Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por que ‘Caçadas de Pedrinho’ é hoje um elefante em uma loja de cristais? https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/por-que-cacadas-de-pedrinho-hoje-e-um-elefante-em-uma-loja-de-cristais/#respond Wed, 23 Jan 2019 16:30:55 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/abre_corte-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2751 A entrada de toda a obra de Monteiro Lobato em domínio público, em janeiro deste ano, gerou um reboliço no mercado editorial brasileiro –sobretudo entre editoras com selos infantis, que estão prestes a produzir uma avalanche de Emílias, Pedrinhos e Narizinhos nas livrarias (falei sobre o fenômeno aqui, na Ilustrada, neste fim de semana).

Entre as histórias do pai do Sítio do Picapau Amarelo, há as mais queridinhas: caso de “Reinações de Narizinho”, “A Chave do Tamanho” e “O Picapau Amarelo”, por exemplo, que ganharão impressões de mais de uma editora, com diferentes ilustrações e tratamentos gráficos. Mas existe também um livro que hoje é encarado como um elefante em uma loja de cristais: “Caçadas de Pedrinho”.

Escrito em 1933, a história narra uma expedição formada por personagens do Sítio à caça de uma onça. Nela, Pedrinho leva uma espingarda, Narizinho escolhe uma faca, Visconde decide empunhar um sabre de madeira e Emília carrega um espeto de assar frangos. A jornada esbarra ainda com jaguatiricas, tatus, veados, gaviões e até com um rinoceronte fugido.

A aventura se tornou uma das mais conhecidas de Lobato, manteve-se viva por gerações e certamente seria um dos xodós de qualquer editora. Seria. Isso porque leituras contemporâneas enxergaram problemas em algumas passagens da narrativa, campanhas surgiram aqui e ali conta a obra, ativistas e leitores defenderam o boicote ao livro, que se tornou o título infantojuvenil mais tóxico do escritor.

Ilustração de Guazzelli para ‘Caçadas de Pedrinho’ da editora Globinho

A primeira questão apontada é o suposto racismo de Lobato expresso no livro –nele, Tia Nastácia é descrita como “uma macaca de carvão”. Em 2010, um parecer do Conselho Nacional de Educação recomendou a não distribuição da obra em escolas públicas ou a veiculação de uma nota explicativa. O caso chegou ao STF, na forma de um pedido para a inclusão do tal adendo, que foi negado.

“O que ninguém percebe é que, no final de ‘Caçadas de Pedrinho’, Tia Nastácia fala para a Dona Benta: ‘Negro também é gente, Sinhá’. Ela atesta a sua identidade, a sua igualdade. O próprio livro trabalha a questão. Com isso, não quero dizer que Lobato não seja preconceituoso. Ele era um típico homem dos anos 1930 que vivia em São Paulo, com todo aquele imaginário que vinha da escravidão”, afirmou Marisa Lajolo, uma das principais especialistas da obra de Lobato, em entrevista ao blog, em 2017.

A outra questão que paira sobre o livro se refere à própria caçada da onça, animal que corre risco de extinção, sobretudo na mata atlântica.

Frente a isso, as editoras se viram obrigadas a optar entre três possibilidades: colocar a mão no vespeiro, adaptar a história ou ignorar o livro –nem que seja, ao menos, neste início de domínio público.

A Companhia das Letrinhas está se preparando para relançar a obra de Lobato, com novas ilustrações, em uma coleção organizada por Marisa Lajolo. Embora possa sofrer alterações, o cronograma de lançamentos está montado até 2020–e não há sinal de “Caçadas de Pedrinho”.

“Na minha opinião, é preciso não mudar os textos. Um autor precisa ser lido em sua inteireza. O que a gente faz com o passado? Só condena? Só conhece? Em vez de esconder, é importante trazer essas ambivalências à tona e entender como elas se manifestam hoje em dia”, defende Lilia Schwarcz, que lançará uma biografia juvenil de Monteiro Lobato produzida em conjunto com Lajolo. O livro deve sair pela Companhia das Letrinhas em março.

A Autêntica também publicará os textos integrais, mas não irá se aventurar com “Caçadas de Pedrinho” neste primeiro momento. É o mesmo caso da FTD. “A editora está lançando 15 obras do Lobato nessa primeira etapa. Pouco a pouco, todos os outros livros que mantêm seu vigor e sua importância serão publicados. Ainda não há previsão de em qual etapa do projeto estará ‘Caçadas de Pedrinho’”, conta Isabel Lopes Coelho, gerente editorial de literatura da FTD.

Sobre o suposto racismo do autor, ela diz: “Por ora não tivemos esse problema, pois a seleção não incluiu obras em que, a nosso ver, essa questão se apresente de forma explícita.”

Ilustração de Paulo Borges para edição da Globinho

Mesmo entre os que preferiram adaptar as histórias, não há sinal de que o livro polêmico desponte no horizonte. Pedro Bandeira, autor de “A Droga da Obediência”, está preparando versões de Lobato para a Moderna –mas declarou ao blog que não deve se debruçar sobre “Caçadas de Pedrinho”.

Uma das poucas editoras que decidiram trabalhar com o título neste ano e que em breve levarão a aventura às livrarias é a Sesi-SP. Previsto para maio, “Caçadas de Pedrinho” terá ilustrações de Jean Galvão, chargista da Folha. Ao todo, 27 títulos infantojuvenis do escritor serão publicados entre fevereiro e julho deste ano, dos mais famosos a outros mais desconhecidos.

Com projeto gráfico desenvolvido por Raquel Matsushita, a coleção contará com novos ilustradores, entre eles 11 artistas portugueses.

Por enquanto, a única chance de ler a história ainda é com as edições da Globo, que detinha os direitos de publicação da obra de Lobato até o início do domínio público, em 1º de janeiro (ou, então, com as mais antigas, como as da Brasiliense). A Globinho teve duas versões, uma ilustrada por Paulo Borges e outra por Eloar Guazzelli, enquanto o selo Biblioteca Azul publicou uma edição vintage, com capa dura e ilustrações dos anos 1930 e 1940.

“Ninguém sai matando onça por causa do livro. Defender a liberdade poética do autor não é fazer apologia à matança nem endossar o racismo no país”, acredita Mauro Palermo, diretor editorial da Globo Livros.

Para as editoras, a obra de Lobato em domínio público é como uma coleção de cristais e pedras preciosas que podem ajudar um mercado editorial em mais um ano de crise –e “Caçadas de Pedrinho” é o brutamontes com potencial de quebrar tudo a sua volta.

 


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Exposição exibe livros infantis brasileiros anteriores a Monteiro Lobato https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/10/11/exposicao-exibe-livros-infantis-brasileiros-anteriores-a-monteiro-lobato/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/10/11/exposicao-exibe-livros-infantis-brasileiros-anteriores-a-monteiro-lobato/#respond Wed, 11 Oct 2017 19:45:17 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/10/20171002_142415-1-180x78.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1827 O que os bisavós e tataravós que moravam no Brasil liam quando eram crianças? Com quais livros o menino Monteiro Lobato se divertia, muito antes de inventar o Sítio do Picapau Amarelo, a Emília, a Narizinho e toda a turma?

Um pouco dessa produção está na exposição “Livros Infantis Velhos e Esquecidos”, que exibe mais de cem obras publicadas no país entre a segunda metade do século 19 e os anos 1930. A mostra está em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária, em São Paulo.

Entre os títulos exibidos, estão “Juca e Chico”, “João Felpudo”, “Robinson Crusoé” e “Viagens de Gulliver”. Alguns publicados por editoras como Garnier e Laemmert, do século 19, além de casas como Melhoramentos, Francisco Alves e também a primeira editora de Monteiro Lobato, que lançou as primeiras histórias do “pai da literatura infantil brasileira”, nos anos 1920.

 

 

A exposição é mais do que oportunidade de chegar perto de livros centenários, mas também chance de perceber como as obras infantis mudaram de lá para cá –na diversidade das ilustrações, na qualidade da impressão e também na mudança da linguagem.

Serve também para ver de perto os representantes brasileiros de uma explosão da literatura infantil no mundo todo. Até o século 19, histórias hoje tidas como infantis, como contos de fadas e fábulas, não eram propriamente pensadas para crianças. Isso porque o conceito de infância ainda não existia como conhecemos hoje. O quadro só muda a partir do fim do século 19, quando os pais desenvolvem um sentimento de proteção maior em relação aos filhos. Direitos específicos, surgem no século 20. A Declaração dos Direitos da Criança da ONU data de 1959.

É na virada do século 19 para o 20 que as histórias passam a ser sistematicamente adaptadas para o público infantil. E que começam a aparecer livros mais específicos para esse público, muitos com tons didáticos e educacionais, voltados para as escolas. As crianças entram então de vez no mercado de livros.

“A exposição traz as origens dos livros infantis publicados no Brasil. Hoje há um redescobrimento das publicações pré-Lobato”, diz Gabriela Pellegrino, professora da USP e uma das curadoras da mostra, que foi concebida a partir de pesquisas de Pellegrino e da outra curadora, Patrícia Tavares Raffaini, sobre o tema.

Algumas das edições foram adquiridas com recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e doadas para a Universidade de São Paulo. Outras estavam guardadas em unidades e bibliotecas da USP ou então foram cedidas por diferentes instituições.

“Muitos livros dessa época ainda eram histórias estrangeiras, traduzidas e adaptadas para o português. A produção brasileira ainda era pequena. E só começa a crescer mais tarde, com o Lobato. Mas é importante notar que existia, sim, um mercado editorial infantil muito antes disso”, conta Pellegrino.

Além de literatura, a exposição traz exemplares da revista “O Tico-Tico”, almanaques, álbuns e histórias ilustradas. A mostra fica em cartaz até 30 de outubro.

 

“Livros Infantis Velhos e Esquecidos”

Onde Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – r. da Biblioteca, s/nº, Cidade Universitária, São Paulo; tel. (11) 2648-0310

Quando Seg. a sex.: 8h30 às 18h30. Até 30/10

Quanto Grátis

 


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Prêmio Monteiro Lobato de literatura infantil vai seguir Prêmio Camões e dar 100 mil euros https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/05/05/premio-monteiro-lobato-de-literatura-infantil-vai-seguir-premio-camoes-e-dar-100-mil-euros/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/05/05/premio-monteiro-lobato-de-literatura-infantil-vai-seguir-premio-camoes-e-dar-100-mil-euros/#respond Fri, 05 May 2017 22:07:24 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/430400_1856078o-180x120.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1469 Foram acertados nesta sexta-feira (5) os detalhes do novo Prêmio Monteiro Lobato, para autores de literatura infantojuvenil. O reconhecimento foi criado pelos governos brasileiro e de Portugal neste ano.

Em reunião que aconteceu em Salvador (BA) entre representantes do Ministério da Cultura dos dois países, ficou decidido que a nova premiação seguirá regras parecidas às do prêmio Camões, considerado a principal distinção literária em língua portuguesa –inclusive no que se refere à premiação: € 100 mil (cerca de R$ 350 mil) serão entregues aos vencedores.

A diferença é que o Prêmio Monteiro Lobato terá duas categorias: texto e ilustração. Os € 100 mil serão divididos entre os dois escolhidos. Outra mudança é que os vencedores serão anunciados a cada dois anos, enquanto o Camões é entregue anualmente.

“A ilustração é algo muito importante para o livro infantil. Ter duas categorias expande o universo da premiação”, afirma Helena Severo, presidente da Biblioteca Nacional. Assim como acontece com o Camões, a Biblioteca será a instituição ligada ao MinC que participará da organização.

Outra semelhança é que o valor pago será dividido pelos governos de Brasil e Portugal. Segundo Severo, na primeira edição, cuja cerimônia deve acontecer em 2018, apenas autores dos dois países poderão concorrer. Ainda não há data para a divulgação de mais informações nem previsão de quando escritores nascidos em outros países de língua portuguesa poderão participar.

“A literatura infantojuvenil é um segmento em crescimento tanto no Brasil quanto em Portugal. É ela que forma leitores. Ainda não existia um prêmio desse tamanho em língua portuguesa. O Monteiro Lobato vem preencher essa lacuna”, afirma Severo.

A escolha do nome é uma maneira de agradar brasileiros, já que o poeta português foi escolhido como o patrono da outra distinção. “Acho justo, agora ficamos combinados”, diz a presidente da Biblioteca.

O Camões, instituído em 1988 em acordo entre Brasil e Portugal, teve o brasileiro Raduan Nassar como o último vencedor. A premiação, que aconteceu em fevereiro em São Paulo, ficou marcada pelo discurso contundente do escritor contra o governo de Michel Temer e pelas críticas do ministro Roberto Freire feitas a Nassar.

 


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Livro infantil brasileiro do século 19 é publicado após mais de cem anos; veja versão digital https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/livro-infantil-brasileiro-do-seculo-19-e-publicado-apos-mais-de-cem-anos-veja-versao-digital/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/livro-infantil-brasileiro-do-seculo-19-e-publicado-apos-mais-de-cem-anos-veja-versao-digital/#respond Thu, 20 Apr 2017 11:21:42 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/fapesp-180x79.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1398 A semana é de festa na literatura brasileira para crianças. Na última terça-feira (18), foi comemorado por aqui o Dia Nacional do Livro Infantil –a data é uma homenagem ao nascimento do escritor Monteiro Lobato, que nasceu há 135 anos.

Embora o autor seja considerado o pai da literatura para esse público e as histórias do Sítio do Picapau Amarelo tenham marcado gerações, os livros de Lobato não foram as primeiras publicações para crianças a serem publicados no país, como muitos acreditam. Sim, há literatura pré-Lobato no Brasil.

Uma dessas obras veio à tona no último mês, após passar mais de cem anos inédita: “Versos para os Pequeninos”, de João Köpke, escrito entre 1886 e 1897, mas nunca publicado. O livro traz 24 poemas e foi analisado na tese de livre-docência de Norma Ferreira, professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O original, que tem 54 páginas, contém poemas manuscritos e ilustrações recortadas de outros livros, que serviriam de referência ao ilustrador da obra. Os poemas, com rimas simples que facilitam a memorização, falam de brincadeiras tradicionais, bichos e relação com a família.

O poema “O balanço”, por exemplo, começa com: “Laura, Tonico, / Chico, brincando, / Vão no balanço / Se embalançando”; emendando logo uma espécie de refrão: “Bão.. ba-la-lão / Meu capitão! / Upa, balanço! / Bumba no chão!”.

Até pode parecer batido à primeira vista, mas é inovador. Na tese, Ferreira defende que os textos trazem uma liberdade e uma informalidade incomuns para a educação do século 19, que valorizava a criança bem-comportada e certinha.

O livro foi tema de reportagem na edição de março da revista “Pesquisa Fapesp”, que reproduziu digitalmente o livro. Ficou curioso? Clique aqui para ver a versão digital da obra.

 


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‘Reinações de Narizinho’ completa 86 anos: ‘Lobato é um clássico e vai permanecer’, diz Marisa Lajolo https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/01/05/lobato-e-um-classico-e-vai-permanecer-diz-marisa-lajolo-nos-86-anos-de-reinacoes-de-narizinho/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/01/05/lobato-e-um-classico-e-vai-permanecer-diz-marisa-lajolo-nos-86-anos-de-reinacoes-de-narizinho/#respond Thu, 05 Jan 2017 13:35:07 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/vaMARISA-22.04.2014-Foto-Marlene-BergamoFolhapress-1-180x100.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=920 Quando “Reinações de Narizinho” foi lançado no Brasil, em 1931, Getúlio Vargas estava no poder e o atual presidente Michel Temer ainda nem era um projeto –Temer nasceria apenas em 1940. Naquele início de anos 1930, a Orquestra Colbaz fazia fama com “Tico-Tico no Fubá”, enquanto Noel Rosa estourava no Carnaval com o samba “Com que Roupa?”. No cinema, Charlie Chaplin estreava o seu “Luzes da Cidade”. E o Cristo Redentor era finalmente inaugurado no Rio.

Todos eles marcaram a história de alguma forma, a ponto de serem lembrados ainda hoje. Mas, com exceção talvez do Cristo, que ainda segue firme e forte no Corcovado, os demais indiscutivelmente ocupam um lugar mais no passado do que no presente –vamos combinar que praticamente ninguém sai por aí ouvindo que “o tico-tico tá comendo meu fubá” no fone de ouvido do iPod (pode-se até comer outras coisas na música brasileira atual, mas fubá não mais).

A exceção é “Reinações de Narizinho”.

A obra de Monteiro Lobato completou 85 anos em 2016 e segue presente na vida de adultos e crianças, que ainda veem o livro figurar na lista de leituras obrigatórias das escolas e assistem ao Sítio do Picapau Amarelo na televisão. A editora Globinho segue reeditando a obra de Lobato e, em 2016, lançou uma edição de “Reinações” ilustrada por Guazzelli. Em 2014, a Biblioteca Azul (também selo da Globo) publicou uma edição que recupera as ilustrações originais da história.

“Pode-se dizer que foi a partir de ‘Reinações’ que Lobato se consolidou como escritor”, afirma Marisa Lajolo. A professora, pesquisadora e atual curadora do prêmio Jabuti é autora do livro “Monteiro Lobato – Um Brasileiro sob Medida” (ed. Moderna) e coordenou atividades de pesquisa na Unicamp relacionadas ao acervo do escritor.

Na entrevista abaixo, ela fala sobre Lobato, o prêmio Jabuti, a produção atual de literatura para crianças e o cenário do livro digital no Brasil. Confira.

 

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NOME Marisa Lajolo // IDADE 72 // PROFISSÃO professora, pesquisadora e curadora do prêmio Jabuti (Foto: Bruno Poletti/Folhapress)

 

Qual a importância de “Reinações de Narizinho” para a obra de Monteiro Lobato?

Marisa Lajolo – Nos anos 1920, Lobato começou a escrever pequenos livros, com histórias curtas. “Reinações de Narizinho” é uma junção dessa produção –por isso, dá a sensação de os capítulos serem quase independentes. Como a obra foi comprada pelo Governo de São Paulo na época, ela conseguiu uma distribuição grande para os padrões da época, não apenas na capital, mas também no interior. Pode-se dizer que foi a partir daí que Lobato se consolidou como escritor.

 

Qual o segredo de Lobato? Por que seus livros são lidos até hoje?

Há duas hipóteses. A primeira é que ele teve herdeiros e editores muito zelosos de sua obra. A segunda é que ele era bom e que os seus livros são bons. Eu fico com essa segunda. Lobato já é um clássico e vai permanecer.

O curioso é que essa permanência acontece mais na literatura infantojuvenil. Lobato tem livros maravilhosos para adultos, que mereceriam reedições sofisticadas. Acontece que ele investiu menos nessas histórias, escreveu menos para adultos. Isso mostra também a sua precocidade. Hoje, a literatura infantil é um dos três segmentos mais importantes da cadeia do livro. Você tem os religiosos, os didáticos e os infantis. Lobato percebeu que isso poderia acontecer e investiu.

 

Ele é o “ancestral comum” de toda a literatura infantojuvenil brasileira?

Se você perguntar a qualquer grande autor brasileiro de literatura infantojuvenil, todos vão dizer que leram Lobato na infância ou depois de crescidos. O Walcyr Carrasco, a Lygia Fagundes Telles, diversos bons escritores sempre citam Monteiro Lobato como o despertar para o universo do livro. Ele é uma figura muito presente na vida cultural brasileira. Hoje há muita gente boa escrevendo graças a ele.

 

Há quem o retrate como um escritor moderno, à frente do seu tempo. Enquanto outros pintam Lobato como um grande conservador. Ele é uma figura controversa?

O Lobato era moderno. Ele se autoeditava e tinha um conhecimento muito amplo da cadeia do livro. Sabia da importância do leitor, do editor, do vendedor. Mais tarde, depois do “Reinações de Narizinho”, ele escreveu uma circular para comerciantes de pequenas cidades do interior do Brasil que dizia mais ou menos o seguinte: “Eu faço livros. O senhor vende remédios. Como os dois produtos não são incompatíveis, posso enviar um pacote de livros para que eles sejam vendidos no seu estabelecimento”.

Com isso, ele penetrou no Brasil –coisa que pouco aconteceu depois dele. Lobato tinha uma visão mercadológica extremamente moderna, ao mesmo tempo que mantinha uma capacidade imaginativa fantástica.

Tem um livro dele interessante nesse aspecto, chamado “O Picapau Amarelo”. Todas essas histórias que fazem sucesso hoje, repletas de heróis misturados, fanfics, filhas de princesas do “Ever After High”… Tudo isso está nesse livro. Nele, personagens como Peter Pan, Chapeuzinho Vermelho e Dom Quixote se mudam para o Sítio do Picapau Amarelo. É fantástico. 

Mas claro que teve alguns problemas, sobretudo na linguagem. Ele escreve o português coloquial dos anos 1930 e 1940. Mas nada que um adulto culto, lendo com uma criança, não resolva. Ou um professor interessado.

 

Mas ele levantou muitas polêmicas também. E levanta ainda hoje, como essa questão do racismo, por exemplo.

Ele foi um pouco punido pela briga com os modernistas. Ele não entendia o futurismo, brigou com a Anita Malfatti. Isso é uma coisa que, em certo sentido, atrapalhou a figura dele nos meios mais intelectualizados, na academia. Mas, por outro lado, pode tê-lo aproximado do gosto mais popular, distante das vanguardas artísticas.

Mais recentemente, houve essa questão do racismo. Brasília decidiu que a obra dele é racista e resolveu expurgá-la das livrarias e das escolas. Ou então acrescentar notas de rodapé. Acho ambas as soluções desastrosas. Primeiro, porque calar o racismo não acaba com esse tipo de comportamento –pode até torná-lo mais sedutor, já que é proibido. E colocar explicações no rodapé é infeliz. Todos os grupos que reivindicam notas dessa natureza supõem que leitores e crianças são débeis mentais que vão sair imediatamente por aí fazendo aquilo que consta no livro.

O exemplo radical dessa desconfiança está na mudança da letra do “Atirei o Pau no Gato”. Hoje eles cantam para não atirar o pau no gato. Como se o menino fosse sair maltratando animais simplesmente por ouvir a música. Ou seja, nós caímos sempre na instância do autoritarismo –o que pode ou não pode ser lido, dito, feito.

O que ninguém percebe é que, no final de “Caçadas de Pedrinho”, por exemplo, a Tia Nastácia fala para a Dona Benta: “Negro também é gente, Sinhá”. Ela atesta a sua identidade, a sua igualdade. O próprio livro trabalha a questão. Com tudo isso, não quero dizer que Lobato não seja preconceituoso. Ele era um típico homem dos anos 1930 que vivia em São Paulo, com todo aquele imaginário que vinha da escravidão.

 

Sem notas de rodapé, como trabalhar essas questões com as crianças de hoje?

Com pais e professores. A gente vive um bom momento para discutir o patrulhamento da produção intelectual e cultural do país. Todos os último editais do MEC para compra de livros eram muito rígidos em relação ao que a literatura podia ou não podia falar. Como o governo vinha se estabelecendo como o grande comprador de obras infantojuvenis no Brasil, isso influenciou toda a produção para crianças e adolescentes nos últimos anos. Vamos ver como vai ser daqui para frente, com a diminuição das compras estatais.

 

Vivemos uma ditadura do politicamente correto nos livros para crianças?

Certamente. O termo é exatamente esse.

O que, de um ponto de vista histórico, não é uma novidade. No século 19, você tinha outras ditaduras nos livros: da igreja católica, do culto aos heróis pátrios, das boas maneiras à mesa. A literatura infantil está sempre à mercê de quem paga a conta. Existe um velho ditado que diz: “Quem paga a música escolhe a dança”.

 

O Prêmio Jabuti deste ano assistiu a uma queda no número geral de inscritos. Mas a categoria Infantil teve um pequeno aumento: de 205 para 213 concorrentes.

Esperávamos algo pior. Mas a categoria infantil sempre surpreende, tem muitos inscritos.

 

Há um exagero no número de livros publicados para crianças no Brasil?

Publica-se muito, muito. É gigantesco.

Eu me pergunto para onde vão todos esses livros. Porque, além da variedade de títulos, a tiragem é um pouco exagerada também.

 

E a categoria Infantil Digital? Ela teve menos inscritos neste ano, caiu de 40 para 16. A existência dela é um reflexo do mercado ou uma tentativa de incentivar editoras a produzirem mais livros digitais?

A Infantil Digital foi incluída no ano passado, quando teve um número razoável de inscrições. Neste ano, a gente entrou quase em pânico, porque realmente despencaram. Mesmo esses poucos inscritos vieram depois de um esforço monumental, com pessoas ligadas ao prêmio telefonando para que as editoras inscrevessem suas obras.

Aí eu descobri uma coisa: quem produz livro digital hoje no Brasil não é a grande editora, que tem uma relação com a CBL [Câmara Brasileira do Livro, que promove o prêmio]. São microempresas, é o cara que montou uma start-up no fundo do quintal da casa dele. Foi um erro de divulgação do Jabuti. Neste ano, queremos investir no diálogo com esses grupos. É importantíssimo que a gente valorize esse tipo de obra.

Porque ela traz ferramentas que o livro de papel não tem, como a interatividade, a possibilidade de o leitor fazer parte da história. Por isso que começamos premiando o infantil digital –ele é mais sofisticado que o adulto. No mundo todo é assim. Os últimos premiados em Bolonha são primorosos.

 

Mas muitos digitais lançados ainda são meros PDFs. Poderiam estar no papel.

Concordo. O Brasil está quatro séculos atrasado na cadeia do livro em relação à Europa. Gutenberg é do século 15. O Brasil só foi ter imprensa no século 19. Nós fazemos milagres.

 

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“Reinações de Narizinho” medium_1517

Autor Monteiro Lobato

Ilustrador Guazzelli

Editora Globinho

Preço R$ 64 (2016; 424 págs.)

Leitor avançado + leitura compartilhada

 

“Reinações de Narizinho”medium_875

Autor Monteiro Lobato

Ilustradores Jean Gabriel Villin e Jurandir Ubirajara Campos

Editora Biblioteca Azul

Preço R$ 49,90 (2014; 376 págs.)

Leitor avançado + leitura compartilhada

 


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Clássico do bom-mocismo, ‘Pollyanna’ ganha edição retrô no Brasil https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/12/06/classico-do-bom-mocismo-pollyanna-ganha-edicao-retro-no-brasil/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/12/06/classico-do-bom-mocismo-pollyanna-ganha-edicao-retro-no-brasil/#respond Tue, 06 Dec 2016 06:31:38 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/Pollyanna-ilustra-capa_pollyanna_va-180x101.png http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=850 Virou expressão popular: quem vê o lado bom de tudo, e muitas vezes é passado para trás por causa desse otimismo sem freios, logo é chamado de Pollyanna. Pois a moda nasceu por causa de um livro, que acaba de ganhar uma repaginada no Brasil.

Publicado no início do século 20 pela escritora Eleanor H. Porter, “Pollyanna” conta a história de uma garota simples que fica órfã e vai viver com sua tia rica. Para passar pelos problemas da vida, ela inventa o tal “jogo do contente”, que consiste em procurar um motivo para ficar feliz, mesmo nos momentos mais trágicos. E é daí que surge a fama de ver o lado bom de tudo.

“Pollyanna não é boba nem passada pra trás –e há situações nos livros que mostram isso. Ela também não foge das dificuldades e dos problemas fingindo que tudo é maravilhoso: ela escolhe enxergar o lado bom de tudo”, diz Sonia Junqueira, responsável pelos livros infantojuvenis da editora Autêntica, que lança no Brasil “Pollyanna” e “Pollyanna Moça”.

Os livros trazem o texto original das duas histórias da garota otimista –a segunda obra fala sobre a personagem já adolescente, às voltas com o primeiro amor. A diferença dos novos livros é a capa moderninha, estampando ilustrações atualizadas que dão um ar vintage ou retrô à obra. “Achamos que assim ficaria mais atraente pro leitor de hoje”, afirma Junqueira.

Afinal, o leitor de hoje é peça fundamental desse quebra-cabeça. A Autêntica publica literatura infantojuvenil desde 2008 e surfou na onda das compras governamentais, que sustentavam muitas editoras voltadas para esse público. Com o fim dos editais por causa da crise, a editora precisou calibrar a pontaria: em vez de mirar no Estado, passou a atirar no leitor e nas livrarias. Veio daí a ideia de lançar uma coleção de livros clássicos, entre eles “Pollyanna”, cujo texto está em domínio público e elimina um dos gargalos orçamentários das editoras –o pagamento dos direitos do autor.

Tanto que essa não é a única versão da história lançada neste ano no Brasil. Em março, a Coleção Folha Minha Biblioteca também levou a obra às bancas –mas em versão adaptada ao público infantil, recontada e ilustrada. Aliás, esse tem sido um destino comum para a história. “Pollyanna” é usada há décadas como maneira de mostrar para meninos e meninas que é preciso aprender a se adaptar aos maus momentos e nunca desanimar perante tristezas ou desafios.

Prova disso é que a primeira tradução no Brasil é de 1934 e foi feita por Monteiro Lobato, criador de histórias infantis como as do Sítio do Picapau Amarelo. Foi a partir dessa tradução para o português que Pollyanna e seu estilo de vida ficaram conhecidos no Brasil e permitiram que a menina se tornasse expressão popular.

Com uma personagem que não traz exatamente uma moral da história, mas é a mensagem em si, o livro conquistou também as mulheres e ganhou o apelido de “literatura de mulherzinha”. “Não há ação, aventura, violência ou suspense como nos livros atuais mais apreciados pelos meninos. Mas é lamentável que os garotos não se interessem pela história, pois as qualidades, a força, a determinação e a alegria de viver de Pollyanna independem do gênero –e eles poderiam aprender muito, muito mesmo, lendo esses livros”, diz Junqueira.

 

“Pollyanna” e “Pollyanna Moça”pollyannaVA

Autora Eleanor H. Porter

Trudutora Márcia Soares Guimarães

Editora Autêntica

Preço R$ 29,90 cada um

Leitor avançado

 

“Pollyanna”pollyanna-vol_5

Adaptação Dinah Sales de Oliveira

Ilustradora Rosana Urbes

Editora Folha de S.Paulo (Coleção Folha Minha Primeira Biblioteca)

Preço R$ 18,90

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 


 

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Dia do Saci: edição de luxo do clássico de Monteiro Lobato tem ilustrações originais https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/31/dia-do-saci-versao-de-luxo-do-classico-de-monteiro-lobato-tem-ilustracoes-originais/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/31/dia-do-saci-versao-de-luxo-do-classico-de-monteiro-lobato-tem-ilustracoes-originais/#respond Mon, 31 Oct 2016 06:30:11 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/saci_PAG64_Jean-Gabriel-Villin-e1477850989949-180x96.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=705 Se no mundo inteiro hoje é o Dia das Bruxas, de gostosuras e travessuras, o dia 31 de outubro no Brasil celebra um molecote sem perna, bem brasileiro e endiabrado: o Saci.

Gorro na cabeça, uma perna só e cachimbo na boca, o personagem do folclore ganhou um dia só pra ele há pouco tempo: menos de uma década, como uma tentativa de valorizar histórias e lendas brasileiras frente aos monstros e bruxas do Halloween norte-americano.

Só que o escritor Monteiro Lobato já fazia isso há quase cem anos. O pai da literatura infantojuvenil brasileira e da turma do Sítio do Picapau Amarelo publicou em 1921 “O Saci”, livro que de certa forma recuperou a figura desse moleque travesso de uma perna só, naquela época restrito à cultura popular e aos causos do interior e das zonas rurais do país, longe dos livros, das escolas e das cidades.

 

Se eram só os meninos que andavam de pés descalços na roça que conheciam o Saci naquela época, então ninguém melhor para resgatar esse folclore do que o Pedrinho. O garoto inventado por Lobato para as aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, que saía da cidade para passar temporadas na casa de Dona Benta, resolve em “O Saci” superar o medo do traiçoeiro diabinho e caça uma dessas criaturas, aprisionando-a em uma garrafa.

A editora Biblioteca Azul lançou neste ano uma versão de luxo da história, com capa dura e ilustrações originais das primeiras edições do livro. Fazem parte, por exemplo, os desenhos de Voltolino, que ilustrou o primeiro livro infantojuvenil de Monteiro Lobato, “A Menina do Nariz Arrebitado” (1920), e que é considerado um dos grandes intérpretes do universo criado pelo escritor. Compõem a obra também os traços de Jean Gabriel Villin (que abre este texto), J. U. Campos e André Le Blanc –a maior parte, desenhos mais clássicos, feitos em preto e branco e em ponta de caneta, o que ajuda a dar o ar especial da obra.

ESPECIALISTA EM SACIS

Lobato era um verdadeiro especialista em Sacis. Desde criança, quando ouvia as histórias do personagem na fazenda de seu pai, o moleque de uma perna só rondava sua cabeça. Tanto que, em 1916, ele já refletia sobre a ausência do folclore nacional no nosso dia a dia e escreveu na “Revista do Brasil”: “Pelos canteiros de grama inglesa há figurinhas de anões germânicos, gnomos do Reno, a sobraçarem garrafas de ‘beer’. Por que tais niebelungices, mudas à nossa alma, e não sacys-serêrês, caaporas, mães d’água, e mais duendes criados pela imaginação popular?”

No ano seguinte, ele lançou uma pesquisa no vespertino do jornal “O Estado de S. Paulo” sobre o Saci, que foi um estrondoso sucesso entre os leitores, muitos dos quais passaram a enviar causos para o jornal de encontros com o personagem ou lendas que ouviram na família. Em 1918, Lobato selecionou 74 desses depoimentos e os reuniu no livro “O Sacy-Perêrê: Resultado de um Inquérito”.

O rico material serviu de base para a primeira edição de “O Saci”, com a turma do Sítio do Picapau Amarelo, lançada em 1921. O sucesso do livro infantojuvenil foi tanto que, até 1944, a história tinha vendido 60 mil exemplares, que ajudaram a espalhar o personagem do folclore ainda mais pelo Brasil

Quer dizer, personagem do folclore é o que dizem alguns. Porque existe gente que jura de pé junto que já viu Saci dando seus pulos e rodopiando em redemoinhos por aí. Existe até uma Sociedade dos Observadores de Sacis no país.

E a coisa ficou tão séria que 31 de outubro virou o Dia do Saci. A comemoração não é oficial no país inteiro. Os projetos de lei que instituiriam a data nunca avançaram no Congresso Nacional. O que não impediu, porém, que algumas cidades criassem a comemoração. Em 2004, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) promulgou a lei que institui a data em todo o Estado de São Paulo, muito por causa da cidade de São Luiz do Paraitinga (a 171 km da capital), considerada a “capital do Saci” e que promove um festival sobre o personagem em outubro.

saci_monteiro

 

“O Saci”

Autor Monteiro Lobato

Editora Biblioteca Azul

Preço R$ 39,90 (2016; 208 págs.)

Leitor avançado

 


 

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