 1985, e onde funcionou até 2004, quando foi transferida para o moinho. Sensivelmente menor, com apenas cinco estantes e uma mesa na única sala disponível, a nova sede não comporta todo o atual acervo. Por isso, parte dos títulos foi enviado à Secretaria do Meio Ambiente, que gerencia a instituição.

Ou seja: quando alguma das 3.867 pessoas que visitaram o local em 2016 mostra interesse por um livro guardado na Secretaria, é preciso abrir uma solicitação para que a obra possa ser encaminhada para a biblioteca do parque –burocracia que leva dias (e afasta os leitores). Tanto que a instituição não é conhecida pelos recordes de visitação nem de empréstimos: em todo o ano passado, foram 635 retiradas (saiba abaixo como se associar e retirar livros). 

Principalmente de crianças e bebês que visitam o local com os pais. Muitos deles, porém, ainda têm dificuldade de encontrar a biblioteca. É relativamente comum ver famílias caminhando em direção ao moinho e, ao toparem com a grade de ferro fechada, irem embora. Inusitado e improvável, o prédio funcionava como um chamariz de curiosos, que entravam na construção para tirar selfies e conhecer o espaço –e acabavam tendo contato com o acervo infantojuvenil por tabela.

Assim como em “Dom Quixote”, o moinho era um gigante.

 

Biblioteca Ecológica Infantil Maria Dinorah

Onde parque Moinhos de Vento – rua Comendador Caminha, s/nº, Porto Alegre (RS); tel. (51) 3289-7519 e (51) 3289-7520

Horário de seg. a sex., das 9h às 15h

Como se associar levar documento, preencher a ficha de cadastro e doar um livro para o acervo

Quanto grátis

 


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