Era Outra Vez https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br Literatura infantojuvenil e outras histórias Wed, 28 Aug 2019 18:58:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os 10 livros infantojuvenis de 2018 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/28/os-10-livros-infantojuvenis-de-2018/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/12/28/os-10-livros-infantojuvenis-de-2018/#respond Fri, 28 Dec 2018 13:13:30 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/melhores_2018-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2725 O ano está chegando ao fim, as uvas passas do Natal já descansam deprimidas nas geladeiras, o espumante do Ano-Novo aguarda a hora da virada –e lá vem a lista de livros infantojuvenis deste longo ano de 2018.

Qualquer seleção de livros diz mais sobre as preferências e leituras de quem fez a escolha. Por isso, abaixo está uma lista com clima de retrospectiva, com os dez títulos mais interessante que passaram pelo blog nos últimos 12 meses.

Em tempo: o Era Outra Vez andou meio ausente no último mês, mas voltaremos com tudo em 2019.

Até lá!

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ARTE EXPLOSIVA

Obras de Basquiat utilizadas no livro “A Vida Não Me Assusta”

O título propõe o casamento entre a poesia da ativista Maya Angelou e a pintura de Jean-Michel Basquiat. E o efeito é explosivo. “A Vida Não Me Assusta” tem versos incisivos sobre o que pode nos amedrontar, ilustrados com as pinceladas de Basquiat. O artista traz à tona uma Nova York repleta de gangues, as paredes dos prédios de Manhattan e a brutalidade dos grafites. E, assim, abre as portas da arte contemporânea para as crianças, mostrando que a dureza pode ser, sim, ingrediente de uma obra infantil. Saiba mais aqui.

 

“A Vida Não Me Assusta”

Autores Maya Angelou e Jean-Michel Basquiat

Organização Sara Jane Boyers

Tradução Anabela Paiva

Editora Caveirinha

Preço R$ 49,90 (2018, 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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SEM REDENÇÃO

Crus, ásperos e sem uma redenção no fim. Assim são grande parte dos livros do mineiro Wander Piroli (1931-2006), ainda pouco conhecidos, discutidos e disponíveis nas livrarias. Três deles foram lançados para o público infantil pela editora Sesi-SP, com ilustrações de Odilon Moraes. Destaque para “O Matador”, que já teve uma edição anterior da Cosac Naify, e apresenta um menino que sonha em assassinar um passarinho. A busca pela morte do bicho ocorre em uma sequência visual verde que vai desembocando em vermelho sangue. Conheça outros livros de Odilon Moraes.

 

“O Matador”

Autor Wander Piroli

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Sesi-SP

Preços R$ 36 ( 2018, 32 págs)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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UM PUXA O OUTRO

Os portugueses Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho são dessas duplas que quase sempre produzem coisa boa. Ambos transformam simplicidade em livros que divertem e fazem pensar. E não é diferente em “É Mesmo Você?”. Nele, um papo muito doido carrega o leitor pela mão até a surpresa final. Tudo começa quando uma menina pergunta pela Inês. A partir daí, a narrativa entra em uma espiral que apresenta diferentes personagens em um casamento perfeito entre texto e imagem.

 

“É Mesmo Você?”

Autores Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho

Editora 34

Preço R$ 37 (2017, 32 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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MAIS QUE UM PASSEIO

Pablo Lugones e Alexandre Rampazo partem de um passeio de bicicleta para criar uma narrativa tocante. O trajeto sobre duas rodas é, ao mesmo tempo, uma jornada de descobrimento e uma metáfora sobre a passagem do tempo e sobre como a vida e as pessoas pedalam por nossa história. Afinal, tanto na vida quanto na bicicleta, é sempre bom ter companhia, ir adiante e nunca perder o equilíbrio.

 

“O Passeio”

Autor Pablo Lugones

Ilustrador Alexandre Rampazo

Editora Gato Leitor

Preço R$ 41,30 (2017; 52 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 

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MATRIOSKA

Ilustração de “Uma História Pelo Meio” (ed. Positivo)

Mais lembrada por seus romances para adultos, Elvira Vigna tem uma importante obra infantojuvenil. Em “Uma História Pelo Meio”, ela narra o encontro de uma menina e um vendedor de pássaros. Mas, em vez de ser linear, o enredo é composto de uma história dentro da outra, como se fosse uma matrioska. Sem que o início do livro seja de fato o início da história, muda-se de ponto de vista como um pássaro troca de poleiro. Da menina ao irmão, da ave ao vendedor. Desdobramentos que instigam quem lê a criar as próprias aventuras. Saiba mais sobre a obra de Elvira Vigna.

 

“Uma História Pelo Meio”

Autora Elvira Vigna

Ilustradora Raquel Matsushita

Editora Positivo

Preço R$ 43,90 (2018, 56 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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POLÊMICA DO PRESIDENTE ELEITO

Quando era candidato à Presidência e foi entrevistado pelo Jornal Nacional, Jair Bolsonaro levou ao programa um livro infantil –e colocou o título no centro de um debate nacional. A obra era “Aparelho Sexual e Cia.”, que fala sobre educação sexual e estava esgotada no catálogo da Companhia das Letras (após isso foi reeditada). O presidente eleito informava incorretamente que o livro fazia parte do kit gay e que havia sido distribuído em escolas públicas –na verdade, exemplares haviam sido comprados pelo MinC. Saiba mais sobre o livro aqui. Conheça o conteúdo da obra aqui. 

 

“Aparelho Sexual e Cia.”

Autora Hélène Bruller

Ilustrador Zep

Tradutor Eduardo Brandão

Editora Seguinte

Preço R$ 39,90 (2007, 96 págs.)

Leitor avançado

 

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PARA TODAS AS IDADES

“De Novo” não foi pensado especificamente para o público infantil. Mas pode ser uma boa pedida para crianças. Uma breve explicação técnica diria que o título é composto por seis livretos e que cada um é formado por quatro folhas dobradas em locais diferentes e costuradas entre si. Destaque para os folhetos mais visuais –sobretudo o que traz duas pessoas que ficam frente a frente e interagem, ou o que tem fotografias antigas, com pinta de serem do início do século 20, invadidas por intrusos à medida que avançam. Conheça a obra de Gustavo Piqueira. 

 

“De Novo”

Autor Gustavo Piqueira

Editora Lote 42

Preço R$ 70 (2018, 96 págs.)

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POESIA NO REFÚGIO

Fotoilustração de ‘Dois Meninos de Kakuma’

No livro, a pesquisadora Marie Ange Bordas utiliza fotoilustrações para narrar a vida de dois garotos refugiados, Geedi e Deng, inventados a partir de histórias reais. Para isso, ela passou o verão entre 2003 e 2004 no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Embora as imagens retratem uma realidade áspera, elas transbordam poesia. A partir das fotos captadas, Marie Ange cria montagens, produz colagens e sobrepõe ilustrações. Alguns dos desenhos e das esculturas inseridas nas cenas foram feitos por crianças e adolescentes de Kakuma. Clique aqui e saiba mais sobre o livro. 

 

“Dois Meninos de Kakuma”

Autora Marie Ange Bordas

Editora Pulo do Gato

Preço R$ 54,60 (2018, 72 págs.)

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MEDO DO NOVO

É do medo do desconhecido, próprio da infância e tão presente na vida adulta, que o autor e ilustrador Alexandre Rampazo faz brotar o livro, “Se Eu Abrir Esta Porta Agora…”, lançado pela editora Sesi-SP. Feito em formato sanfonado, a estrutura é como um esconde-esconde. De um lado, o menino tem a expectativa de abrir a porta e encontrar um monstro. Do outro, são as próprias criaturas que vivem a ansiedade de topar com um garoto do outro lado. Conheça o livro aqui.

 

“Se Eu Abrir Esta Porta Agora…”

Autor e ilustrador Alexandre Rampazo

Editora Sesi-SP

Preço R$ 44 (2018, 56 págs.)

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SUCESSO DO ANO

No universo de livros para crianças, um dos maiores sucessos de vendas no Brasil em 2018 tem nome e sobrenome: “A Parte que Falta”. No início do ano, a youtuber Jout Jout fez um vídeo sobre obra, publicada pela Companhia das Letrinhas, o que logo transformou a história do americano Shel Silverstein em best-seller no país –tanto que outros de seus livros passaram a ser lançados em seguida.

“A Parte que Falta”

Autor e ilustrador Shel Silverstein

Tradutor Alípio Correa de Franca Neto

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 44,90 (2018, 112 págs.)

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Lançamentos de Odilon Moraes são para crianças, adultos e vice-versa https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/17/lancamentos-de-odilon-moraes-sao-para-criancas-adultos-e-vice-versa/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2018/10/17/lancamentos-de-odilon-moraes-sao-para-criancas-adultos-e-vice-versa/#respond Wed, 17 Oct 2018 18:03:08 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/abre-2-320x213.jpg https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2648 Livro ilustrado é coisa de criança?

Não necessariamente, diz o autor e ilustrador Odilon Moraes. “O livro ilustrado propõe outro modo de ler, não necessariamente vinculado ao universo infantil. É uma escrita híbrida, muito ligada à poesia. Acho que são narrativas para crianças, sim, mas acho também que os bons livros ilustrados têm uma alta complexidade que pode tocar adultos sensíveis.”

Autor de obras que já se tornaram clássicas, como “Pedro e Lua” e “A Princesinha Medrosa”, Odilon é hoje um dos principais nomes do assunto. E lançou neste ano uma série de livros que apresentam e aprofundam essa sua maneira de criar narrativas (no ano passado, escrevi sobre o seu livro “Rosa”, leia aqui).

Para ele, o texto e a imagem nunca existem sozinhos. Estão constantemente interligados, como se conversassem e forçassem o leitor a observar essa interação para absorver a história –tornando impossível entendê-la completamente apenas com as as letras ou exclusivamente com os desenhos.

Abaixo, estão sete exemplos. Todos lançados para o público infantojuvenil. Ou não.

“O livro ilustrado pode ter uma profundidade temática e, ao mesmo tempo, ter um texto simples que pode pegar qualquer público. É como os quadrinhos. Hoje ninguém mais fala que HQ é coisa de criança ou adolescente”, diz.

Retrato de Odilon Moraes (Divulgação)

 

TRILOGIA CRUA

Crus, ásperos e sem uma redenção no fim. Assim são grande parte dos livros do mineiro Wander Piroli (1931-2006), ainda pouco conhecidos, discutidos e disponíveis nas livrarias. Mas três deles agora podem ser debatidos entre crianças –e adultos. Uma trilogia de contos, todos costurados pelos fios da morte, foram ilustrados por Odilon Moraes e lançados recentemente pela editora Sesi-SP.

“O Matador”, que já teve uma edição anterior da Cosac Naify, apresenta um menino que sonha em assassinar um passarinho. A busca pela morte do bicho ocorre em uma sequência visual verde que vai desembocando em vermelho sangue. Já “Os Dois Irmãos” traz ilustrações espelhadas, como se fossem os pontos de vista de cada um dos personagens, deixando a dúvida: são crianças ou duas aves? Por fim, “Nem Filho Educa Pai” condensa o conflito entre um garoto e a família que deseja matar um cabrito no Natal.

As três narrativas são áridas, distantes da ideia de que livro infantil deve ser confortável ou ter final feliz. Mas é justamente daí que nasce a poesia –tanto a dos textos quanto a das ilustrações.

 

“O Matador”, “Os Dois Irmãos” e “Nem Filho Educa Pai”

Autor Wander Piroli

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Sesi-SP

Preços R$ 36 (“O Matador” e “Os Dois Irmãos”; 2018, 32 págs. cada um); R$ 44 (“Nem Filho Educa Pai”; 2018, 64 págs.)

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TRISTEZA NÃO TEM FIM?

Mais ou menos como diz a música de Caetano Veloso, Olavo está triste tão triste, está muito triste. Na verdade, não está –o garoto é triste. Mas isso parece mudar quando surge um embrulho misterioso e inesperado à sua porta.

“Olavo”, livro autoral de Odilon Moraes lançado pela Jujuba (editora que relançou no ano passado “Pedro e Lua” e “A Princesinha Medrosa”), faz a lição de casa da literatura ao escancarar o que há de mais humano: tristeza, alegria, medo, generosidade, surpresa, esperança. Tudo com uma narrativa que une com perfeição o texto e a parte visual.

Tanto que a alegria de Olavo não está representada apenas pelo fato de ele ser presenteado por um desconhecido –felicidade que logo se transforma em agonia e dúvida: será que a caixa misteriosa é mesmo para ele? O sentimento de excitação tem também o seu lado visual, sobretudo em uma cor. Fugindo do tom sépia que inunda as páginas, o tom está a todo instante à espreita do personagem pelas cenas. Como se perguntasse: será que os bons sentimentos também estão nos vigiando constantemente?

 

“Olavo”

Autor Odilon Moraes

Editora Jujuba

Preço R$ 42 (2018, 48 págs.)

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VAMOS BRINCAR

É comum diversos textos e músicas para crianças nascerem de repetições e acúmulos. É o caso de “o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar”, por exemplo. Mas também de tantos outros. Odilon Moraes e Carolina Moreyra fazem mais ou menos isso em “Lulu e o Urso”, da Pequena Zahar. A diferença é os autores, nesse caso, introduzem a imagem na brincadeira.

Na narrativa, a personagem enche a mãe de perguntas enquanto ela trabalha. Cavucando uma caixa repleta de coisas, a garotinha questiona como uma metralhadora: o que é isso? Um casaco? Um ursinho? Um botão? Enquanto os olhos ocupados da mãe mal saem da tela do computador.

Mas pouco importa. Ao virar a página, os objetos ganham vida e vão se acumulando. Primeiro, aparece um urso. Depois, ele veste um casaco. Até que, de repente, o bicho está de óculos, com uma flor no cabelo, sentado em uma gangorra. E a menina? Bom, ela sempre tem a imaginação ao seu lado.

 

“Lulu e o Urso”

Autores Carolina Moreyra e Odilon Moraes

Editora Pequena Zahar

Preço R$ 49,90 (2018, 48 págs.)

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CASAMENTO FEITO

“Será que vai ter casamento?”, pergunta um dos personagens do livro “Casa de Passarinho”, parceria de Ana Rosa Costa e Odilon Moraes publicada pela editora Positivo. No caso da história, só lendo para descobrir. Mas, quando se trata da obra como um todo, ela nasce de um verdadeiro matrimônio entre texto e imagem.

A narrativa só fica completa quando palavras e ilustrações caminham lado a lado, ao mostrar dois garotos que observam passarinhos produzindo um ninho em uma árvore. Enquanto eles fazem perguntas e imaginam possibilidades, Odilon criaas cenas em dois tempos. Em uma, a visão é documental, com duas aves batendo asas em cima do galho. Em outra, porém, os animais ganham corpos humanos com cabeça e bico de bicho. E aproveitam a condição de pessoa para ver televisão, escovar os dentes, comer à mesa…

O mesmo casamento surge em “Bichos da Noite”. Dessa vez, o ilustrador dá formas a um poema de Mariana Ianelli e cria uma narrativa visual própria.

Enquanto os versos falam de cobras que desenrolam feito cordas ou de aranhas em trajes de festa, os desenhos fazem o leitor entrar vagarosamente em uma casa, topar com bichos gigantes que tomam os cômodos, subir por uma escada recheada de patas de polvo e, finalmente, chegar à porta do quarto de uma criança. Quem será que vai abri-la?

 

“Casa de Passarinho” e “Bichos da Noite”

Autoras Ana Rosa Costa (“Casa de Passarinho”) e Mariana Ianelli (“Bichos da Noite”)

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Positivo

Preço R$ 43,90 cada um (2018, 40 págs.)

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Os 10 livros infantojuvenis de 2017 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/12/27/os-10-livros-infantojuvenis-de-2017/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/12/27/os-10-livros-infantojuvenis-de-2017/#respond Wed, 27 Dec 2017 10:15:58 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/10livrosde2017-180x90.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=2082 Listas de melhores livros do ano costumam servir mais para conhecer os gostos dos críticos do que para fazer uma seleção verdadeira do que foi publicado pelo mercado editorial.

Mesmo assim, entro no jogo e organizo um desses rankings desde o ano passado.

Mas com uma diferença: aqui não está necessariamente o que de melhor foi publicado no Brasil para crianças e adolescentes, mas o que de mais interessante passou em 2017 pelo Era Outra Vez. É como uma retrospectiva –tanto que alguns dos títulos foram lançados em 2016, mas comentados por aqui apenas neste ano.

É também um agradecimento a quem acompanha a página há um ano e meio. O blog volta às atividades em janeiro. Que 2018 seja ótimo e cheio de novas histórias.

Até lá!

 

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DE PAI PARA FILHO

Cheio de camadas, “Rosa” é um livro para ser lido duas (ou mais) vezes. A obra trata do relacionamento entre pai e filho, mas é mais do que uma autobiografia do autor, Odilon Moraes. “São três fases: a primeira é a relação com meu pai e com meu filho; a segunda é a obra do Guimarães Rosa; a última é uma referência à própria escrita do livro ilustrado.” Desse diálogo, surge uma história poética em que texto e ilustrações correspondem a tempos diferentes –um no passado, outro no futuro. Saiba mais sobre o livro e leia conversa com o autor.

 

“Rosa”

Autor e ilustrador Odilon Moraes

Editora Olho de Vidro

Preço R$ 49,90 (2017; 48 págs.)

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POESIA VISUAL

Coletânea de poemas sobre animais, “A Galinha e Outros Bichos Inteligentes” prende a atenção pela parte visual –cada uma das ilustrações é feita por Guto Lacaz e utiliza apenas letras do alfabeto. Misturando técnicas, tamanhos e distribuições no espaço, Lacaz cria desenhos com diferentes fontes, de forma que os caracteres criem contornos visuais. Assim, o B da borboleta se transforma em asas. Uma sequência de letras F lembra um exército de formigas. A brincadeira ultrapassa o visual e joga também com os sons –caso da galinha do título, que é representada pela letra “H” e por uma linha (“agá-linha”). Conheça o livro.

 

“A Galinha e Outros Bichos Inteligentes”

Autor Ronald Polito

Projeto Gráfico Guto Lacaz

Editora Ôzé

Preço R$ 56 (2017; 56 págs.)

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RUBIÃO PARA CRIANÇAS

Murilo Rubião (1916-1991) tem uma das obras mais originais da literatura brasileira –mesmo curta, com apenas 33 contos, ela se aproxima da linguagem e das alegorias do movimento conhecido mundialmente como realismo fantástico. Alguns de seus textos foram ilustrados e lançados para o público infantojuvenil pela editora Positivo. Destaque para “Teleco, o Coelhinho”, sobre um coelho que tem o poder de se transformar no bicho que bem entender: leão, porco-do-mato, girafa, pulga… Saiba mais sobre o livro.

 

“Teleco, o Coelhinho”

Autor Murilo Rubião

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

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TODAS AS POSSIBILIDADES

As páginas já vêm com dobras predeterminadas. Mas, a partir daí, o que vale é a imaginação do leitor. “Dobras”, do ilustrador Andrés Sandoval, não tem uma história propriamente dita. O livro é formado por páginas multicoloridas que devem ser viradas em todas as direções –a cada nova dobra, aparecem possibilidades inéditas de combinações, desenhos inusitados e jogos de cores inesperados (veja no vídeo abaixo). “Tem uma coisa quase hipnótica. Você vira para lá, para cá, e vai formando uma boca, um rosto. Encontra transparências. É um livro tão aberto que parece meio banal no começo”, diz Sandoval. Saiba mais sobre o livro e leia conversa com o autor.

 

“Dobras”

Autor e ilustrador Andrés Sandoval

Editora Companhias das Letrinhas

Preço R$ 54,90 (2017; 64 págs.)

Leitor iniciante

 

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HISTÓRIA DA ARTE

Quantos artistas brasileiros você conhece? Pois só no livro “Arte Brasileira para Crianças” há cem deles. De Tarsila do Amaral ao precursor do grafite no país, Alex Vallauri. De Candido Portinari às tranças de Tunga e os retratos malucos de Vik Muniz. Cada nome vem acompanhado de uma breve explicação e também de uma proposta de atividade para colocar em prática as ideias dos artistas. Em algumas, basta separar o material necessário. Já em outras, é preciso a autorização de um adulto –afinal, desenhar na parede da sala ou espalhar ovos de verdade pelo chão do quarto podem gerar grandes artes, mas também grandes castigos. Conheça o livro e as atividades.

 

“Arte Brasileira para Crianças”

Autores Isabel Diegues, Márcia Fortes, Mini Kerti e Priscila Lopes

Ilustradora Juliana Montenegro

Editora Cobogó

Preço R$ 85 (2016; 224 págs.)

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POESIA DOS OBJETOS

Quanta poesia cabe num martelo? E num cotonete, num ovo, num grampo de cabelo? Muita, se depender do escritor Eucanaã Ferraz, que lançou no fim de 2016 “Cada Coisa”, pela Companhia das Letrinhas. A obra é um almanaque com versos sobre objetos do dia a dia. “É um pequeno museu para as crianças entrarem em contato com um mundo passado”, diz. De fato, computadores, celulares e videogames não aparecem nos poemas. O ar retrô é ressaltado ainda pelas ilustrações, que fazem renascer o século 20, como se estivéssemos em uma cartilha dos anos 1940 ou em um cartaz de vendinha perdida no tempo. Leia entrevista com o autor.

 

“Cada Coisa”

Autor Eucanaã Ferraz

Ilustradores Raul Loureiro e Eucanaã Ferraz

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 49,90 (2016, 128 págs.)

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LONGA JORNADA

A menina viaja acompanhada do pai e vai enumerando tudo o que vê pelo caminho: as vacas, os pássaros, as nuvens –e, é claro, também o coiote, como o pai chama um cachorro mal-encarado que acompanha o trajeto, sempre com policiais à espreita. O livro, do colombiano Jairo Buitrago, traz de maneira delicada, mas contundente, o tema dos imigrantes ilegais. Na história, descobrimos que pai e filha deixaram para trás a sua casa para tentar a vida em outro país. Será a guerra? A falta de trabalho? Alguma perseguição? Sabemos apenas que eles são só mais duas pessoas entre milhões de imigrantes que fogem em busca de esperança. Conheça mais o livro e veja outras obras infantis que falam de refugiados e imigrantes.

 

“Para Onde Vamos”

Autor Jairo Buitrago

Ilustrador Rafael Yockteng

Tradutora Márcia Leite

Editora Pulo do Gato

Preço R$ 42,50 (2016, 56 págs.)

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SARAMAGO NORDESTINO

O enredo é simples, mas inventivo. Em “O Lagarto”, um réptil gigante aparece na cidade. O susto é geral, o trânsito para, uma velha vai aos gritos, uma moradora derruba as flores que carrega. Como lidar com um monstro atrapalhando a metrópole? As metáforas de Saramago, que por um instante lembram a flor que brota do asfalto do poema de Carlos Drummond de Andrade, ganham potência nas xilogravuras coloridas feitas por J. Borges, um dos maiores nomes da cultura popular nordestina e da literatura de cordel. Saiba mais sobre a obra.

 

“O Lagarto”

Autor José Saramago

Ilustrações J. Borges

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 39,90 (2016; 32 págs.)

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BICO A BICO

Sabe aquela história de quem conta um conto aumenta um ponto? Pois um flamingo estava dormindo no seu canto. Mas diversos companheiros teimavam em incomodá-lo, sem resposta da ave dorminhoca. A cada pássaro que tentava falar com ele, algo diferente era dito pelo grupo ao próximo penoso que aparecesse: o flamingo se acha superior, seus dentes são de pérola, quer um casaco de penas de ganso, vai matar a todos! Será mesmo verdade ou é tudo invenção? Se eu fosse você, não seria a última cegonha a descobrir. Conheça a história.

 

“Você Não Sabia?”

Autores Martin Baltscheit e Christine Schwarz

Tradutora Hedi Gnädinger

Editora Iluminuras

Preço R$ 41 (2017; 32 págs.)

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CAÇA À IMAGINAÇÃO

Você já viu um snark? No livro de Lewis Carroll, autor de “Alice no País das Maravilhas”, os tripulantes de um navio também não sabem muito bem como é esse bicho –com exceção de um ou outro que diz já tê-lo visto por aí. Mesmo assim, estão em uma missão para caçá-lo. “É uma história que começa num lugar, vai para outro completamente diferente, nada tem muita explicação”, diz Bruna Beber, que traduziu os versos do livro, cheio de brincadeiras de Carroll com o nonsense. Leia entrevista com a tradutora.

 

“A Caça ao Snark”

Autor Lewis Carroll

Ilustrador Chris Riddell

Editora Galera Junior

Preço R$ 44,90 (2017; 96 págs.)

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As três margens de um novo livro: Odilon Moraes, Guimarães Rosa e o silêncio https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/08/25/as-tres-margens-de-um-novo-livro-odilon-moraes-guimaraes-rosa-e-o-silencio/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/08/25/as-tres-margens-de-um-novo-livro-odilon-moraes-guimaraes-rosa-e-o-silencio/#respond Fri, 25 Aug 2017 10:12:53 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/08/rosa-044__1503625671_200.221.145.28-180x84.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1700 Há histórias que são feitas de palavras. Outras são escritas com silêncio.

“Eu conversava muito pouco com meu pai. Mas a gente sempre pintava juntos. Foi ele quem me ensinou”, conta Odilon Moraes. Os hiatos e os não ditos que começaram na infância do ilustrador invadiram a vida adulta e saltam agora nas páginas de seu novo livro: “Rosa”, que sai pela jovem editora Olho de Vidro no início de setembro e tem texto e ilustrações feitos por Moraes.

A obra trata do relacionamento entre pai e filho, mas é mais do que autobiográfica. É cheia de camadas –assim como todo silêncio não é apenas um vazio. “São três fases: a primeira é a relação com meu pai e com meu filho; a segunda é a obra do Guimarães Rosa; a última é uma referência à própria escrita do livro ilustrado.”

O resultado é uma história poética que funciona com crianças e adultos, feita para ser lida várias vezes. Ou melhor, para ser contemplada: como um rio que tem três margens.

 

Primeira margem: paternidade

O título começou a ser gerado há uma década, semanas antes de o filho de Odilon Moraes nascer. “A ‘gravidez’ masculina é feita de silêncio. A mulher tem corpo, matéria, ganha um volume na barriga. O homem não. A gravidez fica na cabeça, a espera pelo filho é cheia de silêncios. É no quase tornar-se pai que você dialoga com o seu próprio pai –e entende muitas das coisas paternas”, diz o ilustrador. “Foi esperando o João, meu filho, com tudo isso na cabeça, que comecei a esboçar as primeiras páginas.”

No livro, em um “endoidamento”, o pai decide chamar o filho de Rosa. Depois, numa madrugada, entra em uma canoa e passa a morar no meio de um rio, abandonando a família. Completamente isolado. É nessa hora que a narrativa mistura as vidas de Odilon e de João com a história de um outro João.

Segunda margem: Guimarães Rosa

As coincidências com João Guimarães Rosa (1908-1967) vão além do título. “Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: –‘Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim…’”, diz o personagem do conto “A Terceira Margem do Rio”, publicado por Rosa em “Primeiras Estórias” –mas bem que poderia ser Odilon Moraes falando das pinturas com o seu pai; ou o personagem do novo livro do ilustrador lembrando a infância.

O conto, um dos principais de Guimarães Rosa e da própria literatura brasileira, narra também o afastamento da figura paterna. Assim como em “Rosa”, o patriarca se isola no meio de um rio e decide passar a vida em uma canoa sobre as águas, sem jamais voltar à margem e à família. “Queria fazer algo que funcionasse como uma continuação do conto. O frio na barriga de mexer com uma história tão conhecida nunca desaparece. Você se pergunta o tempo inteiro se tem direito de interferir naquilo”, diz Moraes.

A diferença é que, na narrativa de Guimarães, o filho não tem coragem de entrar no rio e ir em direção ao pai. Já em “Rosa”, ele topa a empreitada.

Terceira margem: o livro

A última margem da história é o silêncio e as possibilidades do próprio livro ilustrado. “Maurice Sendak falava que uma história ilustrada tem o tempo e o ritmo da poesia, como se fosse um poema gráfico”, fala Moraes, referindo-se ao autor de “Onde Vivem os Monstros”. “As possibilidades são muitas, como narrar em dois tempos distintos.”

“Rosa” não é só para ser lido duas vezes –ele precisa passar por essas duas leituras. Só assim percebe-se que texto e imagem não coincidem nem falam sobre a mesma coisa: um está no passado, o outro mostra o presente (e não vou dizer qual é qual para não estragar a surpresa).

Essa liberdade, presente também em outras obras do autor, acabou fazendo com que os livros autorais de Moraes fossem publicados por editoras menores. “Rosa” sai pela Olho de Vidro, que abriu as portas em 2017; seus outros títulos estavam com a extinta Cosac Naify e serão agora publicados pela Jujuba –o premiado “Pedro e Lua” deve chegar às livrarias em janeiro. “Gosto de ter contato próximo com o editor, tomar um café para decidir os passos do processo de publicação, visitar a gráfica. Em uma editora grande isso é difícil.”

O que não quer dizer que ele fuja do “mainstream”. Neste ano, por exemplo, o ilustrador fez a arte do primeiro infantil do colunista da Folha Drauzio Varella para a Companhia das Letrinhas. Outras gigantes do mercado editoral também têm o traço de Moraes em seus catálogos.

Mas para suas próprias palavras ele prefere os pequenos e o silêncio –de onde acaba de brotar uma “Rosa”.

 

“Rosa”

Autor e ilustrador Odilon Moraes

Editora Olho de Vidro

Preço R$ 49,90 (2017; 48 págs.)

Leitor iniciante + leitura compartilhada

 


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Drauzio Varella conta lendas da Amazônia em novo livro para crianças https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/04/29/drauzio-varella-conta-lendas-da-amazonia-em-novo-livro-para-criancas/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/04/29/drauzio-varella-conta-lendas-da-amazonia-em-novo-livro-para-criancas/#respond Sat, 29 Apr 2017 13:50:24 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/rio-negro-02s-180x86.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1447 “É só realismo. A realidade é que é mágica. Não invento nada. Não há uma linha nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação”, costumava dizer Gabriel García Márquez (1927 – 2014) quando ouvia que “Cem Anos de Solidão” ou algum outro de seus livros eram classificados como realismo fantástico. Jornalista, ele gostava de mostrar que toda a imaginação de suas histórias tinham como pano de fundo os rumos políticos, sociais ou culturais da América Latina.

Corta para o Brasil.

“Já fui mais de cem vezes para a Amazônia, principalmente para o rio Negro. Nessas viagens, sempre sento para conversar com os ribeirinhos e escutar suas histórias, nas quais realidade e fantasia caminham juntas. Escrever sobre elas é parecer um realismo fantástico amazônico, mas aquilo é o próprio dia a dia da região”, fala Drauzio Varella.

Na mata, curupiras se misturam a madeireiros. Botos dançam nas festas das cidades. Onças e mulas-sem-cabeça assustam seringueiros. Como um rio que deságua em outro, lendas da Amazônia se diluem em notícias de jornal, formando um curso d’água em que todos estão inseridos. Como em uma Macondo real –a famosa cidade de “Cem Anos de Solidão”.

Um pouco dessa mistura está reunida em “Nas Águas do Rio Negro”, terceira obra infantojuvenil publicada por Varella, que será lançada neste sábado (29). Embora o médico e colunista da Folha seja mais conhecido pelo sistema prisional retratado em “Estação Carandiru” (1999) e “Carcereiros” (2012), suas publicações para crianças e adolescentes mostram um lado mais livre e imaginativo do autor.

Movimento que começou de forma ainda tímida com “Nas Ruas do Brás” (2000), em que relembra a infância no bairro paulistano –o livro faz parte da coleção “Memórias e Histórias”, da Companhia das Letrinhas, que convida sempre alguém para relembrar seus tempos de criança, como Bernardo Kucinski, Arthur Nestrovski eTatiana Belinky. Depois, foi a vez de “De Braços para o Alto” (2002), em que o narrador relembra férias de menino.

Já em “Nas Águas do Rio Negro”, acompanhamos o médico perdido na floresta por culpa do Curupira. Surgem passeios com uma mula-sem-cabeça, festa com botos no fundo do rio, uma cobra gigante e macacos que roubam seu boné. Tudo ilustrado por Odilon Moraes, que ajuda a contar a história sem usar nenhum tom de verde. E, mesmo assim, transporta o leitor para dentro da floresta e das lendas.

Ilustração de Odilon Moraes para o livro, com a mula-sem-cabeça

“A diferença entre escrever um livro para crianças e um para adultos é a liberdade. É entrar na água com um boto sem sentir falta de ar, por exemplo”, diz Varella, referindo-se a uma passagem do novo livro em que mergulha no rio Negro e conhece o reino desses animais. Cena que lembra a visita de Narizinho ao Reino das Águas Claras, em “Reinações de Narizinho”. “Verdade? Ainda não li esse livro do Lobato”, afirma.

Outra diferença é o tempo para finalizar a obra. Enquanto livros para adultos podem levar anos para serem escritos, Varella diz que terminou o infantil em uma semana. “Contava tanto as histórias para meus netos que elas estavam todas na cabeça. Continuo atendendo, visitando presídios, fazendo quadros na televisão, escrevendo a coluna da Folha. Então costumo escrever muito durante viagens. No aeroporto ou no avião.”

Foi assim também que finalizou “Prisioneiras”, livro que será lançado em maio e completa uma trilogia sobre o sistema prisional do Brasil ao lado de “Estação Carandiru” e “Carcereiros”. Desde 2006, o médico visita semanalmente uma penitenciária feminina em São Paulo, onde atende de 30 a 40 presas doentes. Da convivência, nasceu o novo título –escrito em uma viagem a Lisboa e entregue para a Companhia das Letras no final de fevereiro.

“Ele fecha a trilogia, é o último. Não tenho vontade de voltar ao tema das prisões. Talvez agora eu use o tempo livre nos aviões para ler. Principalmente os clássicos que ainda faltam.” Se sobrar tempo, uma das dicas é o próprio “Reinações de Narizinho”. Quem sabe daí não surjam mais ideias para novas histórias infantis?

 

“Nas Águas do Rio Negro”

Autor Drauzio Varella

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 44,90 (2017; 56 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

Lançamento sábado (29), às 16h, na Saraiva do shopping Higienópolis (av. Higienópolis, 618); serão distribuídas 250 senhas a partir das 15h

 


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Livros fazem casamento entre Murilo Rubião e literatura para crianças https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/03/30/livros-fazem-casamento-entre-murilo-rubiao-e-literatura-para-criancas/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2017/03/30/livros-fazem-casamento-entre-murilo-rubiao-e-literatura-para-criancas/#respond Thu, 30 Mar 2017 18:58:33 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/Ilustração-de-Odilon-Moraes-para-Teleco-o-Coelhinho-180x95.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=1303 Um coelhinho mágico capaz de se transformar em qualquer tipo de animal. Um prédio de andares infinitos, cuja construção jamais terá fim. Uma mulher que tem fome de coisas e que fica gorda até não poder mais. Todos eles fazem parte de um capítulo muito particular, e por vezes pouco lembrado, da literatura brasileira: os contos fantásticos de Murilo Rubião. Agora, três textos do autor ganharam edições para crianças, de encher os olhos e a cabeça.

Murilo Rubião (1916-1991) foi um escritor e jornalista mineiro que deixou uma obra curta, mas poderosa: 33 contos, muito próximos da linguagem e das alegorias do movimento conhecido mundialmente como realismo fantástico –que ecoou sobretudo na América Latina no meio do século 20 e impulsionou nomes como Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, por exemplo.

Nos textos de Rubião, mágicos que tiram qualquer objeto do bolso, dragões que caminham por Minas Gerais e outras coisas consideradas absurdas são tratadas como absolutamente do dia a dia. E aí vem a pergunta: embora não pensados originalmente para crianças, por que não lançar esses contos em edições infantojuvenis? Afinal, livros para esse público trazem sempre, em certa medida, histórias absurdas contadas com aparente normalidade.

Foi o que a editora Positivo fez no ano passado, com três contos de Rubião, em edições infantis para serem lidas e guardadas por gerações. (Em tempo: transformar textos de autores clássicos não é inédito, vale lembrar; recentemente, o blog falou de textos de Drummond e Rubem Braga que se tornaram obras infantojuvenis).

Guardadas porque as ilustrações são feitas por nomes que estão no primeiro escalão da literatura feita no Brasil atualmente –precisos, os desenhos têm a capacidade de dar novas interpretações às histórias. Odilon Moraes dá vida e formas aquareladas a “Teleco, o Coelhinho” (um dos desenhos abre este texto). Marilda Castanha cria uma criatura gorda que parece saída de pinturas rupestres em “Bárbara”. E Nelson Cruz dá tons poéticos ao progresso e à burocracia de “O Edifício”.

Mas também porque cada edição é acompanhada de um prefácio, que explica um pouco da obra do autor e o próprio conto. Destaque para o texto do escritor Nelson de Oliveira, que fala especificamente sobre o tipo de texto sobre o qual Rubião se debruçou –mas que poderia servir muito bem para a literatura infantojuvenil:

“Preste atenção, todas as ficções fantásticas podem ser lidas de duas maneiras: figurada e literal. A leitura figurada verá na história do arranha-céu uma alegoria da condição humana, uma representação cheia de símbolos desejando ser desvendados. A literal, por sua vez, verá a história real de pessoas reais, porém de uma realidade muito mais fascinante que a nossa. […] Não existe a leitura certa e a errada, ambas são certas, você pode escolher sem medo.”

Conheça mais sobre os livros abaixo.

 

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CHEIO DE PERSONALIDADES

Teleco parece um coelhinho fofo, quase da Páscoa. Mas na verdade é temperamental e cheio de personalidades. Tantas que tem o poder de se transformar no bicho que bem entender: leão, porco-do-mato, girafa, pulga… Certo dia, quando vai viver na companhia de um ser humano, ele decide virar um canguru. E começa a dizer que é um homem de verdade, usar roupas humanas, lavar os dentes com a escova de seu companheiro de apartamento –até que leva uma mulher para morar com eles e despeja a gota d’água para melar a relação dos dois.

 

“Teleco, o Coelhinho” 

Autor Murilo Rubião

Ilustrador Odilon Moraes

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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HISTÓRIA SEM FIM

Para que servem os prédio? Talvez para sede de escritórios, para pessoas morarem ou para abrigar um hotel. E para que serviria o maior edifício do mundo, com andares incontáveis e tempo de construção que pode ultrapassar gerações? Esse é o desafio que Murilo Rubião impõe ao engenheiro João Gaspar no conto “O Edifício” –uma espécie de mistura de torre de Babel com uma investigação sobre o sentido das coisas e das sociedades.

 

“O Edifício”

Autor Murilo Rubião

Ilustrador Nelson Cruz

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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COMER SEM PARAR

Na novela “Saramandaia” (de 1976, com remake em 2013), a personagem Dona Redonda comia tanto, mas tanto, que perigava explodir. O mesmo acontece com a mulher do conto “Bárbara”. Só que, em vez de doces e outras guloseimas, ela devora coisas: uma garrafa com água do mar, um baobá e até um navio de cruzeiro. Insaciável, ela não para de fazer pedidos ao marido –apaixonado, ele também não para de satisfazê-la. Será que Bárbara também vai explodir?

 

“Bárbara”

Autor Murilo Rubião

Ilustradora Marilda Castanha

Editora Positivo

Preço R$ 39,80 (2016; 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 


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‘Não se fala sobre tristeza para crianças’, diz Odilon Moraes, que relança livros publicados na Cosac https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/04/nao-se-fala-sobre-tristeza-para-criancas-diz-odilon-moraes-que-relanca-livros-publicados-na-cosac/ https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/10/04/nao-se-fala-sobre-tristeza-para-criancas-diz-odilon-moraes-que-relanca-livros-publicados-na-cosac/#respond Tue, 04 Oct 2016 17:27:51 +0000 https://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/Odilon-180x98.jpg http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/?p=584 “A crise fez com que as editoras, principalmente as que publicam livros para crianças, repensassem a venda dos seus produtos. Antes, eles eram muito direcionados à escola –inclusive alguns temas de compras do governo estavam direcionando alguns catálogos, o que é péssimo. Agora as editoras precisarão pensar mais no livro que produzem para convencer não o governo a comprar, mas o leitor.”

Tentando fugir do clichê de que toda crise é também uma oportunidade, o autor e ilustrador Odilon Moraes diz que tenta ver algum lado positivo no momento que o mercado editorial está passando. Com o fechamento da Cosac Naify, em 2015, alguns de seus livros ficaram de uma hora para outra sem editora (a casa divulgou há poucas semanas que obras em estoque podem ser picotadas até o fim do ano, o que gerou revolta entre leitores). As três obras ilustradas autorais de Odilon que estavam na editora agora já têm novo lugar: serão publicados pela Jujuba.

“Pedro e Lua”, “A Princesinha Medrosa” e “O Presente” voltarão às livrarias nos próximos anos, mas não sozinhos –cada um será lançado na companhia de uma obra inédita, chegando às prateleiras de par em par. “Acho que não vai existir tão cedo uma editora como a Cosac. Cada livro surgia a partir de uma conversa muito íntima, eu sugeria o design, conversava com o produtor gráfico para decidir o tipo de papel, visitava a gráfica. Isso é algo muito difícil de acontecer em uma editora grande”, diz.

Previsto para março de 2017, o primeiro a ser relançado será “Pedro e Lua”, sobre a amizade entre um garoto fascinado pelo céu à noite e um jabuti que ele batiza de Lua. A história sairá junto ao inédito “Olavo” (ilustração acima), que também aborda um lado mais melancólico da infância.

“O livro ilustrado tem várias fontes de inspiração: uma imagem, uma frase. Vou colocando tudo em uma gaveta. Às vezes, eles se juntam e formam núcleos, que podem virar livros. Foi assim que surgiu a história do Olavo”, explica Odilon sobre o seu processo criativo.

Olavo é um menino triste que apareceu de dois fragmentos. “O primeiro foi um aforismo de Nietzsche que fala que o homem triste, quando recebe uma dose de felicidade, não está acostumado àquela sensação, que vira seu maior temor, por ter medo de perder aquilo que não lhe pertence. Anos depois, li um poema que dizia que muitas flores lutam para crescer, mas não conseguem. Mas aquela vontade de desabrochar pode povoar desertos.”

A partir daí, o autor criou a trama do menino que recebe um presente misterioso na porta de casa. Primeiro, ele sente alegria por não saber de onde aquilo veio. Mas depois tudo se inverte, ao achar aquele pacote não é para ele –tanto que não consegue nem abrir a surpresa.

“Existe uma dificuldade de falar sobre tristeza para crianças. No universo adulto, se você quer profundidade, precisa ser triste. Não existe espaço para a alegria, porque ela parece frivolidade. No mundo infantil, é o contrário. A tristeza deturpa a infância”, afirma.

A previsão é que sejam lançados dois livros por ano, um relançamento e um inédito. “Mas vai depender de como está o mercado, claro.”

 


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