Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Você pagaria por algo disponível gratuitamente na internet? Maisa aposta que sim https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/11/17/voce-pagaria-por-algo-disponivel-gratuitamente-na-internet-maisa-aposta-que-sim/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/11/17/voce-pagaria-por-algo-disponivel-gratuitamente-na-internet-maisa-aposta-que-sim/#respond Fri, 17 Nov 2017 12:09:17 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/maisa_anizelli-180x108.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1912 Afinal: você desembolsaria mais de R$ 30 por algo que está disponível gratuitamente na internet?

E aqui o assunto não é o jornalismo e a avalanche de notícias publicadas de graça por sites e blogs. Ou a pirataria digital e o download ilegal de filmes e músicas.

O papo é um pouco mais surreal, principalmente para quem achou que as editoras não conseguiriam se superar após a febre dos livros para colorir e os títulos feitos por youtubers. Para ser mais preciso: que tal pagar R$ 34,90 por um apanhado de tuítes que estão totalmente acessíveis na rede social, a apenas um clique de distância?

Parece piada, mas é a nova aposta da atriz e apresentadora Maisa Silva. A garota, que fez sucesso ainda pequena na TV e puxava a peruca do Silvio Santos, lançou “O Livro de Tweets da +A: As Histórias Além dos 140 Caracteres da Maisa Silva”, pela editora Gutenberg, selo da Autêntica.

Como o nome já dá a pista, a artista de 15 anos e sua equipe selecionaram cerca de 300 dos seus quase 22 mil tuítes, juntaram tudo em 144 páginas, rechearam com emojis e dezenas de fotos e serviram um produto requentado e já triturado. A profundidade não é muito superior aos tais 140 caracteres, para que leitores preguiçosos não encontrem qualquer desafio ou dificuldade.

São 20 páginas, ou quase 15% do livro, apenas com fotos posadas da atriz. Ela aparece sustentando um balde de pipoca, mostrando o muque, usando um vestido florido e óculos de sol. Quase sempre segurando o cabelo e fazendo caras e bocas. Já imagens que não ocupam a folha toda mostram Maisa ao lado de Silvio Santos, em sua festa de 15 anos, viajando pelos Estados Unidos e até fazendo cocô quando era criança.

Texto mesmo não é o forte. Para não ficar feio ou dizer que a obra faz apenas uma junção de tuítes antigos, a autora explica na introdução: “Eu resolvi fazer este livro porque assim as pessoas podem conhecer as histórias por trás de cada tweet meu e saber mais sobre quem eu sou nas redes sociais.” Que bom. E complementa: “Os errinhos de português fazem parte e a gente se entende, né?”

De fato, algumas postagens são acompanhadas de breves explicações, cuja intenção é ampliar o sentido da mensagem –o que raramente é feito. Duas estão abaixo.

 

“Eu tenho muitas piadas internas com os meus amigos. Cada grupo tem uma piada interna diferente. E cheguei à conclusão de que tem muita gente que se incomoda com isso. Então, piada interna só é legal se a gente entende, senão você fica boiando e achando que é sempre sobre você.”

 

 

“Gente, fui pra Orlando; vocês sabem… a Beverly Travel. Lá, fui ao jogo do Orlando City e vi o Kaká jogar. E foi muito legal! Agradeço muito ao Orlando City por ter me recebido tão bem. Eles foram uns fofitos! Foi o primeiro jogo internacional que assisti e um momento muito especial da minha vida.”

Algumas mensagens, porém, não têm a sorte de virem acompanhadas da tal explicação –seja para não dar a faca e o queijo ao leitor ou porque nem os mais criativos conseguem encher linguiça sobre elas. Caso do primeiro tuíte do perfil, de janeiro de 2014, quando ela tinha 12 anos:

 

 

 

As máximas são divididas por tópicos, que nomeiam os capítulos. Assuntos passam por sentimentos (Amor, Amizade, Fé, Respeito), turismo (Viagem Para NY, Maisera Pelo Mundo), acontecimentos (Meus 15 Anos, Escola, Provas) e sacos de gatos que concentram tudo o que não se encaixa nas demais categorias (Maisera, A Loka, Quebrando Tudo no Twitter).

Ao terminar o livro, o leitor que é fã continua na mesma, sem descobrir nada de novo sobre a vida de Maisa, que já publicou pela mesma Gutenberg outros dois títulos mais autobiográficos: “Sinceramente Maisa – Histórias de uma Garota Nada Convencional” (2016, R$ 29,80) e “O Diário de Maisa – Um Ano Inteiro Comigo” (2016, R$ 34,90). Já quem não é fã fica com a impressão de que ela é uma adolescente boazinha que se esforça para não magoar ninguém.

Ou pelo menos é a imagem que tenta reforçar com alguns lugares-comuns. “O ódio é muito retrocesso”, escreve no capítulo sobre amor. “Foi a primeira vez que eu senti a presença de Jesus, e foi sensacional”, diz sobre fé. O futebol tampouco escapa. “[…] mesmo sendo corintiana, respeito os outros times e reconheço que eles são bons!”

Com essa versão açucarada de si mesma e uma seleção de mensagens descartáveis, Maisa perde a oportunidade de mostrar outros lados artísticos. Youtubers como Kefera e Christian Figueiredo, por exemplo, também já surfaram na onda de títulos autobiográficos que venderam milhares de exemplares –só a primeira bateu a marca de 650 mil cópias com “Muito Mais que Cinco Minutos” (Paralela, 2015, R$ 24,90) e “Tá Gravando. E Agora?” (Paralela, 2016, R$ 29,90).

Mas ambos viram que a fonte está prestes a secar, que não há muito mais o que dizer sobre as suas rotinas e que a moda dos livros sobre youtubers tende a passar. Contra isso, os dois resolveram apostar na ficção. Kefera publicou “Querido Dane-se” (Paralela, 2017, R$ 34,90). Já Christian Figueiredo apareceu nas livrarias com o juvenil “Um Coração Maior que o Mundo” (Outro Planeta, 2017, R$ 32,90).

Maisa preferiu seguir um caminho menos trabalhoso, com um produto que não a fizesse sentar e realmente escrever algo que valha a pena e faça sentido para os fãs. Afinal, se o esforço é mínimo e a demanda segue a mesma, o lucro é máximo.

Talvez você não desembolsse R$ 34,90 para adquirir um conteúdo gratuito como os tuítes da estrela do SBT. Mas, se 1% dos quase 3 milhões de seguidores da atriz no Twitter fizerem isso, ela garante a venda de 30 mil livros. Se levarmos em conta que uma obra bem sucedida no Brasil raramente atinge mais do que 3.000 exemplares durante toda a sua história, Maisa pode colocar seu nome entre os best-sellers do país.

Se alguém vende areia no deserto, é porque encontra compradores. Nem que seja aquele 1%.

 

“O Livro de Tweets da +A”

Autora Maisa Silva

Editora Gutenberg

Preço R$ 34,90 (2017, 144 págs.)

Leitor intermediário

 


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‘Adolescente está lendo cada vez mais’, diz Thalita Rebouças; leia entrevista com a autora https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/06/09/adolescente-esta-lendo-cada-vez-mais-diz-thalita-reboucas-leia-entrevista-com-a-autora/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/06/09/adolescente-esta-lendo-cada-vez-mais-diz-thalita-reboucas-leia-entrevista-com-a-autora/#respond Fri, 09 Jun 2017 13:13:24 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/FotorCreated-180x65.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1572 Os 2 milhões de exemplares vendidos no Brasil e os mais de 20 livros lançados deixaram o mundo da literatura pequeno –e fez Thalita Rebouças invadir o cinema. Já são seis filmes confirmados, todos inspirados em suas obras. “É Fada!”, baseado em “Uma Fada Veio me Visitar”, estreou com a youtuber Kéfera no papel principal. “Fala Sério, Mãe!” deve chegar às telas no início de 2018, com Ingrid Guimarães e Larissa Manoela no elenco.

Mas a autora não deixou a literatura de lado. Ela acaba de lançar  “Confissões de um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado”, criado como um desdobramento do também longo título “Confissões de uma Garota Excluída, Mal-Amada e (um pouco) Dramática”, lançado em 2016. No “spin-off”, Davi tenta deixar a timidez de lado e se aventurar pelo campo da astrologia.

“As vendas de direitos dão uma ajudinha no orçamento. Mas, muito antes de fazer filme, eu já estava vivendo de literatura. Da venda de livros mesmo”, diz Rebouças. Por isso, não tem dúvidas de afirmar: “Hoje o adolescente sente vergonha de dizer que não gosta de ler”.  “Ele está lendo cada vez”, completa.

Abaixo, ela fala sobre livros, internet e o rótulo “literatura de mulherzinha”. Confira.

 

*

NOME Thalita Rebouças // IDADE 42 // LIVROS RECOMENDADOS “Ela Disse, Ele Disse”, série “Fala Sério!”, “360 Dias de Sucesso” // LIVRO FAVORITO NA INFÂNCIA “Marcelo, Marmelo, Martelo”, de Ruth Rocha (Foto: Faya/Divulgação)

 

FOLHA – Hoje você vive de literatura?

Thalita Rebouças – Graças a Deus. Vivo não só dos livros, mas do que a literatura me trouxe. Peças, filmes… As vendas de direitos dão uma ajudinha no orçamento. Mas, muito antes de fazer filme, eu já estava vivendo de literatura. Da venda de livros mesmo.

 

Isso quebra a ideia de que o adolescente não lê no Brasil?

Com certeza. Adolescente está lendo cada vez mais. E as editoras estão oferecendo um catálogo mais diverso. Quando eu entrei na Rocco, por exemplo, eles tinham só os livros do Harry Potter, os de outra autora e os meus. Para esse público,  era só isso. Dezessete anos depois, o mercado editorial cresceu, se especializou, descobriu novos autores.

 

Ler deixou de ser coisa de nerd?

Quando comecei, a coisa que mais ouvia era: “Ler é chato, odeio livros”. Hoje o adolescente sente vergonha de dizer que não gosta de ler.

“Harry Potter” foi o grande responsável por essa mudança. Mostrou que não importa o tamanho da história ou se ela não tem ilustrações –se é boa e bem escrita, vai ser lida. A J.K. Rowling ajudou muitos novos autores a surgirem. Inclusive eu, sou muito grata a ela.

 

Dá tempo de conhecer os novos autores?

Tento acompanhar os lançamentos, nem sempre dá tempo. Mas já li Paula Pimenta, Laura Conrado… O contato com elas é ótimo. Ser escritora é uma profissão muito solitária.

 

O livro novo, “Confissões de um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado”, foi uma sugestão dos leitores?

Foi sim. O “Confissões de uma Garota Excluída, Mal-Amada e (um pouco) Dramática” foi o primeiro livro em que falei de verdade sobre bullying. Ele é quase um personagem. O Davi e o Zeca, personagens da história que são amigos da Tetê e tiram essa protagonista do desconforto de encarar uma escola nova, acabaram ganhando o coração dos leitores [no livro, Tetê muda de casa com a família e precisa trocar de colégio, de amigos e superar uma desilusão amorosa]. Todos me pediram uma história sobre os dois.

Achei que seria mais divertido falar do Davi. Gostei de escrever sobre um menino que fala como um velho, tratar de corações partidos. Chorei muito escrevendo.

 

Quanto tempo demora para escrever um livro como esse, de 304 páginas?

Deu muito trabalho. O Davi sempre amou estrelas e se interessou por astrologia. Por isso ele decide fazer um curso sobre o tema –e eu tive que entrar nesse curso com ele. Pedi a consultoria de uma astróloga, que me ajudou em vários momentos. Perdi as contas de quantas mensagens mandei para ela de madrugada, perguntando o que um canceriano com lua em tal casa faria em determinada situação [risos].

Ela chegou até a fazer o mapa astral do Davi. O que é um pouquinho o meu mapa também, porque nós nascemos no mesmo dia: 10 de novembro. Foi muito interessante construir um personagem sabendo qual é o signo dele, o ascendente, a lua, a casa oito. E, a partir disso, escrever as minhas percepções.

Levei oito ou nove meses no processo de pesquisar, escrever, revisar. Foi um dos mais demorados.  

 

Decidiu tratar desses assuntos porque astrologia está na moda?

Adolescente ama signo. Pensei: as meninas vão pirar se eu falar disso. Quando perguntei nas redes sociais sobre o que elas achavam… Nossa!

 

Como é essa interação com os leitores pela internet?

Eu e a internet nos damos superbem. Faz muita gente se aproximar de mim, conhecer os meus livros. Na época do livro da Tetê, pedi no Snapchat histórias de bullying. Foram mais de 5.000 relatos. Eu mesma leio e respondo tudo.

 

É possível ser escritor sem ser ativo nas redes sociais?

Claro. Mas é muito natural para mim. Estou conectada desde o começo. A facilidade de conversar com o leitor que mora no Maranhão, por exemplo, é fascinante.

 

Mas tem a questão do seu público também. Você está na internet porque o adolescente está 100% do tempo lá.

Exatamente. Não dá para estar off-line. O doido é que muitas leitoras que falam comigo pelas redes sociais ficam tão nervosas quando me encontram pessoalmente que ficam completamente mudas. Aí chegam em casa e me mandam um textão pelo computador ou pelo celular.

 

Após 17 anos de carreira, os seus primeiros leitores já são adultos, talvez muitos até tenham filhos. Por que seus livros não envelheceram com eles? Por que continuar escrevendo para adolescentes?

Acho que tenho 14 anos de maturidade [risos]. Certa vez, fiz um evento com a Ruth Rocha em São Paulo e perguntaram por que ela escrevia só para crianças. A resposta foi: “Porque, para mim, não faz sentido se não for para crianças ”. É lindo. E eu tenho isso com os adolescentes. Sei que eles estão crescendo, envelhecendo, procurando outras coisas. Mas acho incrível fazer parte de uma fase da vida tão complicada, que é a adolescência. Realmente não consigo pensar em histórias que não sejam para eles.

 

É para essa menina de 14 anos que você escreve?

Sempre penso nessa adolescente que mora em mim. Digo que essa menina de 14 anos escreve, e a jornalista de 42 anos revisa.

 

Na última Bienal do Livro de São Paulo, a escritora Marian Keyes, autora de “Melancia”, reclamou do rótulo “chick lit” [algo como “literatura de mulherzinha”] que é dado para os seus livros. Suas histórias também são classificados assim?

Não gosto desse rótulo. Faço livros para quem gosta de se divertir. Por que as meninas leem a vida inteira obras como “Menino Maluquinho”, “Marcelo Marmelo Martelo” e “Harry Potter”, mas não têm nenhum preconceito? Ninguém diz que o Ziraldo só faz livros para meninos. Mas adoram dizer que os meus são para garotas. É um machismo de berço, que faz meninos dificilmente passarem a barreira da capa. Só que, quando isso acontece, eles amam a história.

Espero sinceramente que essa barreira de gênero seja quebrada. Na verdade, acho que já está sendo. Da mesma forma que vi a galera começar a tomar gosto pela leitura, espero viver para acompanhar esse rótulo de “literatura de menina” desaparecer.

 

“Confissões de um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado”

Autora Thalita Rebouças

Editora Arqueiro

Preço R$ 34,90 (2017; 304 págs.)

Leitor avançado

 


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Vivemos a ‘época do like’ na literatura, afirma Heloisa Prieto; leia entrevista https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/19/vivemos-a-epoca-do-like-na-literatura-afirma-heloisa-prieto-leia-entrevista/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/19/vivemos-a-epoca-do-like-na-literatura-afirma-heloisa-prieto-leia-entrevista/#respond Wed, 19 Oct 2016 14:16:53 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/Literatura-a-escritora-Heloisa-Prieto-posa-para-foto-com-sua-gata-Mixirica-na-biblioteca-de-sua-casa-em-São-Paulo-SP.-São-Paulo-SP-24.04.2008.-Foto-de-Bruno-MirandaFolhapress-180x101.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=629 As redes sociais não influenciam apenas os conteúdos dos livros feitos para adolescentes –basta lembrar que o topo das listas de mais vendidos está há meses dominado por youtubers, que foram a grande atração da Bienal do Livro de São Paulo deste ano. Pelo contrário: likes e compartilhamentos influenciam diretamente também a decisão de qual livro o leitor, principalmente o mais jovem, vai escolher –algo que antes ficava restrito ao boca a boca com os amigos e às críticas na imprensa.

“A gente vive a época do like, do efeito manada que indica sempre as mesmas coisas”, diz a escritora Heloisa Prieto, criadora de histórias tanto para crianças quanto para adolescentes –um de seus últimos livros, “A Una e o Leão”, acaba de ser lançado pela editora Sesi. O blogueiro, que na teoria serviria como um canal de opinião individual, ao diversificar ideias, encontrar histórias desconhecidas ou falar com grupos específicos, acaba não fazendo isso. E indica, na maioria das vezes, os mesmos best-sellers de sempre. “Por que raios você só deve gostar, adorar, recomendar um livro?”, pergunta Prieto.

Mas ressalta: as listas de livrarias (e os youtubers e blogueiros de plantão) podem enganar. Há muita gente lendo em bibliotecas, comprando livros em sebos e se interessando por histórias que não são captadas pelos radares mais tradicionais.

Leia abaixo entrevista com a autora.

 

*

 

Folha- As listas de livros mais vendidos para adolescentes estão com muita história de youtuber e pouca literatura. O que está acontecendo?

Heloisa Prieto – Essas listas são todas baseadas em vendas de livraria, né? Elas dão uma falsa impressão de que só isso está sendo lido. Só que existe muita gente que não chega ao livro pela livraria. Compra na banca, na internet, em outros lugares. Lê na biblioteca, nos eventos de periferia –o Sarau do Binho, por exemplo, é muito forte. Existe um mundo fora das livrarias e dos circuitos mais conhecidos.

Teve uma vez, por exemplo, que uma leitora veio me pedir um autógrafo. Mas, no lugar de um livro, ela trouxe um caderno onde tinha transcrito a história inteira. Quando perguntei por que tinha feito aquilo, ela me disse que estava em liberdade assistida e que não podia tirar o livro do lugar onde cumpria pena. Então copiou tudo no caderno para pegar o autógrafo. É forte, muito bonito. A leitura não chegou nela via livraria. Isso não consta na lista de mais vendidos. Tem muita coisa boa acontecendo, edições independentes que estão esgotadas, poetas originais que encontram o seu público.

 

Esses best-sellers influenciam de alguma maneira a produção de livros para adolescentes?

Está acontecendo uma contaminação crescente da linguagem do roteiro norte-americano na literatura. É sempre a mesma estrutura: arco narrativo um e dois, ponto de virada um e dois e toda essa trajetória que, em certa medida, sempre existiu. É igualzinha à usada em livros como “Sabrina” e outros que se preocupam mais em ser confortáveis do que em instigar. O Quixote só lia besteiras, por isso ele vira maluco. É essa a crítica que o Cervantes faz. A besteira que ele lia naquela época são hoje as histórias de youtubers, os “Game of Thrones”.

A literatura instigante, aquela que faz pensar, que faz sentir, é menos da moda. O que fica famoso é o livro que você pode controlar. Mas isso varia, claro. A mesma galera que lê “Crepúsculo”, costuma gostar de literatura gótica, por exemplo. E os livros góticos não têm fim aconchegante, não acabam como se imagina. As duas coisas acontecem em paralelo.

 

A gente vive a ditadura do blogueiro que só recomenda o best-seller?

A gente vive a época do like, do efeito manada que indica sempre as mesmas coisas. Isso é o oposto da sensação de encontrar um livro que seja seu. Eu adoro me sentir parte do todo, viver o clima de estádio de futebol, de show de rock. Mas o problema disso na literatura é quando você se preocupa muito com o best-seller, cria unanimidades, e esquece o long-seller. Nunca me interessei em ser best-seller. Quero ser alguém que permanece. O problema é que não se valoriza esse tipo de obra hoje.

O blogueiro, que era para ser um canal de opinião individual e ajudar a diversificar opiniões, acaba tornando tudo mais homogêneo. Sartre dizia que o crítico é o protetor do bolso do burguês [risos]. Ele recomenda gastar dinheiro com isso, não com aquilo. Só que assim você acaba com uma coisa muito legal: o ódio. Existem mil maneiras de se gostar de um livro –e uma delas é odiar. Os likes acabam com a possibilidade do conflito. Por que raios você só deve gostar, adorar, recomendar um livro? A literatura desloca, gera indagações, medos.

 

O adolescente é mais suscetível a esse efeito manada, ao like?

Com certeza. Mas também faz parte da adolescência, depois de se distinguir da família, buscar se diferenciar do próprio grupo. Encontrar o que é só seu. Mas claro que o livro que é recomendado pelo like, que fica badalado, também é importante. Tem hora que você está no trem e só quer saber se o detetive vai descobrir quem foi que cometeu o assassinato. Quer sangue. Quando sua mente está cansada, esse tipo de leitura é muito legal. Seu desejo é ter um livro que você domine –e não o contrário.

 

Não é possível juntar as duas coisas? Fazer um best-seller que faça pensar?

O Umberto Eco fez “O Nome da Rosa” assim, né? Apostou que faria um best-seller, foi lá e fez. É divertido brincar com esses códigos. Ele usou toda a estrutura clássica, o conflito de quem matou quem, o mistério de quem vai ficar com quem –algo que é usado exaustivamente em novelas. E, com isso, criou um livro maravilhoso.

Tudo é um jogo narrativo. Não existe uma história que não beba na fonte de “Dom Quixote” ou de “O Apanhador no Campo de Centeio”. São livros matriciais. As histórias da saga “Crepúsculo” tinham momentos de idílio ou conversa, o que é algo muito presente nas novelas de cavalaria, em Platão. Era algo que havia sido esquecido no romance moderno, mas que os vampiros recuperaram. As histórias hoje são feitas com muita ação. Como os roteiros de filme norte-americano.

 

‘Crepúsculo’ é uma saga muito feminina, assim como várias outras histórias que estão nas listas de mais vendidos. Best-sellers são feitos mais para meninas?

As meninas estão lendo muito. Mas não é algo novo. A gente teve a Biblioteca das Moças [coleção de livros publicados para o público feminino até a década de 1960]. Estou preparando um livro que me fez pesquisar essa coleção, que eu herdei da minha avó. Todas as histórias eram absolutamente iguais. Assim como acontece hoje, só que elas tinham outra pegada. Por exemplo: as “it girls” hoje são as meninas elegantes. Mas, naquela época, em que já existia esse termo, eram as meninas mais selvagens, que usavam saia curta, chocavam a sociedade. Mas, no fundo, é o mesmo.

O livro previsível é igual o fenômeno das novelas, o fascínio que “Chaves” exerce entre crianças e jovens. Quando eu era professora, lembro que os pais odiavam “Chaves”. Eles vinham me perguntar por que os filhos não desgrudavam do programa, que tinha sempre o mesmo começo, meio e fim. Justamente por isso. Porque é previsível. O livro previsível é um aconchego.

 

As meninas hoje estão discutindo mais questões de gênero e feminismo, mas isso não fez a busca por livros aconchegantes diminuir.

A gente vive em uma sociedade muito árida, sem momentos mágicos, sonhos. O urbano é muito desprovido de imaginação e criatividade. Então, o livro vira uma projeção.

 

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NOME Heloisa Prieto // IDADE 62 anos // LIVROS RECOMENDADOS “1001 Fantasmas”, “Andarilhas”, “As Três Faces da Moeda” // LIVRO FAVORITO NA INFÂNCIA Coletânea de contos do Hans Christian Andersen

O autor sabe que está escrevendo um livro previsível?

Sabe, claro. O que ele não sabe é a mensagem. As crianças e os jovens me perguntam qual é a mensagem da história que escrevi. Sei lá. Quando você escreve, existe uma tendência, uma afirmação mais ampla. Mas não tem uma mensagem óbvia. O escritor não tem controle. A linguagem conduz para outros lugares, coloca outros níveis de percepção. A tal mensagem depende da leitura. Da autoria da leitura.

 

Como assim?

Na autoria da leitura, não existe efeito manada nenhum. Você é o cocriador do livro. Tenho muitos leitores que mostraram partes das minhas histórias que eu não tinha percebido. Não via daquela maneira. Cada pessoa ressignifica a obra do seu jeito. Esse é o exercício legal, o barato da leitura. E é isso o que tornaria um blogueiro ou um youtuber que fala de literatura mais instigante. Não cairia naquele papel do Sartre, de ser o crítico que só diz o que o burguês deve ou não comprar. Iria contra a tendência do like.

 


 

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Palestra de Kéfera na Bienal tem mais gritaria da plateia do que bate-papo https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/palestra-de-kefera-na-bienal-tem-mais-gritaria-da-plateia-do-que-bate-papo/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/09/01/palestra-de-kefera-na-bienal-tem-mais-gritaria-da-plateia-do-que-bate-papo/#respond Thu, 01 Sep 2016 23:14:11 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/BIENAL-DO-LIVRO-2783-1-180x120.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=448 Nos primeiros cinco minutos, não dava para ouvir nada. O volume do microfone era incapaz de superar a gritaria dos fãs que lotaram os 550 lugares da arena da Bienal do Livro de São Paulo e dos que se aglomeraram do lado de fora do espaço. Depois, com o som já restabelecido, a youtuber Kéfera Buchmann, 23, dona do canal 5incominutos, conseguia ser ouvida até pela turma do fundão. Mas pouco importa.

“Não consegui ouvir quase nada do que ela disse. Mas só de ver a Kéfera ali, pertinho, já valeu a pena. Ela é perfeita!”, gritava Lara Gonçalves, 14, que viajou os 313 km que separam Ribeirão Preto (SP) da capital paulista na tarde desta quinta-feira (1º), só para ver a palestra da youtuber e agora também escritora .

Kéfera lançou em 2015 o livro “Muito Mais que Cinco Minutos” (ed. Paralela; R$ 24,90), que já vendeu mais de 400 mil exemplares. E acaba de publicar o segundo volume, “Tá Gravando. E agora?” (R$ 29.90), pela mesma editora, um dos selos da Companhia das Letras. Mas para os fãs que visitaram a Bienal, e talvez para os mais de 9 milhões de inscritos em seu canal, o importante mesmo é vê-la fazer ao vivo o que costuma mostrar nos vídeos.

E a youtuber correspondeu. Entrou no palco gravando a plateia com o celular, parou para fazer uma selfie de cima do palco, rebolou ao som de “Na Boquinha da Garrafa” cantada a capela e fez sua “sarrada”, movimento em que pulou e jogou o quadril para frente. Tudo para delírio e gritaria dos fãs extasiados.

 

“O que ela falou do filme mesmo? Não consegui entender”, perguntou à reportagem Júlia Porto, 11, sobre o longa-metragem “É Fada”, que tem previsão para estrear no dia 6 de outubro. Na história, inspirada no livro “Uma Fada Veio me Visitar”, de Thalita Rebouças, Kéfera vive a desajeitada fada Geraldine que, ao perder suas asas, passa a ajudar a adolescente Júlia a ganhar popularidade na nova escola (veja o trailer aqui).

A youtuber estava falando que havia gostado da experiência de trabalhar no cinema e destacava a sua formação como atriz. “Já fiz peça de teatro e interpreto muitos personagens nos vídeos do meu canal. Quero mostrar cada vez mais o meu lado atriz. Principalmente no cinema”, disse.

A plateia parecia nem ouvir. Aos gritos de “Kéfera, eu te amo”, “Kéfera gostosa” e “Tira a roupa”, o público jogava dezenas de objetos no palco, de bolachas e hidratante a camiseta usada e um celular –que a youtuber pegou, devidamente tirou uma selfie com o aparelho e devolveu para o dono. “Estou até rouca”, disse Milena, 9, que assistia à fala em cima dos ombros do pai, o bancário Luis Bragança, 41. Ela só lamentava não ter conseguido uma das 300 senhas para a sessão de autógrafos com a autora, que aconteceu após a palestra.

Antes de ir embora, Kéfera ainda adiantou que está preparando mais dois longas. “Vai ser um filme mais adulto, mas não vai ser pornô”, brincou. De livros e literatura, pouco conseguiu dizer.

“Vocês querem mesmo saber sobre o livro?”, perguntou para o público, que empunhava cartazes e aumentava os decibéis do pavilhão da Bienal.

 

BIENAL DO LIVRO

Quando até 4/9

Onde Pavilhão do Anhembi – av. Olavo Fontoura, 1.209; tel. (11) 2226-0400

Quanto R$ 20 (segunda a quinta) e R$ 25 (sexta a domingo)

Programação horários e mais detalhes em bienaldolivrosp.com.br

 


 

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No topo da lista de livros mais vendidos, atriz de ‘Carrossel’ dá autógrafos na Bienal https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/31/no-topo-da-lista-de-livros-mais-vendidos-atriz-de-carrossel-da-autografos-na-bienal/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/31/no-topo-da-lista-de-livros-mais-vendidos-atriz-de-carrossel-da-autografos-na-bienal/#respond Wed, 31 Aug 2016 14:31:40 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/manoela-e1472652280256-180x95.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=417 Nem um novo escritor meteórico nem um desses youtubers que desandaram a publicar livros nos últimos meses. Quem está no topo da lista dos mais vendidos há quase dois meses é uma atriz de “Carrossel”.

Larissa Manoela, que ficou conhecida como a Maria Joaquina da novela do SBT, e o seu livro “O Diário de Larissa Manoela” estão desde o dia 2 de julho na liderança do ranking de obras infantojuvenis mais vendidas publicado semanalmente na Folha. A lista é feita com base no número de exemplares comercializados em livrarias de todo o país.

Com formato simples, o livro conta a história da atriz, do nascimento e vida na escola até a festa de 15 anos, com direito a uma cartinha do atual namorado –o também ator João Guilherme Ávila, que atuou com a menina em “Cúmplices de um Resgate”.

O diário, longe do trato e do rigor literário das auto-biografias, é o que o título propõe: uma versão estendida dos perfis e curiosidades sobre um determinado artista, gênero que costumava entupir as revistas para adolescentes nos anos 1990 e 2000. Assim como essas publicações tinham sucesso de venda no passado, o livro parece seguir a mesma tendência.

 

Logo no início do livro, a atriz conta que tinha poucos colegas na infância e que gostava mesmo é de brincar com seus quatro amigos imaginários. “Eu almoçava com eles, limpava a casa com eles, só não ia para a escola”, escreve. Depois, a história mostra como ela fez diversos testes para se tornar atriz e modelo na infância, as brincadeiras de agência de modelos com suas bonecas e como foi aprovada para atuar no filme “O Palhaço” (2011), de Selton Mello, e para entrar no elenco da novela “Carrossel”.

Como todo bom relato pessoal, claro que não faltam fotos inéditas da garota bebê e um capítulo inteiro sobre sua primeira menstruação e as cólicas que surgiram depois. Além disso, comentários do pai e da mãe aparecem intercalados à narrativa como se fossem conversas de WhatsApp ou qualquer outro aplicativo de mensagem.

No fim, relembrando as reportagens das revistas teen, há oito listas sobre os gostos de Larissa Manoela: 10 músicas brasileiras (a primeira é “Te Vivo”, de Luan Santana), 10 ídolos (o primeiro lugar ficou para Rihanna) e 10 gatos (Justin Bieber liderando), por exemplo. A última é 10 marcas: de bolsas, jóias, roupas, perfumes e outros acessórios. Assim como os youtubers mais famosos, ela também não deixa de falar sobre produtos.

A atriz autografará seu livro nesta quinta-feira (1º), às 14h, na Bienal do Livro de São Paulo.

 

“O Diário de Larissa Manoela”livro-larissa-manoela

Autora Larissa Manoela

Editora Harper Collins

Preço R$ 29, 90 (152 págs.)

Leitor avançado

 

*

BIENAL DO LIVRO

Quando até 4/9

Onde Pavilhão do Anhembi – av. Olavo Fontoura, 1.209; tel. (11) 2226-0400

Quanto R$ 20 (segunda a quinta) e R$ 25 (sexta a domingo)

Autógrafos com Larissa Manoela quinta (1º), às 14h

Programação horários e mais detalhes em bienaldolivrosp.com.br


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Em ano de crise, editora brasileira investe em livros da África https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/12/em-ano-de-crise-editora-brasileira-aposta-em-livros-da-africa/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/08/12/em-ano-de-crise-editora-brasileira-aposta-em-livros-da-africa/#respond Fri, 12 Aug 2016 08:30:27 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/VAKAPULANA-e1470975485566-180x105.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=308 A língua até pode ser a mesma. Mas histórias criadas em Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros países da África dificilmente conseguem atravessar o Atlântico e chegar vivas ao Brasil.

Desde o ano passado, a editora Kapulana quer mudar isso e propõe se tornar uma espécie de ponte entre os dois continentes. Até o fim do ano, ela terá em seu catálogo sete livros infantis africanos escritos em língua portuguesa –seis de Moçambique e um de Angola, todos de autores contemporâneos.

“Começou a me incomodar ver tanta produção literária para crianças na África e isso não chegar aqui. O pouco que é publicado é para adultos e feito por escritores já consagrados, como Mia Couto. Mas a quantidade de lançamentos é muito maior”, diz Rosana Morais Weg, editora da Kapulana, que morou em Moçambique na década de 1980, onde começou a ter contato com a literatura do lugar.

Após alguns anos publicando livros científicos sob demanda e infantojuvenis bilíngues, a editora lançou em 2015 a primeira história africana: “Kalimba”, da angolana Maria Celestina Fernandes. Foi só o pontapé inicial. Depois, adquiriu os direitos para comercializar no Brasil dez obras preparadas por escritores e ilustradores moçambicanos, em que recontam histórias tradicionais da cultura oral do país. Da série, saíram “As Armadilhas da Floresta” e “Rei Mocho” (leia entrevista com o autor).

Agora, acabam de publicar no Brasil “O Jovem Caçador e a Velha Dentuça”, do moçambicano Lucílio Manjate. O livro é inédito e foi feito exclusivamente para a Kapulana. A ilustração que abre este texto, de Brunna Mancuso, faz parte da obra.

Como o português desses países têm algumas diferenças em relação ao que é falado no Brasil, os textos são adaptados ortograficamente para não causar estranhamentos ao leitor daqui.

CRISE

A editora lança os seus livros no meio de uma das piores crises do mercado editoral brasileiro. As vendas do setor tiveram a pior queda desde 2002, encolhendo 12,6% em 2015 e com números neste ano nem um pouco mais animadores. Tanto que a Bienal do Livro de São Paulo apostará em promoções e em youtubers para tentar manter o volume de vendas.

As editoras maiores, que colocaram todas as fichas nos livros de colorir no ano passado, tentam agora equilibrar as contas com obras escritas justamente por esses youtubers mais badalados do país.

Mas, como em qualquer crise, são as empresas menores que têm as maiores chances de transformar o período ruim em oportunidade de inovar. É no que aposta a Kapulana. “A editora ainda não se sustenta economicamente, estamos na fase de investimento. Esperamos começar a ter retorno neste ano”, diz Weg.

Uma das apostas para que isso se concretize é a lei 10.639, sancionada em 2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas do país. “Por um lado, isso foi maravilhoso. Mas os professores ainda não sabem trabalhar o tema em sala de aula. O tom ainda é o do exótico.”

Leia aqui entrevista com a escritora Silvana Salerno, que lançou em 2015 livro sobre o continente africano e falou sobre o impacto da lei.

 

EDIT-KAPULANA_O-Jovem-cacador-e-a-velha-dentuca_CAPA

“O Jovem Caçador e a Velha Dentuça”

Autor Lucílio Manjate

Ilustradora Brunna Mancuso

Editora Kapulana

Preço R$ 29,90

Leitor Iniciante + leitura compartilhada

 


 

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Bienal aposta em saldão e em multidões para driblar a crise https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/26/bienal-aposta-em-saldao-e-em-multidoes-para-driblar-a-crise/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/26/bienal-aposta-em-saldao-e-em-multidoes-para-driblar-a-crise/#respond Tue, 26 Jul 2016 07:00:44 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/Garotinha-alcanca-livro-em-pratileira-na-22-Bienal-Internacional-do-Livro-em-Sao-Paulo-no-pavilhao-do-Anhembi-no-primeiro-final-de-semana-aberto-ao-publico-Foto-Eduardo-K-2-180x125.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=206 A crise e a queda na venda de livros no Brasil acenderam o sinal amarelo para a Bienal do Livro de São Paulo. O evento deve apostar neste ano em promoções e descontos, além de em táticas para tentar atrair um número ainda maior de visitantes –e assim buscar ao menos manter o número de vendas da última edição.

“As editoras estão preparadas. Muitas estão esperando que a Bienal seja um fôlego para o caixa da empresa”, diz Luís Antonio Torelli, presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro), entidade que organiza a Bienal. A 24ª edição ocorrerá em São Paulo de 26 de agosto a 4 de setembro.

Em 2015, as editoras viram as vendas de livros terem a pior queda desde 2002, segundo a pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”. O levantamento, encomendado pela CBL e pelo Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), apontou que o mercado livreiro encolheu 12,6% no ano passado.

O destaque negativo foi justamente o livro infantojuvenil. No total, foram produzidos 33,5 milhões de exemplares a menos nesse segmento, se comparado a 2014 –a principal justificativa é o governo federal não ter aberto o edital do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), ou seja, das compras governamentais de obras para crianças e adolescentes que são um dos principais pilares do modelo de negócio de editoras que apostavam nesse tipo de livro.

O ano de 2016 não dá sinais de melhora. A última pesquisa, divulgada há menos de dez dias, mostrou que nos primeiros seis meses deste ano, as vendas de livros caíram 16,3% em volume e 6,94% em faturamento, em comparação com o mesmo período de 2015.

 

É nesse turbilhão que a Bienal de São Paulo vai acontecer. Além dos descontos, que devem ser oferecidos pelas editoras a fim de aumentar o volume das vendas, a organização do evento está tomando iniciativas para conseguir reunir um número ainda maior de pessoas, na esperança de que isso se reflita no faturamento.

Para isso, a Bienal deste ano terá mais espaços para autógrafos de escritores-celebridades, corredores mais largos, mais banheiros e vendas de ingresso pela internet.

Na programação, há nomes de youtubers como Kéfera, Lucas Rangel, Maju Trindade e Pedro Rezende, do canal RezendeEvil, que devem atrair grande público. Todos lançaram livros e são os queridinhos atuais das editoras, que enxergam neles a possibilidade de um sucesso editorial que se assemelhe ao dos livros de colorir de 2015.

“Temos que dosar na programação a Kéfera e o autor que ganhou o Jabuti. A Bienal precisa atrair todos os públicos e gerar novos leitores”, diz Torelli.

Com mais gente, aumenta a preocupação para evitar casos de assaltos, como os da quadrilha suspeita de roubar 45 celulares na Bienal de 2014. Para coibir furtos, o evento contará com uma base móvel da Guarda Civil Metropolitana.

Mais informações serão divulgadas nesta terça (26) para a imprensa.


 

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Minecraft invade os livros com histórias feitas por youtubers famosos https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/05/minecraft-invade-os-livros-com-historias-feitas-por-youtubers-famosos/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/05/minecraft-invade-os-livros-com-historias-feitas-por-youtubers-famosos/#respond Tue, 05 Jul 2016 06:04:41 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/IMG_20160705_025512667-e1467738758924-180x140.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=49 Livros para adolescentes costumam viver de tendências. Se a moda são os vampiros de “Crepúsculo”, sugadores de sangue começam a despencar das prateleiras das livrarias. Se a demanda é por histórias em forma de diário, brotam obras nesse formato por todos os lados.  A aposta das editoras para o título de galinha dos ovos de ouro de 2016 já tem nome: Minecraft.

O jogo, cuja versão para computador superou os 23 milhões de downloads no mundo todo, é um dos games mais vendidos e de maior sucesso de todos os tempos. Lançado em 2009, o único objetivo é construir o que a imaginação permitir usando uma espécie de Lego virtual.   

Pois essas pecinhas saíram das telas dos videogames para invadir as livrarias. Diferentes editoras começaram a publicar aventuras inspiradas em Minecraft para tentar surfar na febre do game –afinal, se só uma parcela dos milhões de fãs comprarem os livros, as contas no final do mês tendem a ficar menos feias neste ano de crise econômica, com cortes nas compras do governo e alta nos custos de produção.

 

 

Só a editora Sextante tem seis livros inspirados em Minecraft publicados. O sétimo será lançado agora em julho, enquanto o oitavo deve chegar às prateleiras já em outubro deste ano. Todos eles fazem parte da coleção “Diário de um Zumbi do Minecraft”, que conta a história de um zumbi de 12 anos que vive no mundo virtual do jogo, onde vai à escola, a acampamentos com monstros devoradores de cérebros e encontros de mortos-vivos.

Feito no formato de diário, a série surfa na onda de outro sucesso: a coleção “Diário de um Banana”, que já vendeu mais de 5 milhões de exemplares no Brasil. A combinação Minecraft + zumbi + “Diário de um Banana” fez os livros da coletânea venderem mais de 400 mil exemplares.

O número pode parecer alto, ainda mais quando um não-iniciado em Minecraft lê que as histórias fazem um passeio em Nether e promovem encontros com slimes, creepers e endermens. Porém, o que não dá para entender bulhufas faz todo o sentido para quem passa horas, todos os dias, montando bloquinhos na frente do computador ou do videogame. E esse pessoal é um exército.

O sucesso desse tipo de livro pode fazer ainda mais sentido quando quem o escreveu é um youtuber que grava vídeos sobre Minecraft –existem vários ensinando no YouTube a construir castelos, navios, naves espaciais…

Um dos principais é Pedro Rezende, criador do canal Rezendeevil e autor de “Dois Mundos, Um Herói”, da editora Suma de Letras, em que o youtuber acorda dentro do mundo virtual e esbarra com uma versão digital de si mesmo. Seus vídeos sobre Minecraft já alcançaram a marca de 2,5 bilhões de visualizações. O livro vendeu mais de 130 mil exemplares e ganhou uma continuação: “De Volta ao Jogo”, lançada em abril.

Isso fez com que a Sextante também resolvesse apostar em um youtuber-escritor. A editora lançará em setembro um romance que se passa no universo de Minecraft e será escrito por Eduardo Faria. O youtuber é dono do canal VenomExtreme, que tem quase 835 milhões de visualizações em seus vídeos sobre diferentes jogos.

Na galeria lá em cima, há os livros citados neste texto e outras obras sobre Minecraft, com preço e editora. Abaixo, se você não conhece o jogo, é possível entender um pouco melhor o que é o game.

 

 


 

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