‘Macunaíma’ completa 90 anos com edições em quadrinhos e ilustradas
Ai, que preguiça!
O blog inicia as atividades do ano recheado de preguiça –não de escrever ou de comentar livros para crianças e adolescentes, mas com um personagem que gosta mesmo é de sombra e água fresca: Macunaíma.
Autor de frases inesquecíveis como a que abre este texto, o “herói sem nenhum caráter” dá título a um romance homônimo de Mário de Andrade (1893-1945) que completa 90 anos em 2018. Lançado em 1928, “Macunaíma” foi escrito em apenas seis dias e é um dos maiores exemplos do Modernismo brasileiro e do Movimento Antropofágico, manifesto criado por Oswald de Andrade (1890-1954) e que congregou artistas como o próprio Mário, além de Tarsila do Amaral, Raul Bopp e outros.
Após publicado, o livro inspirou peças, filme e músicas. Como em 2016 toda a obra de Mário de Andrade entrou em domínio público, isso fez com que ela fosse revisitada por editoras e novas edições surgissem no mercado. Foi o caso de “Amar Verbo Intransitivo”, que virou história em quadrinhos. E também de “Macunaíma”.
O texto ganhou versões ilustradas e em HQ, mais voltadas a um público jovem. Três delas, portas de entrada para o rico universo do autor, estão abaixo. Só não vale ter preguiça de ler ou medo das saúvas.
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QUADRINHOS
As formas arredondadas e as cores fortes dão um ar de HQ clássica para o livro –Macunaíma às vezes tem um quê de Popeye ou então parece saído das aventuras de Asterix e Obelix. Mas a mistura de povos indígenas, araras, lendas do interior do Brasil e uma São Paulo de nariz empinado não deixa o leitor esquecer: Macunaíma é brasileiro até demais.
A combinação, aliás, funciona como mais um ingrediente para os ideais antropofágicos que transbordam do livro e que guiaram parcela da arte nacional nos anos 1920. Se, segundo o manifesto de Oswald de Andrade, “só a antropofagia nos une” e o objetivo é assimilar e deglutir a cultura estrangeira para poder criar uma produção nacional a partir disso, nada melhor que um estilo clássico e internacional para contar a história do herói malandro e sem nenhum caráter.
Roteiro e ilustrações foram feitos por Rodrigo Rosa, que tem se dedicado à adaptação de clássicos para a linguagem da HQ. O autor já quadrinizou obras como “O Cortiço”, “Memórias de um Sargento de Milícias”, “Dom Casmurro” e “Grande Sertão: Veredas”.
Autor Mário de Andrade
Adaptação e ilustrações Rodrigo Rosa
Editora Ática
Preço R$ 48 (2017, 88 págs.)
Leitor intermediário
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MAIS QUADRINHOS
Angelo Abu e Dan X já preparavam a adaptação de “Macunaíma” para quadrinhos alguns anos antes de a obra entrar em domínio público. Tanto que a previsão de lançamento era 2015, um ano antes de o livro ser realmente liberado –mas, por causa de negociações travadas com a família do escritor, que ainda detinha os direitos de publicação, a HQ precisou aguardar o domínio público para chegar às livrarias, o que aconteceu apenas em 2016.
Comparando-a com a a versão quadrinizada de Rodrigo Rosa, esta apresenta traços mais sujos, com cores e técnicas que se aproximam de HQs contemporâneas e personagens que lembram criaturas do folclore. As formas mais humanizadas dão lugar a mandíbulas cheias de dentes pontiagudos, a um Macunaíma de olhos esbugalhados e a corpos de cores fortes que se fundem. Com isso, o lado fantástico da história salta aos olhos.
O livro faz parte da coleção “Clássicos em HQ”, da editora Peirópolis, que já adaptou obras como “Dom Quixote”, “Os Lusíadas” e “Odisseia”.
Autor Mário de Andrade
Adaptação e ilustrações Angelo Abu e Dan X
Editora Peirópolis
Preço R$ 39 (2016, 80 págs.)
Leitor intermediário
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VERSÃO COMENTADA
Poucos livros têm a capacidade de entreter verdadeiramente um público mais jovem e, ao mesmo tempo, prender a atenção de adultos. A edição de “Macunaíma” lançada pela editora FTD consegue fazer isso.
Com texto integral, a obra traz notas de rodapé que dão um contexto da história e jogam luz sobre palavras como xetrar (fracassar), enfaro (falta de apetite), carapanã (pernilongo) ou relambório (sem graça). Além disso, no final há 520 notas que ampliam o entendimento do livro, aprofundando temas como a oralidade da narrativa, os relatos que inspiraram Mário de Andrade e os bastidores da escrita. Todas foram preparadas pela escritora Noemi Jaffe, que também assina o posfácio.
Fora isso, a história é entrecortada por ilustrações em página dupla feitas por Mariana Zanetti. Lembrando desenhos à canetinha, elas dão cor viva à aventura (uma delas abre este texto).
Autor Mário de Andrade
Organizadora Noemi Jaffe
Ilustradora Mariana Zanetti
Editora FTD
Preço R$ 53 (2016, 248 págs.)
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